Mulher com deficiência acusa Casacor de discriminação

Segundo a advogada Nathalia Blagevitch, a organização não ofereceu apoio e a expulsou da exposição após ela reclamar da falta de acessibilidade do espaço

  • Por Jovem Pan
  • 25/10/2021 06h38 - Atualizado em 25/10/2021 11h35
Reprodução/Facebook/Nathalia Blagevitch Advogada Nathalia Blagevitch A advogada Nathalia Blagevitch afirma que a Casacor a expulsou da mostra no último final de semana, após ela reclamar da falta de acessibilidade do espaço

Uma mulher com deficiência, a advogada Nathalia Blagevitch, de 30 anos, afirmou que foi expulsa da mostra de arquitetura e decoração da Casacor em São Paulo no último final de semana após reclamar da falta de acessibilidade do local e pedir o dinheiro da entrada de volta. Nathalia tem paralisia cerebral e estava em cadeira de rodas motorizada. Sem conseguir ver nem um terço da exposição, a advogada chegou a perguntar se alguém da organização poderia carregá-la para acessar os demais andares da mostra, que era realizada em um anexo do Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo. A opção foi negada e ela não teve o dinheiro devolvido. “Dos seis a sete andares da mostra, eu só consegui visitar um. Eu acabei comprando minha entrada de R$ 50, uma para mim e uma para o meu acompanhante”. Em nota, a Casacor disse que repudia qualquer ato discriminatório e que ministra treinamento aos funcionários, bem como aos seus terceirizados, enfatizando sempre os protocolos internos de conduta e responsabilidade no trato com os visitantes. O texto diz ainda que, em nenhum momento, a visitante foi expulsa do local. Mas Nathalia confronta: “Na versão que eles estão apresentando, que eles deram um pedido de retratação, fala que a bombeira me conduziu e que se dispôs a ir comigo até o carro. Não houve essa disposição. Ela só me conduziu para fora da mostra”. Ainda em nota, a organização afirma que a Casacor é uma mostra 100% acessível e o procedimento é adotado desde 2016. No entanto, a advogada rebate e diz que já teve outro problemas desse tipo com a organização: “O que me revolta é que a Casacor se diz uma mostra acessível, que desde 2016 se preocupam com isso, eu já tive problema na Casacor, na edição do Jockey. Também era só degrau, sem acessibilidade. Já tive problema em evento no Allianz”. Segundo a advogada, a falta de acessibilidade é comum em feiras e eventos, mas os espaços costumam sempre tentar contornar o problema e ela nunca havia sido colocada para fora.

Confira a nota da Casacor na íntegra:

A Casacor São Paulo reforça que repudia qualquer ato discriminatório e que ministra treinamentos aos funcionários, bem como aos seus terceirizados, enfatizando sempre os protocolos internos de conduta e responsabilidade no trato com seus visitantes. Com relação ao episódio relatado pela visitante Nathalia Blagevitch Fernandez durante sua visita neste sábado, dia 23 de outubro, a Casacor informa que o prédio onde ocorre a mostra, no Allianz Parque, passou por atividades de manutenção preventiva programada nas subestações, para garantir a máxima qualidade e segurança no fornecimento de energia. No decorrer das atividades da mostra, houve uma situação de força maior e o fornecimento de energia teve de ser interrompido por algumas horas, impactando diretamente nos elevadores que dão acesso à mostra e a todos os andares do estacionamento.

O procedimento adotado pela Casacor foi o de avisar a todos os visitantes sobre o problema, oferecendo ressarcimento ou remarcação da visita em outras datas e horários. Para acomodar e atender aos visitantes que não poderiam retornar e gostariam de seguir com a visita mesmo com a limitação do uso de elevadores de acesso, a organização ofereceu, em caráter de exceção, acesso pelo elevador de carga, único equipamento não afetado pela queda de energia. Os visitantes que optaram por seguir com a visita, foram encaminhados para o elevador e monitorados pelo chefe de segurança da mostra até o rooftop (sétimo andar, local onde tem início o circuito interno de Casacor). O acesso ao sexto andar (onde continua e se encerra o passeio) seria feito pelas escadas, que fazem parte do roteiro e por onde os visitantes poderiam seguir com a visitação completa.

No caso de Nathalia, no entanto, no qual o uso do elevador era essencial para acesso, o mesmo não foi possível, nem pelo elevador de carga, já que o caminho era alternativo e não comportava corretamente a scooter elétrica de propriedade da visitante. A opção de carregá-la no colo não foi considerada por fatores de segurança. A partir desse momento, a equipe Casacor reforçou com a visitante que ela poderia solicitar ressarcimento ou reagendar a visita. Ao chegar no piso térreo, Nathalia se dirigiu até a bilheteria, como indicado pela equipe, para explicação do procedimento de estorno do valor de ingresso pela operadora de cartão de crédito. Nesse momento, a visitante comunica que a polícia seria acionada por conta da questão de acessibilidade.

A equipe Casacor acompanhou Nathalia durante a chamada da Polícia Militar e solicitou que ela aguardasse a chegada da viatura em local de sua escolha. A visitante, após a ligação, decidiu ir embora, sendo acompanhada pela equipe brigadista durante todo o trajeto até a saída da mostra, feita por um túnel (instalação artística). A equipe se ofereceu para acompanhá-la até seu carro (estacionado em shopping vizinho), o que a visitante recusou. A Casacor reforça que em nenhum momento a visitante foi expulsa do local, como afirmado em reportagem sobre o caso, e que toda sua visitação foi acompanhada pela organização e equipe brigadista, procedimento padrão adotado em todas as visitas de pessoas com deficiência.

A mostra informa, ainda, que está em contato direto com Nathalia para apurar a suposta má conduta por parte de membro da organização, para que as medidas administrativas cabíveis sejam tomadas. Toda a visita de Nathalia foi registrada pelas câmeras de segurança do local e estão disponíveis para apuração total do caso. Com o funcionamento normal dos elevadores, a Casacor São Paulo é uma mostra 100% acessível, procedimento adotado desde 2016. O evento é totalmente preparado para receptivo não apenas de pessoas com deficiência, mas de idosos e famílias com crianças pequenas, que acessem os ambientes com carrinhos. A mostra conta com rampas de acesso em todos os ambientes; disponibiliza na recepção duas motos elétricas e 2 cadeiras de rodas para os visitantes; 3 elevadores exclusivos para acesso à mostra; 3 elevadores exclusivos para acesso a estacionamento, 1 elevador para PcD no sexto andar, para acesso aos pisos do circuito. Há ainda quatro banheiros, todos unissex e com cabine exclusiva e equipada para PcD, distribuídos em todos os andares do circuito. Toda a equipe Casacor é treinada e orientada para atender a qualquer necessidade dos visitantes, em todas as situações, prezando sempre pelos pilares de sustentabilidade e acessibilidade e inclusão.

*Com informações da repórter Juliana Tahamtani

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