O dilema da cidade de São Paulo: lixo ou árvores?

Com proposta de derrubar 10 mil árvores da Mata Atlântica para ampliar aterro sanitário, a capital paulista enfrenta críticas e desafios em busca de soluções sustentáveis

  • Por Patrícia Costa
  • 28/11/2024 17h39
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Adriana Mattoso/SMA Imagem da montanhas cobertas de mata atlântica Entre as árvores ameaçadas, estão 981 espécies nativas da Mata Atlântica, em uma área que também abriga a nascente do Rio Aricanduva

São Paulo, a maior metrópole do Brasil, enfrenta um dilema que expõe a crise da gestão de resíduos sólidos no país. A Prefeitura propôs à Câmara Municipal um projeto de lei para derrubar 10 mil árvores em São Mateus, Zona Leste, com o objetivo de ampliar o aterro sanitário da região. Entre as árvores ameaçadas, estão 981 espécies nativas da Mata Atlântica, em uma área que também abriga a nascente do Rio Aricanduva. O projeto já foi aprovado em primeira votação e deve passar por nova análise nas próximas semanas. Para justificar a medida, a Prefeitura argumenta que o aumento da capacidade do aterro é essencial para atender a crescente geração de resíduos. A Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente já concedeu licença ambiental para a obra, com a condição de plantio compensatório de 10.147 mudas.

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Críticos do projeto alertam para o impacto irreversível dessa decisão. A Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do Brasil, desempenha um papel importante no equilíbrio climático, na purificação do ar e no abastecimento hídrico. Além disso, a derrubada de árvores pode agravar problemas como enchentes e ilhas de calor, comuns em São Paulo. Outro ponto controverso é a proposta de construção de um incinerador no local. Moradores e ambientalistas apontam que essa solução pode liberar gases tóxicos, piorando a qualidade do ar e afetando a saúde da população. Decisão que ignora o potencial de alternativas como reciclagem, compostagem e tecnologia de aproveitamento energético de resíduos

Um problema nacional

A situação em São Paulo reflete um problema maior. Segundo o IBGE, 31,9% dos municípios brasileiros ainda utilizam lixões a céu aberto, uma prática que causa poluição do solo, contaminação de aquíferos e emissões de gases de efeito estufa. Apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada há mais de uma década, avanços concretos são escassos. Em outros países, soluções inovadoras mostram que é possível transformar resíduos em recursos. Usinas de reciclagem e compostagem, além de tecnologias para geração de energia a partir do lixo, são realidades em várias nações. No Brasil, porém, essas iniciativas ainda caminham devagar, limitadas por falta de investimentos e políticas públicas mais robustas.

Soluções para um futuro sustentável

Especialistas sugerem que São Paulo poderia adotar modelos mais sustentáveis para evitar decisões drásticas como a derrubada de árvores. Um sistema integrado de gestão de resíduos, que priorize redução, reaproveitamento e reciclagem, é apontado como o caminho ideal. Além disso, iniciativas de compostagem e geração de energia podem diminuir o volume de resíduos enviados aos aterros. Por fim, a preservação de áreas verdes urbanas não deve ser vista como um entrave, mas como parte essencial de uma cidade que busca equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. São Paulo tem a chance de liderar um movimento de transformação, mostrando que é possível lidar com resíduos de forma eficiente sem comprometer o meio ambiente. A decisão que será tomada em breve pela Câmara Municipal não é apenas sobre árvores, mas sobre o modelo de cidade que queremos para o futuro.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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