O que gera cancelamento e perseguição não é o que se publica ou o que se diz, mas quem diz

Chamam Lula de honesto, caluniam a Lava Jato, mas só conservadores são calados por supostas mentiras; tudo isso porque a hegemonia de uma pseudoverdade progressista domina a grande mídia

  • Por Adrilles Jorge
  • 30/10/2021 10h00 - Atualizado em 30/10/2021 10h11
Reprodução/Instagram/@mauriciosouza17 Maurício Souza (à esquerda, de terno e gravata), Jair Bolsonaro (no meio, de camisa, gravata azul e calça social) e Eduardo Bolsonaro (à direita, de terno e gravata) posam para foto no Palácio do Planalto, todos de braços cruzados O jogador de vôlei Maurício Souza é conservador e um notório apoiador do governo de Jair Bolsonaro

Ler matéria polêmica de publicação jornalística consagrada agora rende censura. Dependendo de quem a lê, claro. Dependendo da interpretação de quem lê, claro. Está comprovado que o que rende perseguição não é o que se publica ou o que se diz, mas quem diz. Dizer que incluir personagens gays em histórias em quadrinhos pode confundir combate ao preconceito com propaganda sexual em crianças gera perda de emprego e perseguição. A depender de quem foi o portador da opinião polêmica, rende massacre. Mesmo uma fala descontextualizada, equivocada, não pode ser censurada. Uma fala irresponsável deve ser julgada, não censurada e criminalizada de antemão. O cidadão tem o direito ao engano ao perseguir a verdade. A mentira e o engano existem desde os primórdios. Mentia-se sobre Cristo, chamado de provocador, que foi crucificado. Mentia-se sobre Sócrates, chamado de mau influenciador de jovens, que foi obrigado a se matar. Mentiu-se e ainda se mente sobre Cuba e União Soviética por quase um século, países louvados por comunistas mentirosos.

Mente-se hoje à vontade sobre Lula, chamado de honesto; mente-se sobre a Lava Jato, chamada de desonesta, com apoio de boa parte da grande mídia na mentira. Por que só conservadores são calados por supostas mentiras? Porque existe uma hegemonia de uma pseudoverdade progressista que domina a grande mídia e plataformas culturais, artísticas e intelectuais, judiciais etc. Sem pluralidade na busca pela verdade, existe a ditadura de uma verdade ideológica única. Fora o oportunismo de quem quer demonizar adversários políticos ou intelectuais ou de qualquer área se servindo da ditadura cultural progressista. Por exemplo, o ministro autoritário diz que fake news serão banidas das eleições. Ora, o que é uma verdade absoluta em campanha eleitoral? O que é uma verdade absoluta em uma propaganda, que é o que fazem os marqueteiros eleitorais? Se dizem que beber Coca-Cola te torna mais atraente, isso é verdade? Se o PT diz que determinado candidato vai tirar comida do prato do povo ou que determinado candidato vai perseguir gays, mulheres e negros, isso é verdade? Todos sabem que tudo isso é propaganda. Vão proibir um lado do espectro político de fazer propaganda de suas ideias e ideais?

A democracia não se sustenta num princípio de verdade absoluta. Democracia se escora no contraste de pessoas que pensam diferente para que se consiga perseguir a verdade através de uma permanente tagarelice de convencimento das pessoas do que seja um princípio de verdade. Nada mais antidemocrático que um tribunal se converter em um “ministério da verdade” imposta goela abaixo da população. A liberdade de expressão, sustentáculo também da democracia, pressupõe o autoengano. Só não é enganoso o fato de que os verdadeiros criminosos hoje são os censores oficiais e seus apoiadores que proíbem a liberdade de expressão em nome de um falso bem público. O mal público contemporâneo é a censura que se espalha hoje cada vez mais. Mal público originado naqueles ministros ególatras de instituições que falam em democracia, liberdade. E que espalham a fake news mais tenebrosa da verdade única que brota de suas togas vaidosas.

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