Tempo de recuperação de empresas no Brasil passa de nove meses para um ano e oito meses

Contexto da pandemia e fator risco aumentam seletividade de empresas que buscam ‘turnauround’, ou seja, se reorganizar e voltar a crescer

  • Por Luis Filipe Santos
  • 20/07/2022 18h10 - Atualizado em 20/07/2022 18h27
Cédulas de dinheiro. Foto: Marcos Santos/USP Imagens Os economistas do mercado financeiro elevaram suas projeções para a balança comercial em 2017Os economistas do mercado financeiro elevaram suas projeções para a balança comercial em 2017Os economistas do mercado financeiro elevaram suas projeções para a balança comercial em 2017 Empresas podem precisar de apoio especializado, mas há alternativas em momentos complicados

O tempo médio gasto na recuperação de uma empresa no Brasil passou de nove meses para um ano e oito meses durante a pandemia, apontou levantamento da Corporate Consulting, empresa de consultoria especializada nesse tipo de processo e em ‘turnaround’, ou seja, quando uma empresa muda os rumos para voltar a se consolidar no mercado, através da recuperação de margens, redução do endividamento e retomada dos investimentos. As razões para o aumento são o contexto da pandemia, que levou a prazos maiores para que as dívidas contraídas fossem pagas, mas ao mesmo tempo aumentou a seletividade e cuidado na hora de negociar. Outras razões são o custo do dinheiro mais alto e o acesso ao crédito dificultado, devido aos bancos estarem lidando com inadimplência em níveis elevados, e os insumos estarem mais caros, o que faz com que os produtos também sejam fabricados a custos maiores do que os previstos inicialmente.

De acordo com Luiz Alberto de Paiva, sócio da Corporate Consulting, houve uma mudança na dinâmica das recuperações: antes mais assertiva e bem direcionada, acertava-se a estratégia a ser utilizada entre a empresa em recuperação e a consultoria que ajudava no processo. Agora, o processo passou requerer uma análise mais demorada devido à concentração de renda e de expectativas, de maneira mais intensiva e integrada. “Ou seja, durante o estabelecimento das estratégias mais assertivas e reduções nos custos, as dinâmicas de reforço no caixa são feitas conjuntamente. Dessa forma, tem-se conseguido capital mais alongado, alongamento de perfil de dívida com financiamento mais atrativo na medida das necessidades apontadas pelo turnaround”, comenta Paiva. “As tratativas negociais com credores são mais seletivas e cuidadosas; com fornecedores, muito mais rígidas, e o mercado, mais seletivo no consumo”, aponta, sobre as dificuldades que fariam o processo se tornar mais complicado.

Rubens Massa, professor da Escola de Administração de Empresas do Estado de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Eaesp), ressalta que a capacidade de pagamento das empresas foi afetada pela menor arrecadação durante a pandemia, então acostumou-se a oferecer prazos maiores. No entanto, contrapartidas em relação ao prazo são pedidas. “A primeira questão é que houve uma tolerância maior das instituições e das partes envolvidas para renegociação de dívidas, considerando a queda na capacidade de pagamento das empresas e o medo das instituições e outras partes não receberem. O segundo ponto diz respeito à capacidade de pagamento, o que se relaciona também com a renegociação, mas de um lado oposto, que afeta o risco daqueles que negociam em situações como essa, e devem ser incorporados num momento de negociação, através de juros, de garantias, até no aceite ou não da proposta. E claro, a empresa quando vai buscar uma recuperação, precisa compreender se de fato vale a pena ou se pode usar outros instrumentos mais adequados para aquele momento, como a falência, ou outras formas de recuperação mais informais. Aí é preciso olhar para o contexto específico de cada uma das organizações.

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