Uma educação sexual: O meio influencia a sexualidade e ela pode mudar ao longo da vida

Negar que a sexualidade tenha um contingente de escolha e que as origens de nossas escolhas sexuais sejam influenciadas pelo meio é negar a complexidade de nosso próprio desejo

  • Por Adrilles Jorge
  • 12/12/2020 10h00
Divulgação/STF - 5/11/2019 Caetano Veloso no STF O cantor Caetano Veloso revelou recentemente que parou de ter atração por homens após uma experiência traumática dentro da prisão

O meio pode influenciar sua orientação sexual? Bem, se você percebe que existe uma fluidez latente sexual em todos nós e um grau – em maior ou menor medida – para o que Freud chamava de inversão sexual dos padrões convencionais heteronormativos da sexualidade, a resposta é sim, o meio pode influenciar sua sexualidade. Caetano Veloso contou recentemente que sua atração por homens foi anulada por sua experiência traumática dentro da prisão. Eu particularmente já ouvi de algumas lésbicas que tiveram experiências traumáticas com homens – o que influenciou diretamente em suas escolhas. Na Grécia de Sócrates, as relações homossexuais entre homens eram comuns, e rapazes eram frequentemente iniciados sexualmente por homens mais velhos. O resultado é uma geração de bissexuais e homossexuais que são contados nos vários diálogos de Platão. Em uma determinada tribo indígena, alguns rapazes são criados como mulheres e, quase invariavelmente, se transformam em homossexuais.

O meio não determina, mas influencia diretamente na construção de quem você é, inclusive sua sexualidade. Uma predisposição sexual é sempre predominante no instinto de reprodução heterossexual humana. Uma inversão deste instinto pode ocorrer com a mesma força. Mas a construção da sexualidade, para além do apelo genético, se dá pela influência familiar, cultural, social, de amigos, pela sua convivência, experiências e traumas sexuais. Um engraçadinho poderia perguntar a Caetano, um progressista, se sua conversão traumática à heterossexualidade exclusiva não seria uma porta aberta ao conceito de cura gay. E que uma sexualidade, se mudada por um trauma, não poderia ser reorientada por um tratamento psicológico. Bem, primeiro o termo ”cura gay” é preconceituoso. Não se cura algo que não é uma doença. Mas pode haver, sim, uma reorientação planificada do desejo.

Vamos por partes: a escala Kinsey de orientação sexual prevê uma fluidez de 0 a 6 em todos nós. O zero sendo completamente hétero, o 1 com algum grau subliminar de atração por pessoas do mesmo sexo, o 2 com uma manifestação maior de heterossexualidade com presença concreta de homossexualidade, o 3, a total bissexualidade e, do 4 em diante, em escala inversa. Pois bem, havendo esta fluidez, as circunstâncias culturais e circunstanciais do meio podem, sim, te levar mais pra um ou outro lado de sua sexualidade. E aí poderia se falar de um plano de readequação sexual por meio de renúncia de desejo sem cair em preconceito. Assustou-se com a renúncia do desejo, progressista leitor? Ora, toda a base da civilização é colocada pela renúncia sexual. Se fôssemos escravos de nossos apetites, voltaríamos à pré-historia, em que homens seduziam as moças pelo tacape e força bruta. A maior base da civilização é a unidade da família, em que um casal cuida de sua prole e renuncia aos apetites sexuais por outros parceiros, o que evita conflitos íntimos, pessoais e até guerras inteiras por causa de um rabo de saia. Por isto, um rapaz, digamos, entre o nível 2 ou 3 da escala Kinsey, poderia tranquilamente procurar uma terapia pra tentar sublimar seu desejo por ouros homens (ou uma mulher, por razões avessas), uma vez que o desejo, o afeto e o intuito de cuidado que ele teria por sua mulher seria maior que sua eventual atração por outros homens. E esta sua ”castração homoerótica” seria salutar à manutenção da base familiar que sustenta a civilização.

Nenhum problema, se não houvesse a ditadura progressista gayzista, que crê que a ”pessoa é para o que nasce” e que a sexualidade é inarredável na condição humana. E ela não é, como provamos acima. Todos somos mais ou menos fluidos sexualmente. O que nasce em nossa base genética dialoga sempre com o meio. Uma pessoa não é para o que nasce. O que nasce com a pessoa se transforma, se modifica e se altera com sua vivência. E a vivência de uma pessoa altera o meio. Um instinto de realização familiar pode ser maior que um desejo cru. Um instinto de realização para além da satisfação de qualquer desejo pode ser um prazer para além do prazer imediato. O progressismo moderno tem tara com prazer imediato. Todo o discurso neoprogressista é construído em nome da defesa do prazer e da identificação pela escolha de seu prazer. Ora, o prazer imediato se esvai com um orgasmo. Um prazer de realização e mesmo de sacrifício em nome de algo maior ultrapassa os limites de um orgasmo que dura menos de um segundo. Uma realização para além do prazer imediato se projeta para a eternidade que se constrói na base cotidiana de uma realidade amorosa. O apego a um amor familiar, a um filho, a uma família, a uma cidade, a um estado, a uma nação, a todas estas bases civilizatórias, exigem renúncias de todo o tipo.

Claro que um ou uma homossexual pode criar laços familiares dentro do escopo da escolha de sua sexualidade (sim, escolha, dentro dos parâmetros de fluidez). Nenhum preconceito na escolha de quem quer que seja. É claro que homossexuais têm receio que reacionários xiitas tentem estigmatizar e criminalizar a homossexualidade, como fazem há décadas. Talvez por isso a sanha em dizer que sexualidade é algo de condição. Mas não é exatamente e exclusivamente. Negar que a sexualidade tenha um contingente de escolha e que as origens de nossas escolhas sexuais sejam, em grande medida, influenciadas pelo meio é negar a complexidade de nosso próprio desejo. E negar que a construção da castração de nosso desejo, em nome de um bem coletivo, tenha um valor moral e ético é negar as bases de nossa própria humanidade – e civilização.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.