Beji Caid Essebsi, o homem que soube dizer “não” às ditaduras na Tunísia

  • Por Agencia EFE
  • 21/11/2014 16h01

Miguel Albarracín.

Túnis, 21 nov (EFE).- O favorito nas pesquisas para ganhar as eleições presidenciais da Tunísia, Beji Caid Essebsi, de 88 anos, aparece como o único capaz de tirar o país da crise, por sua grande trajetória política, após ter sabido romper duas ditaduras.

Nascido em 29 de novembro de 1926 em uma família da burguesia ilustrada que fez fortuna, Essebsi começou na política como membro ativo da resistência contra o protetorado francês enquanto terminava seus estudos de Direito em Paris, com uma aura de lutador anticolonialista que sempre foi um “plus” no Magrebe.

Com a independência, em março de 1956, o jovem advogado ocupou vários postos: representante do presidente, Habib Bourguiba; responsável por várias áreas no Ministério do Interior até chegar a diretor da segurança nacional e a ministro do Interior em 1967 e, em 1969, Ministro da Defesa.

No início da década de 1970, a crise política que o sistema de partido único instaurado por Burguiba atravessava, devido ao fracasso econômico de uma política de coletivização socialista das terras agrícolas, fez muitos acreditarem que significaria o fim do monopartidarismo.

No entanto, Burguiba se negou a uma abertura e Essebsi criticou o partido Neodestur, rejeitou o posto de embaixador na França, abandonou sua carreira política e passou a exercer a advocacia.

Uma década depois, os ares de mudança que pareciam prometer democracia, na época do primeiro-ministro Mohammed Mazali, devolveram Essebsi à política e durante seis anos (1981-1987) foi ministro das Relações Exteriores.

O favorito a ganhar as eleições deste domingo não se filiou ao Neodestur até que o golpe de Estado de Zine al Abedíne Ben Ali em 1987 o transformou no partido Agrupamento Constitucional Democrática (RCD).

Essebsi, que como muitos tunisianos pensava que o RCD buscava a democracia, foi eleito deputado em 1989 e presidente do parlamento entre 1990 e 1991, quando, pela segunda vez em sua vida, voltou a abandonar a política ao vislumbrar a virada ditatorial do regime de Ben Ali.

Durante 20 anos desapareceu da vida pública até que as primeiras revoltas da “Primavera Árabe”, que acabaram com o regime de Ben Ali em 2011, o devolveram à primeira linha do conturbado cenário político tunisiano com o início de uma transição democrática.

Após a queda do governo do longevo primeiro-ministro de Ben Ali, Mohammed Ganuchi, pela pressão das ruas ocupadas por milhares de jovens, Essebsi liderou o Executivo de 27 de fevereiro até 24 de dezembro de 2011, quando foi substituído pelo primeiro-ministro islamita, Hamadi Jabali.

Nesses meses de “revolução” Essebsi se encarregou de organizar as primeiras eleições democráticas, transparentes e livres de Tunísia, de onde saiu uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC) que deveria redigir uma nova Constituição em um período que se prolongou até 27 de janeiro, quando foi adotada.

Após deixar a chefia do governo, Essebsi anunciou a criação de um partido político para possibilitar uma alternância democrática aos islamitas do Al-Nahda, que tinham ganhado as eleições para a Constituinte: assim nasceu Nidá Tunis (Chamada pela Tunísia) em julho de 2012.

O partido se tornou rapidamente a ponta de lança dos laicos contra os islamitas e começou a pedir “a inclusão de todos os tunisianos”, uma referência nada sutil a toda a classe que tinha colaborado de um modo ou outro com Ben Ali e à qual uma lei de “proteção da revolução” pensava em excluir.

Quando o Al-Nahda, superado pela violência política e pela crise econômica galopante, teve que deixar o governo para dar espaço para um gabinete tecnocrata, Essebsi já estava lançado à primeira linha e foi eleito candidato presidencial por seu partido.

Prestes a completar 89 anos, o presidente do Nidá Tunis conseguiu que seu partido, com apenas dois anos de vida, ganhasse as eleições legislativas de 26 de outubro ao conquistar 85 das 217 cadeiras , deixando os islamitas do Al-Nahda em segundo lugar. EFE

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