Corruptos se atropelam pelos corredores do poder com a devida proteção do STF

Com mais de 525 mil mortes, os criminosos estavam manobrando para roubar milhões de reais em cima da doença, da morte e do sofrimento de milhares de famílias brasileiras que não sabem a quem pedir socorro

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 09/07/2021 12h46
FILIPE BISPO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Profissional da saúde aplica vacina contra a Covid-19 no braço de uma pessoa Pessoas ligadas ao governo federal têm sido investigadas por supostos esquemas de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19

Não convém escrever aqui as palavras usadas pelo presidente Bolsonaro na sua live desta quinta-feira, 8, para dizer que não responderá o ofício que lhe enviou a CPI da Pandemia. Este colunista se reserva o direito de ter educação. São palavras chulas, dessas usadas em briga de rua. Não cabe a um presidente da República dizer coisas assim. Mas esse xingamento é apenas um pequeno retalho de um grande escândalo promovido pelos corruptos, mesmo em época de pandemia, roubando dinheiro destinado ao combate à Covid-19. Só um pequeno retalho que nos remete àquela famosa pergunta de sempre: Que país é este? Essa pergunta vem sendo feita desde os anos 1960 e nunca há uma resposta convincente. O país é sempre pior do que imaginamos, uma piscina deslumbrada onde os corruptos se banham ao sol protegidos por uma justiça doente. Vejam agora: com mais de 525 mil mortes, os corruptos estavam manobrando para roubar milhões de reais em cima da doença, da morte e do sofrimento de milhares de famílias brasileiras que não sabem a quem pedir socorro. E os corruptos roubando sempre. Não fica bem para um governo que se gaba ao dizer que não tem casos de corrupção. Depois daquele espetáculo deplorável ocorrido nesta quarta-feira, 7, no depoimento de Roberto Dias, que era diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, o que falta acontecer? Roberto Dias teria cobrado 1 dólar de propina em cada vacina para autorizar a compra de um lote de 400 milhões de unidades. Ele mentiu tanto o dia inteiro na CPI que acabou preso. E daí? Foi solto na mesma noite, pagando uma fiança de mil reais. E a história deve terminar por aí mesmo.

Esse caso de corrupção com as vacinas contra a Covid-19 tem de entrar para os anais da história brasileira. Enquanto o presidente faz seus discursos por aí, sempre naquele tom que todo mundo já conhece, os corruptos roubam à vontade. Bolsonaro já disse que não sabia de nada. Sempre atrasado nessas histórias vergonhosas de um país que também não tem vergonha na cara, o governo decidiu exonerar Lauricio Monteiro Cruz nesta quinta-feira, 8, do cargo de diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde. Esse senhor participou ativamente da negociação para a compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, intermediada pela empresa Davati Medical Supply. Lauricio Cruz estava no governo desde agosto de 2020, nomeado pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Foi Cruz quem autorizou o reverendo Amilton Gomes de Paula a tratar da compra das 400 milhões de doses. O senhor reverendo é fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, uma entidade privada. As denúncias de corrupção na área da Saúde são indecentes. Envolve corruptos de todos os calibres, gente “importante” dentro do governo. Na verdade, uma gente que, quando no poder, mostra seu retrato mais fiel de ladrão. O que interessa é o dinheiro. Uma verdadeira quadrilha que conta até com um policial militar da cidade de Alfenas, em Minas Gerais. Tem de tudo.

Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro resolveu ir a uma missa em Brasília, nesta quinta-feira, 8, na Paróquia Nossa Senhora da Saúde. O presidente estava acompanhado de alguns parlamentares mais próximos. O objetivo do encontro na missa foi “estreitar os laços” com os políticos, de acordo com um padre que ajudou na celebração. Bolsonaro não quis discursar. O padre Rafael Souza Santos disse que a Igreja de Jesus Cristo sabe das dificuldades de todos os dias e por isso reza pelo presidente. A missa foi transmitida pela TV Brasil, que pertence ao governo. Diante desse quadro desolador, ainda falta explicar o escândalo com a vacina Covaxin, da Índia, um negócio que anda mais ou menos num segundo plano por baixo dos panos. É tanto escândalo que não dá para administrar tudo de uma vez. Os corruptos se atropelam pelos corredores do poder, com a devida proteção do STF, que gosta de ver essa gente solta na rua. Para completar, sabe-se que Roberto Dias, aquele do Departamento de Logística, escreveu um dossiê sobre a roubalheira, que está com um amigo na Espanha. Abandonado como foi pelo governo, é uma espécie de vingança. Dizem as más línguas que se esse dossiê for conhecido muita gente considerada séria no governo vai dançar. É coisa de quadrilheiros mesmo. O Brasil não escapa disso. Sempre estará à mercê dos grandes ladrões que agem impunemente. A justiça brasileira é boazinha. Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro continua a falar, chegando a dizer que, se não for com voto impresso, não haverá eleição no ano que vem. E fica por isso mesmo. 

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