Brasil tem sido palco de cenas lastimáveis de gente que parece não ter respeito pela democracia

Espetáculo deprimente brasileiro começa com a CPI da Pandemia, em que reina o mau-caratismo; em seguida, vem a conduta de Bolsonaro, que fala o que quiser sem medir as consequências

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 12/07/2021 13h29
Jefferson Rudy/Agência Senado CPI da Covid-19 A CPI tem como presidente o senador Omar Aziz, como vice-presidente o senador Randolfe Rodrigues e como relator o senador Renan Calheiros

A semana que passou foi uma espécie de prova para os mais sensíveis aos acontecimentos do país. Uma angústia. O país está perdido sem saber que rumo tomar. Os insultos se multiplicam. São discutidos via imprensa. Um xinga por um jornal e o outro responde pela TV. Foi uma semana vergonhosa também. Historicamente, não fica impune um país que vive assim. Esse espetáculo deprimente brasileiro começa com a CPI da Pandemia, em que reina o mau-caratismo e o insulto leviano aos depoentes, sempre iniciados pelo senador Renan Calheiros (MDB) que ninguém sabe explicar como tornou-se o relator da comissão. Seus interrogatórios representam uma tortura. Some-se a isso a conduta do presidente Bolsonaro, que continua a utilizar a sua live semanal para falar o que quiser sem medir as consequências de nada. Conte-se, também, a nota agressiva das Forças Armadas contra a CPI, quase uma declaração de guerra. Um dos pontos altos da live, que é um cirquinho, na semana que passou, foi quando o presidente se referiu a uma carta que lhe enviou a CPI, na quinta-feira, 8, dizendo que só ele poderia retirar o “peso terrível” que pesa sobre os ombros do deputado Ricardo Barros (PP), líder do governo, apontado como envolvido no escândalo da compra de vacinas. O que o presidente disse na live não cabe aqui neste espaço. Uma resposta indecente e raivosa.

Ainda na última quinta-feira, 8, o presidente voltou a defender a implantação do voto impresso em 2022, com o que não concorda o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, que é também membro do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro fez uma ameaça na qual o país ainda não se debruçou devidamente para analisar. Disse que sem voto impresso não haverá eleição em 2022. Como não haverá eleição em 2022? Como? Bolsonaro estaria pensando num golpe? Essa ameaça, partindo de um presidente da República, só pode produzir indagações assim. Ele vai fechar o país? As eleições não são necessárias? E para completar sua obra, Bolsonaro chamou Barroso de “imbecil” e “idiota”, por ser contra o voto impresso. Entre nós, não está certo. Se não está bom da cabeça, que se interne num hospício. Na sexta-feira, 9, o presidente do TSE divulgou uma nota indignada sobre a fala de Bolsonaro, dizendo que quem atua contra a eleição comete um crime de responsabilidade, um caminho aberto para o impeachment. Afirmou, também, que atos contra a democracia não serão mais tolerados, observando que as eleições são previstas pela Constituição do país, o que é pressuposto de um regime democrático. Assinalou, ainda, que os brasileiros podem confiar nas instituições, na certeza de que, soberanamente, escolherão seus dirigentes nas eleições de 2022, com liberdade e sigilo do voto.

Foi uma espécie de basta a Bolsonaro, que insiste em dizer que sem voto impresso não haverá eleições no ano que vem. Barroso observou que as declarações do presidente da República são lamentáveis quanto à forma e conteúdo. Nessa mesma sexta-feira, 9, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), aliado do governo, marcou uma entrevista para dizer que o parlamento brasileiro não vai admitir retrocesso. E assinalou que uma frustração quanto às eleições de 2022 é algo que o Congresso Nacional, além de não concordar, repudia. Essa foi a semana com suas cenas lastimáveis de uma gente que parece não ter cérebro nem respeito pela democracia nem pelo país. E quem, em sã consciência, dirá que Bolsonaro vai parar com essa ladainha. Ninguém. Claro que Bolsonaro continuará com esse discurso. Ou então, atrás dessas manifestações, esconde-se algo que vai além da ameaça. Fechar o Brasil ele não será capaz. Seu comportamento no governo e durante a pandemia foi sempre lamentável, distante de tudo e parecendo ser um aliado do vírus. Preocupado com isso tudo, no sábado, o presidente foi passear de moto em Porto Alegre, já que ninguém é de ferro. Esta nova semana que está começando promete muito. O presidente continua a dizer que ao invés de eleições em 2022 haverá, sim, uma comoção no país. Comoção social? Esse é o clima, cada vez mais tenso. Nada como um sábado e um domingo para descansar a vida. É um país de fortes emoções, cheio de amor para dar.

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