Derrota conservadora em Alberta desperta temor no governo canadense

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2015 15h27

Julio César Rivas.

Toronto (Canadá), 6 mai (EFE).- O Canadá está digerindo nesta quarta-feira a ampla e histórica vitória da esquerda nas eleições provinciais do coração petrolífero do país, Alberta, e as implicações disso para as esperanças eleitorais do primeiro-ministro canadense, o conservador Stephen Harper.

Segundo os resultados divulgados hoje, o socialdemocrata Novo Partido Democrático (NPD) ganhou as eleições provinciais realizadas ontem em Alberta ao conquistar 53 das 87 cadeiras do parlamento regional, à frente do ultraconservador Partido Wildrose, com 21 cadeiras, e o Partido Conservador, com 10.

A vitória do NPD, capitaneado pela praticamente desconhecida Rachel Notley, sacudiu o mundo político de Alberta, o centro da poderosa indústria petrolífera do país, e de todo o Canadá até a medula.

O ministro da Justiça do Canadá, Peter MacKay, resumiu hoje o sentimento existente na reunião semanal dos deputados federais do Partido Conservador do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, “como um funeral”.

O desgosto entre os conservadores de Harper é compreensível. Nos últimos 43 anos, Alberta, a província mais conservadora do Canadá e que muitos consideram o “cinturão da Bíblia” do país, em referência à região ultraconservadora dos Estados Unidos, tinha sido governada ininterruptamente pelo Partido Conservador, e nunca em sua história pelo social-democrata NPD.

A simples ideia de que os conservadores pudessem perder o poder em Alberta era tão remota que o chefe do governo provincial surrado ontem nas urnas, Jim Prentice, convocou eleições antecipadas pouco após praticamente aniquilar o principal partido da oposição, Wildrose.

No final do ano passado, Prentice convenceu 11 dos 17 deputados do Wildrose, inclusive sua líder, Danielle Smith, a deixarem o partido e a se unirem aos conservadores.

Com 72 das 87 cadeiras do parlamento provincial e com a oposição em debandada, Prentice convocou em fevereiro eleições antecipadas seguindo o esquema que durante décadas o Partido Conservador de Alberta tinha se utilizado para se garantir no governo.

Mas os conservadores não levaram em conta o cansaço do eleitorado com a chamada “dinastia de Alberta”, especialmente porque, mesmo após 43 anos no poder conduzindo uma das três maiores reservas petrolíferas do mundo, a província mais rica do Canadá tem um enorme buraco fiscal.

Só este ano, segundo os números do governo conservador, Alberta terá um déficit de 5 bilhões de dólares canadenses (R$ 12,66 bilhões), que se somam aos cerca de 12,5 bilhões de dívida acumulados, valores considerados absurdos para um a região que produz dois milhões de barris de petróleo por dia.

Em comparação, a Venezuela produz 2,5 milhões de barris de petróleo por dia.

A vitória social-democrata em Alberta foi recebida na Bolsa de Valores de Toronto, uma das mais importantes do mundo para o setor energético, em baixa e com “temor”, segundo um analista.

A plataforma eleitoral do NPD inclui revisar para cima os pagamentos de royalties que as empresas petrolíferas realizam à província e uma alta do imposto às sociedades.

Mas hoje, pouco após sua vitória nas urnas, Notley, a primeira-ministra eleita de Alberta, telefonou para os executivos das principais companhias petrolíferas que operam na província para dizer que “tudo vai ser normal aqui”.

Para quem a situação não é normal é para Harper, que demorou várias horas a digerir e reagir à vitória social-democrata na província, mas que finalmente emitiu um comunicado “felicitando” Notley e o NPD.

A grande pergunta que Harper e o resto dos conservadores está se fazendo hoje é se a insólita vitória do NPD em Alberta pode se expandir para o resto do país.

Harper deve convocar eleições gerais em outubro e, após quase dez anos no poder com políticas semelhantes às do Partido Conservador em Alberta, as pesquisas apontam que terá dificuldades para renovar seu mandato. EFE

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