Adrilles Jorge: Progressismo de Barroso serve ao reacionarismo de oportunistas e narcisistas

Seria o ministro do STF um pragmático maquiavélico ou estaria ele cego pelas luzes autoritárias de seu conceito difuso de progresso?

  • Por Adrilles Jorge*
  • 29/08/2020 08h00
Nelson Jr./SCO/STF Luís Roberto Barroso é ministro do Supremo Tribunal Federal O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso

Todo progressista tem uma semente de ditador. O progressismo sempre se coloca como um farol que ilumina as massas e dita os rumos de uma sociedade insciente das luzes da civilização e da formação de um grande povo, de uma grande nação. A democracia seria um caminho, um meio, não um fim em si mesmo, para a iluminação. Em última instância, a democracia pode se tornar até um obstáculo a ser contornado. O clássico conservador leva uma ligeira vantagem: tem dentro de si um progressista cético e desconfiado de seus próprios propósitos. Avança, mas com cautela, preservando o que houve de conquista social pela tradição. Mas, vez por outra, é preciso uma acelerada, senão ficamos conservados na imobilidade. Por isso, a importância, numa democracia madura, de um diálogo entre progressistas e conservadores.

Todas estas definições, claro, são utópicas no mundo real da política. Sobretudo na política brasileira, que se divide entre misturas exóticas ideológicas e boa parte de oportunistas. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), é exemplo de um progressista clássico. Raiz. Quer ungir a nação das tintas de uma Justiça racial, impondo cotas em todo o canto, impondo vontades em quem ele julga ser negro num país miscigenado; quer enfiar goela abaixo a noção de liberdade de aborto a uma população contrária à causa; quer criar no governo Jair Bolsonaro a pecha de uma ditadura pelas opiniões e intenções não progressistas do presidente. Sim, o neoprogressismo radical, traduzido pelo politicamente correto, examina a consciência de alguém, de um grupo, de um partido, antes mesmo de qualquer ação afetiva. O neoprogressismo inaugurou o crime de pensamento.

Os neoprogressistas se aliam hoje ao grupo de oportunistas do Supremo: aqueles que querem conservar os privilégios do establishment contra qualquer combate efetivo ao corporativismo corrupto de nossa cultura política, a que eles chamam de “diálogo”. Ironicamente, neoprogressistas se aliam a oportunistas que querem conservar o atraso. Barroso fez e faz isto quando anui em prender, calar vozes, cercear vozes dissonantes de seu progressismo, junto com oportunistas do establishment e narcisistas que não gostam de ouvir críticas ao inimputável Judiciário.

O resultado é o progressismo de Barroso servindo ao reacionarismo de oportunistas e narcisistas. Barroso, quando cria uma ditadura imaginária que combate com atos realmente ditatoriais, serve ao mais abjeto reacionarismo, que conserva privilégios, corrupção e solapa a voz popular. Um progressista raiz como Barroso não dá a mínima para a voz popular, que, segundo ele, deve ser guiada pela luz dele, Barroso. Resta saber se Barroso é um pragmático maquiavélico, que sabe estar servindo aos interesses de um establishment que – extremo paradoxo – não quer ver nenhum progresso. Estaria Barroso usando estas pessoas ou sendo usado? Ou estaria cego pelas luzes autoritárias de seu conceito difuso de progresso? A última hipótese me parece mais verdadeira. O mal se reveste de luz e cegueira quase sempre. Em nome do bem. Em nome do progresso. Lúcifer – o que veio da luz – que o diga.

*Adrilles Jorge é escritor, poeta, jornalista, comentarista do programa Morning Show e escreve sobre política, cultura e comportamento.

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