Mais de cem famílias cristãs fogem de Mossul após ultimato do Estado Islâmico

  • Por Agencia EFE
  • 18/07/2014 18h21

Yasser Yunis.

Mossul (Iraque), 18 jul (EFE).- Diante da escolha entre se converterem ao islã ou serem assassinados, várias famílias cristãs que viviam em Mossul, no norte do Iraque, decidiram nesta sexta-feira fugir de seus lares e das ameaças dos combatentes da milícia jihadista radical Estado Islâmico (EI).

O pároco de uma igreja da cidade de Al Hamdaniya, Bashar al Kadia, disse à Agência Efe que hoje mais de 110 famílias se refugiaram ali e outras 20 fugiram para Bashiqa.

Esses cristãos abandonaram Mossul depois de expirar, hoje, o prazo de três dias dado pelo Estado Islâmico para que todas as famílias dessa religião se convertessem ou deixassem a cidade.

Uma das cristãs que fugiram, Ra Yacob, disse à Efe que os extremistas roubaram joias, dinheiro, móveis e até utensílios pessoais quando ela passou pelos postos de controle instalados por eles na saída de Mossul.

Desde que a organização tomou o controle da cidade, a segunda mais importante do país, em 10 de junho, em um inédito avanço junto com outros grupos insurgentes, os cristãos de Mossul passaram a ser perseguidos em sua própria terra.

O Estado Islâmico, que proclamou um emirado em parte dos territórios iraquiano e sírio, impôs uma rígida interpretação da lei islâmica, a “sharia”, nas áreas sob seu domínio.

Em Mossul, os jihadistas revistaram as casas uma a uma para identificar os cristãos (minoria no país), do mesmo modo que os nazistas fizeram com os judeus no Holocausto, e distribuíram dezenas de folhetos com todo tipo de advertência nos bairros de maioria cristã.

Nas portas de várias dessas casas também podia se ler “Propriedade do Estado Islâmico”, um aviso premeditado do que aconteceria depois de expirar o prazo dado pelo EI para que os cristãos decidissem “a que lado se uniriam”.

Não foi suficiente pagar o tributo islâmico, a “yizia”, de US$ 250, ainda mais caro para comerciantes e empresários, que os extremistas instituíram logo após tomar o controle de Mossul.

Também obrigaram a pagar ao EI o aluguel das casas onde viviam sob a ameaça de cortarem a luz. Finalmente, para salvar a própria vida, os cristãos se viram obrigados a se converter à fé islâmica ou fugir do Estado Islâmico.

Não sobrou outra solução depois do cancelamento ontem uma reunião convocada pelo grupo radical, com presença de líderes tribais, no edifício do Sindicato de Professores, em Mossul.

O objetivo era chegar a um acordo sobre as condições de vida para os cristãos na cidade e os impostos que deviam ser pagos se quisessem permanecer em Mossul.

Os sacerdotes e bispos foram chamados para esse encontro, mas eles se recusaram e preferiram sair da cidade, acompanhados pelas famílias cristãs, contou à Efe um dos religiosos, que pediu o anonimato.

Diante da impossibilidade de um acordo, homens armados deram hoje o ultimato através dos megafones das mesquitas para que todo aquele que não fosse muçulmano deixasse a cidade.

Ra Yacob, funcionária cristã de 32 anos e que vivia até hoje em Mossul, contou que sua família recebeu ameaças de morte dos combatentes.

“O pânico e o horror se apoderaram de nós e saímos de casa para ir até a da família vizinha, de Abu Mohammed, que são muçulmanos, e dali vimos o que foi acontecendo lá fora”, contou Yacob.

Segundo ela os milicianos entraram pela porta de sua casa, mas se retiraram imediatamente quando viram que não havia ninguém.

Então ela e os cinco membros de sua família fugiram no carro do vizinho, se misturando às mulheres com véu no rosto para não serem identificadas pelos insurgentes.EFE

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