França investiga prefeito ultradireitista por recensear alunos muçulmanos

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2015 15h25

Paris, 5 mai (EFE).- A Justiça da França abriu nesta terça-feira uma investigação contra o prefeito de Béziers, o ultradireitista Robert Ménard, devido à suspeita de que ele havia recenseado os alunos muçulmanos das escolas, o que o levou a ser muito criticado por parte das mais altas autoridades políticas do país.

“Em um país como a França, selecionar alunos nas escolas a partir dos sobrenomes para aparentemente determinar sua religião é contrário a todos os valores da República”, declarou o presidente do país, François Hollande.

O chefe de Estado, que estava na Arábia Saudita, afirmou que o país “não tolerará” esta atitude do prefeito independente apoiado pelo partido ultranacionalista Frente Nacional.

A polêmica foi desencadeada ontem à noite, quando Ménard – fundador e ex-secretário-geral da ONG Repórteres sem Fronteiras de 1985 a 2008 -, em entrevista à rede de televisão estatal “France 2”, afirmou que “64,6% dos alunos de Béziers são de confissão muçulmana”.

No cargo desde 2014, o prefeito disse estar ciente de que seu cargo não lhe “dava direito” a classificar os alunos e admitiu ter elaborado o censo apoiando-se nas supostas conotações religiosas que os sobrenomes dos alunos dariam a entender.

A Promotoria de Béziers anunciou hoje a abertura de uma investigação preliminar com o objetivo de esclarecer se o comportamento do político é contrário a uma lei de 1978 que proíbe tratar dados “relativos às origens de pessoas”.

“Estes atos não podem ficar sem consequências. Quando se trata do essencial, a República e seus valores, os ocupantes de cargos públicos devem ser exemplares”, declarou o primeiro-ministro do país, Manuel Valls, na Assembleia Nacional.

A ministra da Educação, Najat Valaud Belkacem, alertou, por sua vez, para a “instrumentalização de uma religião” e alegou que “a extrema direita não aprendeu nada das lições da história”.

Na tarde de hoje, quatro agentes da Polícia Judiciária realizaram uma operação de busca e apreensão na prefeitura da cidade, e Ménard convocou uma entrevista coletiva na qual afirmou que “ninguém selecionou nem selecionará alunos em Béziers com critérios étnico-religiosos.

Mas, em seguida, ele argumentou que estatísticas como essa “existem” e que é justamente a esquerda que tanto o critica que “as promove”, por exemplo, através do Observatório das Discriminações, e que o próprio Valls tinha se declarado a favor de legalizá-las em 2009 quando era prefeito da cidade de Evry.

“O que incomoda a esquerda não são as estatísticas, mas o que revelam da situação”, comentou, acrescentando que “é preciso pôr fim à hipocrisia e falar sobre a imigração livremente”.

Ménard disse que é a favor da legalização dessa contabilidade étnico-religiosa, como em outros países – citou Brasil e Estados Unidos como exemplo -, porque seria útil para tomar decisões quando houver escolas com uma alta proporção de imigrantes.

“Acham que eu tenho interesse em marcar as crianças cujos pais vêm da Argélia ou de outras partes? O que eu quero é ajudá-las”, declarou.

Na França, as estatísticas étnicas são proibidas por lei, e só a Comissão Nacional da Informática e das Liberdades pode autorizá-las de forma excepcional, essencialmente com fins científicos. EFE

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