Guerra tem nova escalada com bombardeios russos e rejeição de ultimato de rendição da Ucrânia

Em resposta ao ataque a um dos seus principais navios, Rússia voltou a disparar mísseis em Kiev, aumentou ofensiva no leste e pediu rendição do inimigo em Mariupol; ucranianos afirmam que vão lutar ‘até o fim’

  • Por Jovem Pan
  • 17/04/2022 13h05
SERGEY BOBOK/AFP Bombeiros tentam apagar um incêndio em um prédio residencial após bombardeio no centro de Kharkiv Bombeiros tentam apagar um incêndio em um prédio residencial após bombardeio no centro de Kharkiv

No dia 1º de abril, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou, durante sua visita oficial à Índia, que as negociações para um cessar-fogo na Ucrânia haviam progredido. Moscou esperava que o país vizinho adotasse posição de neutralidade, renunciasse às suas aspirações de ingressar na Otan e abrisse mão da região de Donbass, no leste do país. A declaração expressava o otimismo com sinalizações dos dois lados que apontavam para um cessar-fogo. Tudo se esvaiu, no entanto, quando, naquela manhã, um depósito de combustível na cidade de Belgorod, na Rússia, foi bombardeado por forças ucranianas. A partir dali, a palavra “acordo” foi alijada de entrevistas e discursos das autoridades de ambos os países.

Também naquele dia 1º, imagens de civis mortos na cidade ucraniana de Bucha, nos arredores de Kiev, chocaram o mundo. Mais de 400 civis foram encontrados mortos, espalhados pelas ruas ou enterrados em covas rasas. O evento motivou novas sanções à Rússia e o repúdio do Ocidente. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, pediu que o líder russo Vladimir Putin seja julgado por crimes de guerra. Com 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções (inclusive a do Brasil), Moscou foi suspensa do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

O Kremlin nega as acusações, mas os ucranianos são taxativos e pressionam os países ocidentais por duras sanções aos inimigos. “Sabemos de milhares de pessoas mortas e torturadas, com membros decepados, mulheres estupradas e crianças assassinadas”, acusou Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia. “É muito difícil conversar quando você vê o que eles fizeram aqui”, destacou, deixando evidente que um acordo se tornou mais difícil.

O resultado de Belgorod e de Bucha foi uma impressionante escalada de violência na guerra. Bombardeios de ambos os lados excluíram as já remotas chances de um acordo de cessar-fogo. Segundo o Kremlin, forças ucranianas bombardearam nos últimos dias duas cidades na fronteira entre os dois países, deixando dezenas de feridos. Kiev nega a acusação. Já as tropas de Putin aumentaram a ofensiva em Kharkiv, no leste da Ucrânia, e voltaram a atacar Kiev. Misseis foram disparados à capital ucraniana entre sexta-feira, 15, e sábado, 16. Neste domingo, 17, ao menos cinco pessoas morreram em um ataque russo a Kharkiv. Ao menos 503 civis ucranianos morreram na cidade desde que o conflito eclodiu.

A ferocidade dos ataques está ligada ao bombardeio ao navio cruzador russo Moskva, que afundou no mar negro após ser atingido por dois mísseis ucranianos. Ciente de que feriu o orgulho do inimigo, a Ucrânia lançou selos comemorativos. Filas enormes se formaram em frente aos correios em Kiev na sexta-feira, 15, para adquirir uma “lembrancinha” do episódio, que renovou a esperança do país. Uma amostra disso é a batalha em Mariupol, importante cidade portuária no leste ucraniano. A Rússia exige a rendição das tropas de Zelensky, mas os ucranianos afirmam que vão resistir. “Nossos soldados ainda estão lá e vão lutar até o fim”, declarou o primeiro-ministro Denys Shmygal. “A Ucrânia está pronta para grandes batalhas e pode vencê-las, inclusive no Donbass”, afirmou o assessor da presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak.

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