“Crise passa pela dívida das famílias e empresas”, diz economista Carlos Kawall

  • Por Estadão Conteúdo
  • 01/12/2016 09h34
Fotos Públicas Dinheiro Bolso - Fotos Públicas

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, diz que o PIB do terceiro trimestre confirma que o Brasil vive uma “recessão de balanço”. Para ele, o País não está numa crise só de confiança, mas também de fundamentos. “E o fundamento não é só o fiscal, mas também a questão do endividamento das empresas e famílias”, diz.

Como o senhor viu o PIB do terceiro trimestre, com queda de 0,8% ante o segundo trimestre? 

Não deve mudar substancialmente a maneira como as pessoas estavam olhando a economia. Nossa previsão era de -0,9%. Veio ligeiramente melhor, com uma surpresa no dado de consumo das famílias, que foi um pouco menos negativo do que imaginávamos.

É um sinal positivo? 

Não altera o quadro. O consumo continua caindo há sete trimestres. A formação bruta de capital fixo (FBCF, a taxa de investimentos), que depois de dez trimestres de queda teve uma pequena alta de 0,5% no segundo trimestre deste ano, voltou a ter queda muito expressiva de 3,1% no terceiro trimestre (na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior). É um contexto ainda claro de queda do investimento como proporção do PIB.

O que estes números sinalizam para o desempenho da economia daqui para a frente?

Nossa projeção para o quarto trimestre é de -0,2%. Os números reforçam nossa projeção de queda do PIB em torno de 3,5% este ano. Os que acreditavam numa recuperação mais rápida, particularmente baseada no investimento, agora provavelmente vão rever para baixo suas previsões do PIB em 2017, se já não o fizeram. 

Qual a sua previsão para 2017? 

Nós, no Safra, estamos desde maio com uma projeção de 0,5% para 2017, por causa do nosso diagnóstico ligado à difícil situação financeira das empresas. Hoje, nossa projeção tem viés de baixa, projeções de modelos indicam que pode ser até pior. Não estamos numa crise só de confiança, mas também de fundamentos. E o fundamento não é só o fiscal, mas também a questão do endividamento das empresas e das famílias. Estamos vivendo o que os americanos chamam de “recessão de balanço”, que tem como característica uma saída mais lenta, como mostram os números de hoje (quarta-feira, 30). O otimismo sobre uma recuperação mais rápida tinha dois motivos: a melhora da confiança, parte necessária, mas não suficiente, da retomada; e o fato de que o nível de estoques vinha se ajustando à demanda, o que poderia levar à sua recomposição.

A confiança não bastou? 

É evidente a importância das reformas. Mas a confiança não poderia gerar por si só uma retomada sem o saneamento dos balanços das empresas e das famílias, que estão em processo de desalavancagem, de tentar reduzir o endividamento por conta da queda nos lucros e na renda. Isto significa poupar mais e gastar e investir menos. 

E em relação aos estoques? 

Da mesma forma, não faz sentido recompor estoques, porque uma das maneiras de desalavancar e proteger o fluxo de caixa é exatamente ter o menor estoque possível.

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