Janaína Paschoal afirma que aliança entre Lula e Alckmin é ‘imperdoável’ e ‘nojenta’

Em entrevista à Jovem Pan, deputada mais votada da história do país também disse que eventual vitória do petista no primeiro turno da eleição presidencial será exemplo de fracasso da gestão Bolsonaro

  • Por André Siqueira
  • 30/12/2021 12h00
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados Janaína Paschoal falando durante audiência na Câmara Deputada Janaína Paschoal criticou a possível aliança entre Lula e Alckmin para as eleições de 2022

Em 2018, a advogada Janaina Paschoal se tornou a deputada mais votada da história do país, com 2,06 milhões de votos. Quatro anos depois, ao final de seu mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), pretende disputar uma cadeira no Senado Federal pelo Estado de São Paulo. Sondada por aliados do presidente Jair Bolsonaro para compor a chapa do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, candidato do Palácio do Planalto para o governo paulista, a parlamentar expressa o desejo de seguir um caminho independente, deixando claro que irá elogiar o chefe do Executivo federal quando acreditar que ele está correto, mas fará críticas quando considerar que o mandatário do país se excedeu. “Defendo o presidente sem interesse nenhum e defendo o que acho que é certo. Defendo Bolsonaro do impeachment porque acho os pedidos pífios. Defendo na temática do passaporte da vacina, mas não vou adular ninguém caso não concorde com algo. É isso que o núcleo duro do Bolsonaro não entende. Eu não sou apêndice de ninguém”, explica. Em entrevista ao portal da Jovem Pan, Janaina analisou o cenário eleitoral para 2022, o governo Bolsonaro e a possível aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, considerada “imperdoável” pela parlamentar.

Em 2021, diversos episódios de machismo ocorreram no Legislativo. Na Alesp, houve o caso Isa Penna. No Senado, Simone Tebet foi chamada de descontrolada por um ministro do governo. No início de dezembro, um deputado disse que a deputada Tabata Amaral deveria ficar “quietinha” e “pianinha”. A política brasileira é machista? A política reflete a sociedade e nossa realidade. Tem machismo? Tem, como há em todos os setores. Não acho que seja pior. Tenho vida acadêmica e posso dizer que a universidade é mais machista que a política. Sou advogada há mais de duas décadas: a advocacia é mais machista que a política. Não me parece que seja algo exclusivo da política. As mulheres vão ter que enfrentar com coragem, com estudo, com preparo. Ouso dizer, respeitando posições divergentes, que deverão enfrentar com menos vitimização. Você é parlamentar. Ser mulher, homens, trans, não importa. O que importa são os projetos, as ideias. Não vejo sentido nisso de destacar que é mulher. Vejo um pouco de culpa nas vítimas também. 

Pesquisas apontam vitória de Lula em primeiro turno. A que atribui este quadro? Bolsonaro fracassou? Espero e peço a Deus que isso [vitória de Lula no primeiro turno] não aconteça, porque seria um retrocesso para o país. Tirar o PT do poder pelo impeachment, expor os desmandos do partido mediante a Operação Lava Jato. Tudo isso foi uma conquista sem precedentes. Vai ser um fracasso para a nossa história. Agora, por óbvio, há chances disso acontecer, sim. É necessário olhar com realismo para o que ocorre. Há muita culpa do governo Bolsonaro nesse quadro. Quem disser que não, está equivocado. Erro pelos excessos dos filhos, da base aguerrida, pelos excessos retóricos do presidente, pela falta de competência no diálogo. É um fracasso, sim. 

Segundo pesquisas, Moro é conhecido por quase 90% do eleitorado, mas parece ter dificuldade para chegar aos dois dígitos. Além disso, levantamento aponta rejeição de 61% ao nome do ex-juiz. Por que isto ocorre? Os petistas e lulistas rejeitam Moro por tudo o que ele conseguiu expor, as verdades que mostrou. Há rejeição e mágoa com a prisão do ex-presidente Lula. Muitos formadores de opinião, o grupo de advogados do Prerrogativas, também o rejeitam. No mundo jurídico, ele também tem rejeição muito grande. A novidade que surge é a resistência na direita. Quando ele vai para o governo Bolsonaro e sai atirando, falando em suposta interferência na Polícia Federal, os apoiadores do presidente, que são muito parecidos com os apoiadores de Lula no sentido de não verem defeito no seu líder, não admitem a sua saída e querem fazer colar nele a pecha de traidor, criar a ficção de que ele surfou na onda de Bolsonaro. Isso não existe. Quem se aproveitou do impeachment e da Lava Jato foi Bolsonaro. Os apoiadores mais ferrenhos do presidente, que são muito barulhentos nas redes, inverteram a história. Faltou habilidade, vivência, experiência e até humildade a Moro. Ele virou autoridade com 24 anos. Ninguém tem ideia do que é ter uma caneta poderosa na mão com 24 anos. Ele mandou na vida dos outros a vida inteira. Na política, é diferente, tem que haver diálogo. Mas é flagrante que Moro não é uma pessoa que cede. A união da rejeição na esquerda, no mundo jurídico, e na direita raiz cria uma situação que não é confortável.

Por que a terceira via não decola? Insistir no lema ‘nem Lula, nem Bolsonaro’ sem apresentar propostas ao eleitor não é um erro? O que é a terceira via? É a novidade, é algo que vem com uma promessa de futuro. Voltando ao Moro, a atuação dele no passado recente implica uma mudança de paradigma. A troca de favores na política precisa ser revista. Moro vem com um novo olhar. Ele é a terceira via no sentido de novidade. Terceira via não é ser simplesmente um outro quadro, é ter condição de apresentar uma proposta de mudança real. A senadora Simone Tebet e o senador Alessandro Vieira são bons quadros, têm consistência e experiência, mas não trazem essa mensagem. Eles fizeram um trabalho muito decepcionante na CPI da Covid-19, politizaram demais, atacaram o governo Bolsonaro de forma injusta, corroboraram humilhações a profissionais de saúde. Bolsonaro erra na forma como fala, erra quando é agressivo, mas também acertou muito. O governo implementou o auxílio emergencial, algo nunca visto no mundo e com agilidade ímpar. A atuação dos presidenciáveis na CPI foi revoltante.

Na eleição de 2018, o discurso de renovação da política dominou a campanha. Nas municipais de 2020, os partidos tradicionais recuperaram espaço. O que projeta para o ano que vem? Até hoje eu desconfio da forma como Bolsonaro saiu do PSL. Para mim, ele foi induzido ao erro. Quando o presidente deixa o PSL, os quadros que vínhamos trabalhando para eleger como prefeitos e vereadores ficam inseguros, não se colocam, porque têm medo de serem taxados como traidores. O PSL era um partido que tinha tudo para varrer as prefeituras. Esse vácuo foi interessante para os partidos tradicionais, que recuperaram espaço. O PSL que permaneceu e vai virar União Brasil foi capturado pelo PSDB, isso é um fato. Vão apoiar o Rodrigo Garcia, vice do Doria. Sobre o Bolsonaro, ele é explosivo, reage muito e as pessoas vão explorar isso. Vão falar da fome, do desemprego, mas vão explorar a maneira pouco hábil do presidente em lidar com a pandemia. Faltou sensibilidade na exposição das ideias. Ao minimizar a perda de uma parte, muitos pegaram ódio. Esse jeito agressivo, essa combatividade excessiva gera mágoa e resistência nas pessoas. Até eu, que sou uma pessoa tolerante, fico pensando: será que o país aguenta mais quatro anos nessa confusão? Os apoiadores do presidente querem o embate, vivem do embate. É duro.

A senhora é cotada para compor a chapa do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em São Paulo, como candidata ao Senado. Os nomes do ex-ministro Ricardo Salles e do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, também são ventilados. Como está a negociação? Esse núcleo do Bolsonaro funciona assim: se o presidente mandar, serão candidatos. Eles esperam o aval do presidente, por isso está essa confusão. Eu não tenho nada a ver com o presidente. Se Deus permitir, serei candidata ao Senado. Se o presidente quiser me apoiar, é um direito dele. Mas eu serei candidata. Este é o fato. A não ser que armem contra mim, que paguem para que o partido que me der legenda me abandone na hora H. Minha ideia é apresentar a candidatura. Eu não espero o aval de ninguém. Há muito tempo, a deputada Carla Zambelli me telefonou e disse ‘quero que seja a nossa candidata ao Senado’. Disse a ela que vou me candidatar. Defendo o presidente sem interesse nenhum e defendo o que acho que é certo. Defendo Bolsonaro do impeachment porque acho os pedidos pífios. Defendo na temática do passaporte da vacina, mas não vou adular ninguém caso não concorde com algo. É isso que o núcleo duro do Bolsonaro não entende. Eu não sou apêndice de ninguém. Com relação ao Tarcísio, se ele vai apoiar o Skaf ou o Salles, é problema dele. Eu vou votar no Tarcísio.

O que pensa da aliança entre Lula e Alckmin? Alckmin está indo para esta parceria não pelo país, mas porque acredita que Lula vai ganhar e quer ter a garantia do cargo. É nojento isso. Ele fortalece o mal, prejudica o país para ter um lugar de poder. É imperdoável. Se isso for uma estratégia para ganhar voto para governador, não sei quem está orientando esse homem. Só pode ser um jegue. Eu não voto nele [Alckmin] nem amarrada. Tenho recebido vereadores, prefeitos, ouço o povo e as pessoas estão com ódio dele. E com razão. Ele se acabou.

Alckmin vai ter dificuldade de explicar essa aliança ao tucano raiz? Quem é tucano convicto? A vida inteira o paulista votou no PSDB para não ter o PT no poder. Se esse cidadão, traindo o povo que votou nele por falta de opção, ficar de chamego com o Lula, ele se acabou. Eu vou fazer campanha contra ele. Isso é um absurdo. 

Depois de um cessar-fogo, Bolsonaro voltou a criticar os ministros do STF. Como vê essa questão? O presidente joga para a torcida dele? Sim, não tenho dúvidas disso, porque ele tem muita dependência das redes. Eu acho essa dinâmica das redes sociais uma ilusão, mas tudo bem. Ele perde com isso e perde muito, porque as pessoas querem um país mais tranquilo, querem estabilidade para que o investimento venha. Agora, resguardadas as minhas críticas à forma do presidente, à utilização de adjetivos, as decisões dos ministros estão erradas. Temos que abrir a discussão para olhar questão por questão. Não dá para negar que haja ONGs com interesse na questão do marco temporal. Sobre Roberto Jefferson e Daniel Silveira, foram presos porque se excederam. Não acho que o que fazem é direito de manifestação, mas prender é excesso. Quanto ao passaporte vacinal, a primeira decisão do ministro Barroso é uma excrecência jurídica. No colegiado, pelo menos, colocaram alternativas. São coisas graves. Divirjo do presidente nos adjetivos e no tom, mas corroboro as críticas dele.

Chamar um orçamento de algo secreto não é uma contradição? Eu concordo 100% com essa ideia, mas esse tal orçamento secreto não tem nada a ver com o Mensalão, que era dinheiro vivo para o parlamentar. O orçamento secreto significa o parlamentar pedir para o Executivo o local para o envio de recursos. Não estamos falando de crime. Feita essa divisão, é imperioso dizer que o que acontece em Brasília, com parlamentares indicando emendas sem definição de quem pede, para quem pede, quanto pede e para onde pede, também acontece nas Assembleias Legislativas. Mas, como a imprensa é antibolsonarista, em nível federal é crime e na Assembleia é normal. Aqui em São Paulo, o governador João Doria faz algo parecido, mas chamam de emenda voluntária. Deputados recebem emendas, mas o governador critica Bolsonaro. Sou contra esse sigilo envolvendo as emendas porque isso pode favorecer esquemas lá na ponta da linha. Pode aparecer empresa de fachada contratada para fazer um serviço, mas, no final das contas, servir para devolver o dinheiro para quem encaminhou o recurso ou para alguém de sua confiança. Tem que ter visibilidade. Em termos de assuntos públicos, o sigilo só pode recair sobre questões de segurança nacional e pessoal.

O Brasil é reconhecido internacionalmente por suas campanhas de imunização. Do ponto de vista eleitoral, a pregação antivacina não traz mais prejuízos do que benefícios? Faço algumas ponderações sobre isto. O Estado deve disponibilizar vacinas e informações para a população. Aqui no Brasil, disponibilizamos as vacinas, mas o fluxo de informações está aquém do esperado. Ninguém orienta a população sobre eventuais efeitos adversos e como proceder. Tudo isso está nas bulas. Quando fiz uma leitura pública das bulas, disseram que eu estava espalhando fake news. Precisamos respeitar quem não quer tomar vacina, a minoria da minoria que não quer tomar. Criou-se um discurso para impor vacina para quem não quer tomar. Fosse só discurso, menos mal, mas estão tentando criar vacinação obrigatória. Demitir por justa causa, barrar criança na escola, advogado não poder entrar no fórum para defender cliente. Não posso compactuar com isso. Esta doença [a Covid-19] não impacta as crianças de forma tão dramática quanto impacta idosos e pessoas com comorbidade. Todas as vacinas têm risco. Pequenos, mas têm. Não vejo razoabilidade em submeter crianças e adolescentes aos riscos da vacina quando a doença não atinge essa faixa etária. Se fosse campanha contra a poliomelite, contra a meningite, eu já estaria gritando ‘vamos vacinar’. Mas a Covid-19 não é doença de criança. Do ponto de vista epidemiológico, seria mais inteligente doar vacinas encalhadas para países que não vacinaram sua população. Querem que o governo invista bilhões para comprar vacinas. É lobby para farmacêutica para vender vacina.

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