Farra da comitiva brasileira em Nova York foi quase um pancadão

Queiroga pegou o vírus e isso pode acontecer com qualquer um, mas tudo parece ter sido uma grande brincadeira, já que a comitiva brasileira foi a maior da história e ninguém tinha agenda a cumprir

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 23/09/2021 12h12 - Atualizado em 23/09/2021 12h29
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EFE/EPA/JOHN MINCHILLO / POOL Jair e Michelle Bolsonaro chegando na Assembleia Geral da ONU A primeira-dama Michelle Bolsonaro acompanhou o presidente na comitiva brasileira para a Assembleia-Geral da ONU

Quase igual a um pancadão. Não podia dar certo aquela farra de comer pizza numa esquina de Nova York em meio a muita risada. Não podia. País sério, que se preze, defende uma conduta responsável. Especialmente quando esse comportamento está mostrando a cara de uma nação. Era um bando ali numa esquina. E no meio do bando, o presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro. Bem que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, gravou um vídeo sobre a Assembleia Geral da ONU com palavras incisivas: “Comunicamos aos participantes, especialmente ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que quem não estiver imunizado da Covid que não venha!”. O prefeito particularizou o nome de Bolsonaro. Mas alguém ligou para isso? Resultado dessa inconsequência: toda a comitiva brasileira que foi à Nova York está em quarentena no Brasil, incluindo o presidente Jair Messias Bolsonaro.

Particularmente, eu acho que o presidente devia ignorar essa determinação da Anvisa e sair para o Palácio do Planalto sem máscara e sentar-se confortável em sua cadeira de presidente da República. Devia ser coerente com ele mesmo. Seguir o que pensa e o que determina o seu comportamento de ignorar a doença, a vacina, a máscara, os cuidados. Acho mais: toda a comitiva brasileira que foi a Nova York que está em quarentena no Brasil devia se tratar com cloroquina, tomar de manhã, à tarde, à noite e às 3 horas da madrugada. Todo mundo. O isolamento é de 14 dias, segundo a Anvisa, seguindo o Guia de Vigilância Epidemiológica para a Covid-19. Mas depois do quinto dia, todos serão examinados para uma avaliação. O ministro servil da Saúde, médico Marcelo Queiroga, aquele que mostrou o dedo do meio a alguns manifestantes, está em isolamento no hotel em Nova York. Não poderá sair do quarto nem para olhar o corredor. Quem sabe em filminhos podem acalmar os ânimos.

O problema é que Queiroga é um médico que, tudo indica, esqueceu seu juramento e se entregou a esse trabalho que nega a própria ciência. Serve a dois senhores e vai levando seu barquinho pelo mar revolto do governo brasileiro. Agora “sifu”. Está lá em Nova York  maldizendo seu destino. O problema é sério. O ministro servil esteve com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Ocorre que Boris Johnson esteve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Está todo mundo avisado e fazendo exame toda hora. Não podia dar certo mesmo. Além do vexame do discurso do presidente, em que tornou internacional o tratamento precoce, o Brasil está em todos os jornais do mundo com manchetes depreciativas. Está certo, o Queiroga pegou o vírus e isso pode acontecer com qualquer um, infelizmente. Ocorre que tudo parece ter sido uma grande brincadeira. A comitiva brasileira foi a maior da história – incluindo a primeira dama, Michelle e um filho – e ninguém tinha agenda a cumprir. Só Bolsonaro ia fazer o seu discurso. A comitiva brasileira chegou a Brasília às 17 horas desta quarta-feira, 22. O presidente Bolsonaro foi direto para o Palácio da Alvorada, onde mora, e não pretende sair de lá.

Para se ter uma ideia do clima na comitiva brasileira que foi passear em Nova York, basta dizer o seguinte: o filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro, participou de um programa de televisão americana e decidiu respondeu ao prefeito de Nova York, que recomendou que os não vacinados não fossem à Assembleia Geral da ONU. Durante o programa Tucker Carlson Tonight, da Fox News, Eduardo Bolsonaro foi questionado se o presidente brasileiro pensou em desistir da viagem em razão do pronunciamento do prefeito nova-iorquino. Eduardo Bolsonaro respondeu que não e que “as pessoas de esquerda querem controlar tudo”. Disse ainda que Bill de Blasio é “marxista”. Mas o pior é que a frase que disse é a seguinte: “Eu sei que Blasio é “marxista” que segue muito o Antonio Gramsci”. (Convirá dizer a Eduardo Bolsonaro que Marx foi um sociólogo alemão e que Gramsci foi um filósofo italiano.) Mas, tudo isso não podia dar certo mesmo. Comer pizza numa esquina, almoçar numa churrascaria que fez um “puxadinho” para quebrar o galho, porque Bolsonaro não podia entrar no restaurante por não ser vacinado contra a Covid-19, essas coisas difíceis de acreditar. Não dá para levar a sério uma gente assim. Resta-nos aquela emoção universal e primitiva chamada vergonha. Os aduladores talvez digam que foi um grande espetáculo.

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