Censura de censores: redes sociais que chegaram a banir Trump agora querem explicações de Moraes

Google e Twitter acusam o ministro do STF de mandar retirar conteúdos e perfis que considera ofensivos; censura é uma bola de neve que já se transformou em avalanche que desaba sobre nossas cabeças

  • Por Adrilles Jorge
  • 25/09/2021 10h00
Rosinei Coutinho/SCO/STF Ministro Alexandre de Moraes usando terno com fundo preto. Olha para a câmera, está de terno preto e camisa branca. Ele é careca Google e Twitter classificaram como desproporcionais e possível censura prévia as decisões de Alexandre de Moraes que determinaram o bloqueio de perfis bolsonaristas

A estagiária de cabelo azul das redes sociais olha com lupa os termos, conceitos e piadas que podem ser considerados infames ou constituir discurso de ódio ou fake news. Alexandre de Moraes manda censurar perfis que são acusados de usar termos ou conceitos falsos, além de supostas fake news ou ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Agora Google e Twitter estão acusando Alexandre de Moraes de mandar censurar conteúdos e perfis que considera ofensivos. Produzir censura é uma bola de neve que rola, aumenta e se transforma em uma avalanche que acaba por cair na cabeça de todo mundo, inclusive do censor. A coisa degringolou de vez no mundo, e no Brasil mais ainda. No nosso bananão, um político foi preso por fazer um vídeo para exorcizar satanás das igrejas; uma menina de 1,5 m foi presa por dizer que daria uns tabefes num ministro; um deputado foi preso por dizer que um ministro poderia apanhar na rua. Bazófias vazias que para o Xandão, que prende e arrebenta, são crimes de lesa pátria. Redes sociais que chegaram a banir Donald Trump por coisa alguma e mantém os líderes do Talibã, que massacram mulheres em suas plataformas, querem agora explicações do Xandão, prendedor e censor que manda banir sem dó nem piedade usuários destas mesmas plataformas que também censuram seus usuários.

É censor espantado com censor com medo de ser censurado. A coisa começou no ano passado na pandemia. O isolacionismo social, o “fique em casa” que não deu certo em canto algum no mundo, obrigou todos a se reprimirem em falsa segurança proposta por Estados que de libertários passaram a absolutistas. Pessoas se acostumaram a obedecer. Autoridades se acostumaram a mandar autoritariamente sem contestação. As redes sociais entraram na onda. Formadas por uma maioria esmagadora de progressistas, passaram a eliminar posts ou perfis que contestavam medidas sanitárias contestáveis. Passaram a contestar princípios céticos conservadores que se colocavam de maneira mais aguerrida ou mesmo agressiva. Ora, a liberdade de expressão se presta ao exagero. Não é feita para o discurso de consenso, mas para proteger mesmo o radical que vai fundo até mesmo na possibilidade do engano. Engano maior que o isolamento social no ano passado não houve. A Suécia está aí para comprovar.

Dos conceitos, das piadas, das palavras, dos termos, Xandão aproveitou o bonde da censura segura e passou para prisões. Tudo que soasse agressivo, ele prendia. Inquérito que demoniza e criminaliza opinião se somou a outro que criminaliza a livre expressão nas ruas. A mídia, com ódio estético do nosso Trump tupiniquim, Jair Bolsonaro, segue Xandão à risca: povo na rua clamando por liberdade é chamado de golpista pela censura aberta da Rede Globo. O extremo da inversão: juízes se colocam como a representação do povo que censura e prende o povo real se manifestando nas ruas. A mídia xingando de antidemocrático o povo real que está clamando por democracia. Recentemente, o presidente Bolsonaro, a quem todos chamam de ditador, tentou fazer uma medida provisória e projeto de lei para tentar dar liberdade a usuários das redes. Simples: o que fosse denunciado como criminoso só deveria ser devidamente julgado pela Justiça comum. Uma infâmia, injúria, ofensa etc., seria retirada desde que um juiz condenasse o suposto crime ou delito. Exceção feita para publicações que contivessem mensagens de apoio explícitas a crimes hediondos como estupro, terrorismo, pedofilia etc., que seriam removidas imediatamente. Jornalistas censores que chamam o governo de ditadura reclamaram: redes fazem o que quiserem.

Economia liberal! Empresas privadas fazem o que quiserem! Dá na mesma que dizer que, num mercado, o dono pode expulsar alguém por sua cor de pele ou aparência suspeita. Numa praça pública, num mercado público, a mercadoria é a livre opinião do cidadão. Se ela é ofensiva ou criminosa, é a Justiça quem deve dizer, não o dono deste mercado, não o dono desta rede. Mas… a quem recorrer? A que Justiça recorrer quando a mais alta corte da Justiça prende, censura e persegue ideologicamente seus próprios cidadãos por se expressarem livremente? A quem recorrer quando imensa parte da mídia aplaude a censura e demoniza o poder que quer dar mais liberdade às pessoas? Vivemos o período mais cínico e hipocritamente opressor do ápice da censura mundial. “Te calamos para o teu bem”, nos dizem as autoridades censoras do fascismo bem intencionado. A censura é uma bola de neve que já se transformou numa avalanche que desaba sobre nossas cabeças. Cabe a nós, o povo, nos rebelarmos contra quem diz nos representar e nos tiraniza, oprime, prende e sufoca. Nem empresas, nem juízes, nem jornalistas, têm o direito de censurar a livre expressão do povo.

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