Bolsonaro ainda se mostra deslumbrado com a visita que fez a Putin

Em primeiro pronunciamento sobre o assunto, presidente brasileiro não explicou se a neutralidade será mantida caso os ataques do país de Putin sejam dirigidos a civis

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 28/02/2022 15h39
ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP - 22/02/2022 Putin Rússia Ucrânia Vladimir Putin, presidente da Rússia, determinou na última quinta-feira que seu exército invadisse a Ucrânia

A posição do Brasil em relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia é vergonhosa. Temos um presidente que se nega a se posicionar diante de um ataque que tem tudo para se transformar num massacre, ao contrário do que fizeram praticamente todas as lideranças do mundo. A última de Bolsonaro, depois do silêncio desde o início da agressão, foi dizer que o Brasil se manterá neutro. Triste ver um país que caminha cada vez mais sem rumo e agora parte para a covardia como forma de existir no mundo. Neste domingo, 27, no Guarujá, litoral de São Paulo, Bolsonaro se manifestou sobre a invasão e disse que o Brasil não vai tomar partido e manterá uma posição neutra em relação à invasão da Ucrânia. Esta foi a primeira vez que Bolsonaro falou a respeito do assunto. O presidente brasileiro não deixou claro se a neutralidade será mantida caso os ataques da Rússia sejam dirigidos a civis. Não deixou claro porque essa é a forma mais covarde de não se posicionar. Bolsonaro se negou a responder se telefonou para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Afirmou apenas que não responderia a essa pergunta. Vamos deixar de hipocrisia. Tudo que Bolsonaro disse tinha um viés simpático a Putin. Uma coisa não declarada. Mas há coisas que não necessitam de declaração. A conversa de Bolsonaro à imprensa neste domingo deu até a impressão que ele não sabe o que está ocorrendo. Parece inacreditável, mas é exatamente assim.

Seja como for, o Brasil apoiou a resolução do Conselho de Segurança da ONU que critica a agressão russa contra a Ucrânia, certamente desagradando o presidente Bolsonaro que, o tempo todo, desde o início da invasão, não marcou sua posição como presidente da República Federativa do Brasil, mas sempre dando a entender que apoiava a Rússia. Em seu discurso, o embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa, reforçou a defesa de uma solução pacífica para a invasão e criticou a Rússia de forma contundente desde o início das tensões. Bolsonaro sempre quietinho, o que é próprio daqueles que insistem em caminhar na contramão do mundo. O embaixador brasileiro observou que as preocupações de segurança manifestadas pela Rússia nos últimos anos, particularmente em relação ao equilíbrio estratégico na Europa, não dão à Rússia o direito de ameaçar a integridade territorial e a soberania de outro Estado.

Até então, apenas o vice-presidente, general Hamilton Mourão, havia comentado a agressão russa, na quinta-feira, 24, com palavras verdadeiras. Afinal, Mourão é vice-presidente do Brasil. Pertence ao governo brasileiro. É o 2º na hierarquia do poder. Mourão disse que o Brasil não concorda com a invasão da Ucrânia pelas tropas russas. Observou que o Brasil não está neutro e já deixou claro que respeita a soberania da Ucrânia. Observou que “o mundo ocidental está igual ao que ficou em 1938 com Hitler, na base do apaziguamento”. Falou certo o vice-presidente da República. Tem absoluta razão. Disse o que disseram os grandes líderes da civilização. Mas foi o bastante para despertar os sentimentos furiosos de Bolsonaro que, na sua live semanal, despejou todo o lixo que costuma guardar na cabeça, criticando Mourão de forma contundente. 

Ao desautorizar a declaração de Mourão, Bolsonaro disse, em outras palavras, que quem manda é ele, mais ninguém. Citou o artigo 84 da Constituição para explicar que só o presidente pode falar sobre assuntos assim. “E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro e ponto final”. Não citou o nome do vice Hamilton Mourão, preferindo dizer que “essa pessoa” que falou está falando de coisas que não deve. “Não é de sua competência. A competência é minha”. Que beleza! “Essa pessoa.” Nega-se a dizer até o nome de seu vice. E Bolsonaro continuou seguindo em direção a um isolamento que tudo indica que ainda lhe será bastante amargo. Não se posicionou, como fizeram outros mandatárias no mundo inteiro. Afinal, o que deseja o presidente? Seja como for, a palavra final do Brasil sobre a agressão covarde da Rússia ficou por conta do embaixador do Brasil na ONU. Menos mal.

Bolsonaro continuou utilizando as redes sociais com evasivas. Nunca se posicionando a respeito da guerra, como exige o mundo dos grandes homens. Em vídeo feito com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, Bolsonaro ignorou completamente o ataque da Rússia à Ucrânia. Preferiu falar de futebol, Argentina e MST. O Itamaraty, por sua vez, insistiu com aquela ladainha de sempre, sem definir uma posição firme sobre a covardia. Notas vazias de conteúdo humano. O vice Hamilton Mourão comparou Vladimir Putin ao Adolf Hitler. E está correto. Já Bolsonaro ainda se mostra deslumbrado com a visita que fez a Putin em Moscou, antes da invasão covarde. O presidente continua deslumbrando e ainda oferecendo a “solidariedade” brasileira, como o fez na ocasião da visita. E no domingo, decidiu falar à imprensa, passando o carnaval do litoral paulista. E deu a entender que o Brasil é neutro. Até isso não ficou claro. Aliás, no Brasil, faz tempo que nada fica claro. 

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