Campanha eleitoral nem começou e Ciro Gomes já se meteu em problema

Por enquanto, o pedetista não é mais candidato, mas quem poderá levar isso a sério? No final, todos estarão juntos no mesmo picadeiro e o espetáculo continuará normalmente

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 05/11/2021 15h39
Foto: José Cruz/Agência Brasil Ciro Gomes com o dedo levantado falando em um palanque. Homem branco, careca, usando terno preto e camisa azul por baixo. Ciro Gomes anunciou a suspensão da sua pré-candidatura às eleições de 2022 após o PDT votar a favor da PEC dos Precatórios

Um ano antes da eleição presidencial, os grandes patriotas brasileiros já estão entrando em choque. Ciro Gomes, do PDT, diz que não é mais candidato à Presidência da República em 2022. Ele se diz arrasado porque exatamente o PDT decidiu a vitória do governo na aprovação da PEC dos Precatórios. Como ele mesmo costuma dizer, a PEC do calote e da pedalada fiscal. Não esperava por isso. Os votos que faltavam ao governo para aprovar a matéria, o PDT deu de bandeja. Ciro Gomes não se conforma. A campanha eleitoral nem começou ainda. Pelo menos oficialmente. E Ciro Gomes, como sempre, já se meteu num problema. Candidato forte podendo, até, de repente, transformar-se na tão desejada terceira via, viu na atitude da bancada do PDT na Câmara um gesto de traição. O partido de Ciro deu 15 votos ao governo. Votos fundamentais para a vitória. Apenas 6 integrantes do PDT votaram contra. O governo venceu com 308 votos, somente 4 a mais do que o necessário.

Na manhã desta quinta-feira, 14, Ciro Gomes utilizou as redes sociais para demonstrar sua raiva e decepção. Um homem derrotado. Abatido mesmo. E informou que vai deixar sua “pré-candidatura” em suspenso, observando que não pode compactuar com a farsa bolsonarista. Ciro afirmou com alguma tristeza e raiva que há momentos em que a vida nos oferece surpresas fortemente negativas e nos coloca pela frente graves desafios. Assinalou que esse era seu sentimento de ver a grande parte da bancada do PDT votar a favor do governo para aprovar uma questão famigerada. Por esse motivo, deixou a pré-candidatura em suspenso e exigiu que o partido tome consciência do que fez e reavalie sua posição. Lembrou que ainda há um segundo turno para a aprovação definitiva dessa matéria. O partido tem a obrigação moral de reverter sua decisão. Ciro afirmou que a justiça social e a defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, erros administrativos graves., desvios de verbas, calotes, quebra de contratos e com abalos ao arcabouço constitucional. Ciro não quer ouvir falar na figura do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP), que costurou esse acordo fazendo muitas promessas aos parlamentares indecisos.

É sempre a mesma coisa. A maior parte dos parlamentares não tem ideologia nenhuma. Têm, na verdade, aquela ânsia de sempre levar alguma vantagem nas coisas que fazem e fazem quase tudo numa troca de favores. É é o toma lá, dá cá. Houve muita discussão ácida no final da votação. Até o petista Fernando Haddad entrou na discussão e escreveu no Twitter que o estrago no PDT  é monumental, dizendo que o partido de Ciro assinou um cheque de R$ 90 bilhões para reeleger Jair Bolsonaro. O que temos então: um Ciro Gomes sem rumo e inconformado com seus pares. Como sempre, sua candidatura já começa a sofrer os problemas de sempre, um ano antes da eleição. Parece que ele não aprendeu. Os políticos, em geral, pertencem a uma casta que está acima de todos os sobreviventes brasileiros. Mas no final, tudo isso será esquecido e todos eles tomarão o mesmo champanhe num encontro qualquer. Por enquanto. Ciro Gomes não é mais candidato. Mas quem poderá levar isso a sério? Se o PDT não retirar os votos que deu ao governo, Ciro Gomes desistirá mesmo de sua candidatura? No final, todos estarão juntos no mesmo picadeiro e o espetáculo continuará normalmente.

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