Para analistas, crise com Romero Jucá joga incerteza sobre futuro do governo

  • Por Estadão Conteúdo
  • 24/05/2016 09h22
José Cruz/ABr - 12/06/2010 Romero Jucá e Michel Temer

A primeira grande crise política do governo Michel Temer, que culminou no pedido de licença do ministro do Planejamento, Romero Jucá, teve reflexo direto no mercado financeiro, na última segunda-feira (23). O dólar fechou em alta de 1,41%, cotado a R$ 3,5732. A Bolsa recuou 0,79%, fechando aos 49.330 pontos, sendo a quinta queda consecutiva. O risco Brasil, medido pelo CDS (credit default swap, uma espécie de seguro contra o calote de um país), subiu 5%, ou 17 pontos-base, chegando a 362,5 pontos.

Para a consultoria de risco político Eurasia, que tem sede em Washington, o vazamento do áudio de conversa de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado não deve reduzir a capacidade do presidente em exercício, Michel Temer, de avançar com a agenda de reformas no Congresso, mas mostra o potencial de risco que a Operação Lava Jato representa para a nova gestão. No áudio, revelado pela Folha de S. Paulo, Jucá diz a Machado que é preciso mudar o governo para “estancar a sangria”, referindo-se aos desdobramentos da Lava Jato. 

Em um relatório, João Augusto de Castro Neves e Cameron Combs, analistas da Eurasia, dizem que o vazamento representa o potencial primeiro escândalo da gestão Temer. “A Lava Jato permanece muito viva e constitui um risco-chave para o novo governo.”

Para a consultoria, a propensão a investigar da força-tarefa montada em Curitiba não deve diminuir com o afastamento da presidente Dilma Rousseff e pode seguir complicando a percepção que os brasileiros têm do governo Temer. “Com um número de membros seniores do PMDB potencialmente implicados no escândalo, Temer enfrenta o risco real de que sua administração não seja percebida como uma solução para a crise política e econômica, mas uma continuação dela.”

Volatilidade

Para operadores do mercado financeiro, a instabilidade política deve continuar a ser uma fonte de volatilidade. “Há um pouco de incerteza sobre o que pode vir pela frente, até com a possibilidade de mais políticos serem envolvidos na Lava Jato. Este mal-estar com Jucá acaba fazendo o mercado se proteger, comprando dólar”, disse José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora. “O mercado começou a achar que essa crise pode dificultar os ajustes necessários.”

“O problema com o ex-senador criou um mal-estar e o mercado usa isso como motivo para operar. Mas o fato é que não chega a ser algo novo. Todo mundo sabe que, neste governo, não tem santo”, disse Sidney Nehme, economista da NGO Corretora, que chamou a atenção também para a nova proposta de meta fiscal do governo para 2016, prevendo um déficit de R$ 170,5 bilhões. “Um País que tem R$ 170,5 bilhões de déficit fiscal pode ter o dólar insensível a isso? Este ano precisa ser mesmo de mais desvalorização cambial”, defendeu. “A saída para o Brasil está no dólar, está nas exportações.”

Para João Paulo de Gracia Correa, superintendente regional de câmbio na SLW Corretora, a grande dificuldade do presidente em exercício é evitar seguir o caminho trilhado pela gestão anterior. “Ele não pode passar por um processo de impeachment ou manter a linha do antigo governo”, afirmou. “Tem de mudar, ter mais transparência e evitar colocar no governo pessoas envolvidas em quaiquer irregularidades.”, completa.

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