Convenção que lançou Bolsonaro à presidência teve clima de paixão

Presença da primeira-dama no evento do PL buscou ‘humanizar’ o presidente, que, em dado momento, protagonizou um momento romântico ao dar a mão a Michelle

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 25/07/2022 13h32
Reprodução / Youtube Flávio Bolsonaro Jair Bolsonaro Presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), durante convenção partidária que lançou oficialmente sua candidatura ao Planalto pelo PL

O presidente Jair Bolsonaro deixou claro: na sua cadeira, nenhum comunista vai sentar. Não se sabe se isso estava no roteiro da convenção do PL, que o presidente procurou seguir para não causar sobressaltos à equipe da campanha. Bolsonaro assegurou que nunca censurará a imprensa, como deseja “o outro”. Criticou o Supremo Tribunal Federal, dizendo que aqueles “surdos de capa preta” não podem distorcer a realidade do país. Preferiu deixar os ataques mais exaltados para os seus eleitores presentes no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Os correligionários falaram o que Bolsonaro queria ouvir. O lançamento oficial da candidatura à reeleição foi um misto de discurso político e culto evangélico. Nada contra. Trata-se de uma opção. Não há nada demais nisso. Tanto que a cerimônia foi iniciada com um discurso da primeira-dama Michelle, na tentativa de “humanizar” o marido e dizer como é Bolsonaro na intimidade dentro de casa, com o objetivo de tocar os corações das mulheres que representam uma grande parte da rejeição do presidente. Michelle cumpriu o seu papel atendendo os marqueteiros, adiantando que muitas vezes o seu marido presidente dorme angustiado com o que acontece no Brasil. A primeira-dama afirmou que quando vê o marido sorrido, ela diz: “Glória a Deus!”.

Bolsonaro criticou o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, chamando-o de “ladrão” e “cachaceiro”. Depois dos ataques ao STF, Bolsonaro conclamou seus apoiadores a saírem às ruas no Sete de Setembro para uma grande manifestação. Mas nada disse se vai ser igual ao ano passado, quando o Sete de Setembro teve um discurso de golpe. Bolsonaro falou por uma hora e dez minutos, caminhando pelo palco, tendo ao fundo as figuras mais notórias do Centrão, a quem chamou de amigos. O presidente citou o nome de Deus muitas vezes no seu discurso, dirigindo-se especialmente aos eleitores jovens e às mulheres. Bolsonaro quer seu eleitorado nas ruas no Sete de Setembro para que os homens “surdos de capa preta” compreendam que o poder pertence ao povo, observando  que todos têm que jogar dentro das quatros linhas da Constituição, como fala em todo lugar. Durante a cerimônia, houve até vinheta com o som de um tambor numa marcha militar. Lembrou ainda o Tribunal Superior Eleitoral e as eleições, que terão a participação das Forças Armadas. Para não perder o costume, reiterou que o Exército não admite fraude e tem de ser respeitado.

Dado o recado mais uma vez, o presidente iniciou a ultima parte do seu discurso indo em direção à primeira-dama, a quem deu a mão. Um momento romântico. E Michelle falou pela segunda vez, dizendo que os adversários falam que seu marido não gosta das mulheres. Como podem falar isso, se Bolsonaro sancionou mais de 70 leis de proteção à mulher? Com muitas frases bíblicas, Michele afirmou que costuma orar na cadeira do marido usada no Palácio do Planalto. Nada se falou de crise econômica, de desemprego, das discussões de ódio. Um nome bastante aplaudido na convenção foi o do deputado federal Daniel Silveira (PTB), condenado pelo STF por ataques à democracia. O mesmo aplauso recebeu o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. A cor predominante foi o verde e amarelo. Muitas faixas diziam “Capitão do Povo” e “Liberdade. Verdade e fé pelo bem do Brasil”. Pode-se dizer que foi uma festa civilizada. Todo mundo feliz. E Michelle fazendo uma declaração de amor ao marido, em cena digna de Hollywood, com o beijo na boca de Scarlett (Vivien Leigh) e Ruett Bluter (Clark Gable), no filme “E o Vento Levou”, de 1939. Foi um clima de paixão.

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