Entenda o que levou o euro a ficar em paridade com o dólar e veja previsões para as moedas

Dinheiro dos Estados Unidos é considerado como refúgio seguro em tempos de crise econômica

  • Por Luis Filipe Santos
  • 12/07/2022 16h09
Denis Charlet / AFP Notas de dólar e euro espalhadas sobre uma mesa Euro normalmente tem cotação acima da do dólar e sua inflação está em alta

O euro caiu até atingir o mesmo valor do dólar pela primeira vez desde que foi lançado nesta terça, 12, e chegou a ter cotação menor que a da moeda norte-americana, valendo US$ 0,99 às 8h30 – como o mercado de câmbio segue aberto, o dinheiro da União Europeia teve uma leve recuperação e, às 14h05, uma unidade dele vale US$ 1,01. Desde o início do ano, o dólar se valorizou 14% frente ao euro. Alguns fatores para a queda são a incerteza quanto à economia europeia, que depende do fornecimento de gás natural da Rússia para ter energia, e a busca por segurança dos investidores, que estão vendendo ativos europeus, como ações e títulos públicos e privados, e migrando para aplicações em dólar, considerado um refúgio seguro em momentos de crise.

O gás russo é fundamental para a matriz energética europeia, tanto para empresas e indústrias quanto para o aquecimento de casas. Assim, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as sanções aplicadas a Moscou aumentaram a insegurança, com o temor de que o presidente russo, Vladimir Putin, determine a interrupção no fornecimento do combustível. Na segunda, 11, o gasoduto Nord Stream 1, que leva o produto da Rússia à Alemanha, foi fechado para manutenção por 10 dias pela estatal Gazprom, uma movimentação anual. No entanto, dessa vez, a preocupação é de que o gás não volte a fluir em 21 de julho. Outro fator que contribuiu com esse cenário foi o anúncio, feito no sábado, 9, de que o Canadá devolverá turbinas à Alemanha para aliviar a crise energética com a Rússia, o que também não teve um impacto positivo.

A perspectiva de um choque energético aumenta a probabilidade de uma recessão na zona do euro e limita as possibilidades para o Banco Central Europeu (BCE) aumentar os juros como forma de combater a inflação. O índice de subida de preços chegou a 8,6% no acumulado de 12 meses até junho, mas o BCE vinha se demonstrando relutante em elevar as taxas de juros como outras economias vinham fazendo. Assim, se torna cada vez mais provável o cenário de estagflação, ou seja, de crescimento econômico baixo e inflação alta, o que afugenta os investidores. “Os Estados Unidos acordou para o problema da inflação no começo desse ano e o Fed [Federal Reserve, Banco Central dos EUA] teve uma postura muito mais dura, colocando várias altas ao longo do ano, é um esforço relevante. Enquanto isso, a Europa demorou muito para acordar, foi só na reunião do mês passado que falaram em subir juro e estão nesse processo muito timidamente”, avalia Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. Para Varejão, as condições que levaram à baixa da moeda europeia ainda continuam, assim, é difícil que uma mudança ocorra no curto prazo.

Outros temores surgem com grandes cidades chinesas aplicando medidas de restrição à circulação das pessoas para conter o espalhamento da Covid-19, o que tende a causar paralisia em cadeias de fornecimento de produtos que passam pelo país asiático, a segunda maior economia do mundo. Caso lockdowns maiores se tornem realidade, os preços de alguns produtos devem subir, pressionando a inflação, ao mesmo tempo em que o crescimento econômico também pode ser ainda mais desacelerado.

“A atual política monetária da Europa, mantendo os juros mesmo com a pressão inflacionária, é um sinal que a sua expectativa de crescimento é bem baixa, o que deve manter o euro em trajetória de desvalorização no curto prazo e podem operar abaixo do dólar. A tendência do euro, enquanto a Europa não tiver uma solução para sua matriz enérgica, que é dependente grande parte do gás russo, é de continuar desvalorizando”, comenta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, empresa do setor de câmbio. O dólar, por sua vez, deve seguir se valorizando com o mau humor do mercado, enquanto os economistas buscam mais segurança, e com possíveis novas altas de juros nos EUA.

Nesta quarta, 13, serão revelados os dados sobre a inflação na Alemanha, França e Estados Unidos, que podem alimentar a preocupação dos investidores. “Se a inflação nos Estados Unidos for maior do que o mercado espera, isso pode beneficiar o dólar, já que os investidores apostam que o Fed terá que seguir ainda mais rápido para aumentar as taxas”, disse Fawad Razaqzada, analista da Forex.com, ouvido pela agência de notícias AFP. O dólar também vive uma valorização na comparação com outras moedas consideradas vulneráveis ao risco. A cotação da libra esterlina caiu a US$ 1,1807, nível que não era registrado desde março de 2020, quando o início da pandemia do novo coronavírus na Europa, durante as negociações do Brexit, provocou a queda da moeda britânica ao menor valor desde 1985.

CONSEQUÊNCIAS

Uma das principais consequências para os europeus é na inflação: quase metade dos produtos importados na zona do euro é faturada em dólar, contra 40% comprados em euros, segundo o escritório de estatísticas Eurostat. É o caso de muitas commodities, a começar pelo petróleo e pelo gás, cujos preços já subiram nos últimos meses, devido à guerra na Ucrânia. Com a desvalorização da moeda europeia, são necessários mais euros para comprar produtos importados em dólares.

Para as empresas, o efeito da queda do preço do euro varia de acordo com a dependência que têm do comércio externo e da energia. As empresas dependentes de commodities e de energia e que exportam pouco vão registrar uma explosão de gastos. Já a indústria manufatureira exportadora, principalmente os setores da aeronáutica, os fabricantes de automóveis, a de luxo e a indústria química podem sair ganhando. Em tese, a desvalorização do euro torna os preços mais competitivos e estimula as exportações. Além disso, o BCE pode reagir e subir os juros com mais rapidez.

*Com informações da AFP

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