Tunísia fechará 80 mesquitas salafistas após massacre em Sousse

  • Por Agencia EFE
  • 27/06/2015 06h05

Túnis, 27 jun (EFE).- O governo da Tunísia decidiu na noite de sexta-feira fechar quase uma centena de mesquitas comandadas por clérigos salafistas, horas depois que um grupo simpático à organização terrorista Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria do massacre de 39 pessoas em um hotel turístico no sul do país.

Em declarações para a imprensa, o primeiro-ministro tunisiano, Habib Essid, admitiu que o objetivo do governo é recuperar o controle de cerca de 80 templos em que existe a prática de incitar à violência e há indícios de que promovem e financiam certos grupos jihadistas.

Horas antes, o presidente do país, Bey Caid Essebsi, já tinha advertido que o Estado tomaria medidas duras, que não foram adotadas após o massacre do Museu do Bardo, e que deixariam o “país sob uma única bandeira”.

A decisão de fechar as mesquitas, que o líder antecipava com suas críticas, representa a primeira limitação imposta às liberdades que a Tunísia adotou desde a revolta contra a ditadura do foragido Zine el Abedin Ben Ali.

Após a queda do tirano, a transição resgatou os direitos individuais e coletivos, entre eles a liberdade religiosa, o que fez com que grupos salafistas se aproveitassem para se apropriar dos púlpitos de importantes mesquitas.

Além disso, dezenas de radicais que estavam nas prisões sob o regime repressor de Ben Ali foram libertados, e grande parte deste contingente partiu depois para a Síria e o Iraque para se juntar ao EI.

“Os números oficiais dizem que são em torno de 3 mil, o que transforma a Tunísia no principal exportador de voluntários para o EI. Mas são números antigos, estimamos que já são mais de 5 mil” explicou à Agência Efe Hedi Yahmed, autor de um livro publicado recentemente que analisa o jihadismo nesse país do norte da África.

“O jihadismo está implantado na Tunísia desde a década de 1980, quando começaram os primeiros emigrantes (que se uniram ao que depois seria a Al Qaeda). Essa é a primeira geração. Depois retornaram e muitos deles foram presos por Ben Ali. Nas prisões, contagiaram muitos outros com suas ideias”, acrescentou.

Segundo Yahmed, que também é diretor do jornal digital em árabe “Hakhakaik”, a terceira geração são “os jihadistas da revolução, esses que saíram das prisões com a anistia” que veio com a queda de Ben Ali.

Muitos dos que retornaram da Síria foram detidos e presos, mas muitos outros têm somente a obrigação de se apresentar em uma delegacia e quase não há controle sobre eles pelos serviços de segurança, que também ficaram enfraquecidos após a revolução.

Uma fonte do Ministério do Interior admitiu para a Efe que Saifedine Rezgui, um dos supostos autores do massacre de ontem no hotel de Sousse, não estava na lista de jihadistas considerados perigosos.

Rezgui, um estudante de engenharia de 23 anos, foi até a praia do hotel por volta de meio-dia (horário local) e abriu fogo de forma indiscriminada contra os turistas, junto com um comparsa, que foi detido depois.

As forças de segurança conseguiram abatê-lo quando corria em direção à piscina e à entrada do hotel Marhaba Imperial.

No atentado, Rezgui matou 38 pessoas, a maioria turistas do Reino Unido, mas também alemães, tchecos, poloneses, belgas e franceses.

O ataque, o segundo na Tunísia nos últimos três meses, aconteceu no mesmo dia em que outro atentado ocorria na França, quando um homem decapitou seu chefe em nome do grupo terrorista Estado Islâmico.

Em comunicado divulgado no Twitter, o EI assumiu a autoria do massacre na Tunísia e pediu que seus seguidores seguissem com os ataques durante o mês sagrado do Ramadã.

Junto a três fotografias, o perfil na rede social ligado ao EI, que está sendo investigado pelas autoridades, identifica um dos terroristas como Abu Yahya al Qayrawani, e afirma que sua ação foi responsável pela “morte de 40 infiéis”.

A autoria do atentado contra o Museu do Bardo também foi reivindicada pelo EI através de internet, mas depois as autoridades tunisianas asseguraram que foi obra do grupo jihadista local “Oqba bin Nafa”. EFE

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