Primeiros passos de Benito Mussolini no cinema de Hollywood são revelados
Roma, 14 out (EFE).- Benito Mussolini, o ditador italiano que soube compreender o poder que o cinema tinha como ferramenta de propaganda, também entrou na grande tela como ator em Hollywood, como comprova “The Eternal City”, filme de 28 minutos recém descoberto em Nova York.
Foi a professora e pesquisadora do cinema italiano Giuliana Muscio que encontrou a película, produzida por Sam Goldwyn em 1923 e que até agora permanecia no Museu de Arte Moderna de Nova York sem que ninguém soubesse de sua existência.
“O filme estava no MoMa, mas ninguém, nem mesmo os responsáveis do museu, tinha compreendido de que se tratava. Era um filme perdido”, explicou Muscio em entrevista à Agência Efe.
Pesquisadora e amante da sétima arte, a professora da Universidade de Pádua confessou que se sentiu instigada por arquivos e textos que falavam deste filme que permanecia até hoje inédito.
“Tinha minhas suspeitas de que poderia estar no MoMa, e ao investigar encontrei este fragmento”, disse.
O resultado são dois rolos de 28 minutos de duração que mostram a primeira aparição do Duce no cinema como protagonista de um filme de ficção.
“Trata-se de um fato sem precedentes que exigirá que a história do cinema se reescreva, porque até agora os livros falavam de Mussolini e da propaganda ou dos noticiários, mas ninguém sabia de sua faceta como ator”, ressaltou.
O filme foi rodado um ano depois da grande Marcha sobre Roma, a entrada na capital italiana liderada por Mussolini em 1922 com a qual, apoiado pelos camisas negras, iniciou sua trajetória de ascensão ao poder.
Muscio contou que o afã do cinema hollywoodiano para ampliar suas fronteiras e chegar a um público internacional pode ter sido uma das razões que fizeram os estúdios se interessar por Mussolini.
Segundo a pesquisadora, o filme “permitiu ao regime fascista se aproveitar de uma produção americana para levar sua mensagem além da Itália, algo que um filme italiano não teria conseguido”.
“The Eternal City” é a adaptação do romance homônimo do escritor Thomas Henry Hall Caine, que já tinha sido levada para o teatro e o cinema. A versão protagonizada por Mussolini é uma adaptação livre em que o fascismo era mostrado como o grande salvador do mundo.
O filme conta a história de David Rossi (Bert Lytell) e Roma (Barbara LaMarr), dois jovens criados juntos que se prometem amor eterno, mas que tem romance interrompido quando o idealista David decide se alistar para combater na guerra.
Durante sua ausência, Roma se transforma em uma famosa escultora com a ajuda econômica de Bonelli (Lionel Barrymore), que tem o desejo secreto de se transformar no líder do Partido Comunista e em ditador da Itália.
Esse sonho é frustrado por David, tenente e braço direito de Mussolini, que o mata.
O filme termina com o triunfo do fascismo e a assinatura de um documento no qual Mussolini liberta o patriota David Rossi e o permite continuar a história de amor interrompida com Roma.
“O intenso abraço que os dois jovens protagonizam” convida o espectador a compreender que Mussolini é o grande líder que o mundo precisa.
“Mussolini participa ativamente como personagem do filme”, contou a pesquisadora italiana, antes de acrescentar que o ditador estava “muito satisfeito pelo caráter fascista do filme, como escreveu o então cinegrafista Arthur Miller em um de seus artigos”.
Nestes textos Miller elogiava a disposição e a personalidade fácil de lidar do Duce, que “falava em inglês muito lentamente” e que não tinha problema em se deixar fotografar com a equipe de filmagem.
O filme foi apresentado nas Jornadas do Cinema Mudo de Pordenone, no nordeste da Itália, e será conservado no MoMa até que “alguma cinemateca italiana se interesse em restaurá-lo e editá-lo em formato digital”, concluiu Muscio. EFE
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