Liverpool se rende a “mistura brasileira” em festival-homenagem aos Beatles

  • Por Agencia EFE
  • 26/08/2014 16h42

Liverpool, 26 ago (EFE).- A mescla de elementos regionais ao rock faz sucesso no Brasil há um bom tempo e finalmente parece conquistar cada vez mais espaço no exterior, como ficou em evidência na edição deste ano do International Beatleweek, festival que reuniu artistas e fãs dos Beatles de mais de 40 países, nesta semana, em Liverpool.

Os músicos brasileiros que cruzaram o Atlântico para se apresentar na cidade natal de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr voltarão para casa com a sensação de que foram os donos da maior festa em celebração à obra dos Beatles.

Tudo graças a muito talento e a uma dose precisa de criatividade. Enquanto a maioria dos artistas busca imitar com perfeição cada acorde dos clássicos dos Fab Four – ao mesmo tempo em que torce para que sua peruca de um beatle não saia do lugar -, os brasileiros optam por uma nova roupagem para músicas com quase meio século de vida.

A aposta é arriscada num universo em que cada som produzido pelos “rapazes de Liverpool” é tratado como sagrado, mas que tem se mostrado decisivo para a valorização dos artistas tupiniquins e, principalmente, do festival como um todo.

“Os artistas brasileiros são apaixonados pela obra dos Beatles e têm uma importância cada vez maior para o Beatleweek. É uma parceria que tem tudo para se fortalecer ainda mais no futuro”, afirma o empresário Bill Heckle, proprietário do Cavern City Tours, responsável pela organização do festival.

Com 20 participações consecutivas no Beatleweek, os capixabas do Clube Big Beatles foram os primeiros a criar novas receitas com as consagradas composições de John, Paul, George e Ringo. A resistência inicial foi vencida, e o público acabou conquistado por versões que passeiam da bossa nova, em “Eleanor Rigby”, a uma espécie de chorinho melancólico, com a versão instrumental de “A Day in the Life”.

“Nossa preocupação nunca foi nos parecer fisicamente com os Beatles ou em fazer igual aos discos que eles gravaram. A música é deles, mas queremos que nossa personalidade também esteja perceptível para quem vai a nossos shows”, disse o percussionista Edu Henning, fundador do Big Beatles.

Outro diferencial dos capixabas foi a iniciativa de levar nomes consagrados da música brasileira a Liverpool, estreitando ainda mais este laço entre o trabalho artístico realizado dos dois lados do Atlântico. Neste ano, Ivan Lins fez sete shows acompanhando o Big Beatles no festival e acabou homenageado com um tijolo no Muro da Fama do Cavern Club, onde os Fab Four foram descobertos.

“Foi algo indescritível. Pude me redescobrir como beatlemaníaco e ainda tive a honra de receber um dos prêmios mais importantes e significativos da minha carreira”, declarou o músico, vencedor de oito estatuetas do Grammy.

A dupla mineira Gleison Túlio e Keilla Jovi é tratada como celebridade pelas ruas de Liverpool. Com uma guitarra, um contrabaixo e muito talento, os dois fazem do experimentalismo a receita para conquistar os boquiabertos espectadores de suas apresentações.

“Eles são dois dos mais criativos músicos que vi na vida e estão entre os meus favoritos a se apresentar no festival em todos os tempos. Não há como descrevê-los em palavras”, diz Bill Heckle.

Ao ritmo de baião e com direito até a um casamento no palco do Cavern Club que teve um sósia de Ringo Starr como mestre de cerimônia, a Calangles Rock Band, de Niterói, também deixou uma forte impressão em sua primeira passagem por Liverpool. Dentro e fora dos palcos, já que o grupo ainda conquistou uma “Copa do Mundo” de futebol society organizada pelo festival entre os artistas.

O desempenho de destaque tem se mostrado importante também para os organizadores do Beatleweek. Nos últimos anos, a presença de visitantes brasileiros no festival disparou, aquecendo ainda mais o turismo na cidade inglesa.

“Há algum tempo tínhamos bandas do Brasil, mas nos últimos anos temos uma presença muito forte também dos fãs brasileiros, pessoas que viajam até o festival apenas para curtir a música dos Beatles e passear pela cidade onde eles nasceram”, destaca Jon Keats, gerente de eventos do Cavern Club.

O brasileiro costuma se orgulhar do jeito diferente com que enxerga o mundo. Para um seleto grupo de inspirados músicos, esta visão única está colorindo cada vez mais de verde e amarelo uma festa nascida numa cidade cinza. E todos parecem ganhar com isso. EFE

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