Descaso do governo em relação à Amazônia leva Brasil às manchetes dos mais importantes jornais do mundo

Sem proferir nem uma palavra de solidariedade às famílias de Bruno Pereira e Dom Phillips, Bolsonaro demonstra que meio ambiente é coisa que não interessa ao Brasil

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/06/2022 11h50
EFE/ Raphael Alves Mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira causaram comoção mundial Restos mortais encontrados no local das buscas por Bruno e Dom chegaram a Brasília na quinta-feira, 16

Nem uma palavra de solidariedade às famílias do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, assassinados por bandidos em uma região da Amazônia. Nada. Nenhuma palavra. Às vezes que o presidente Jair Bolsonaro falou sobre o assunto, usou da forma mais covarde para explicar o crime: subliminarmente, colocou a culpa nas vítimas, não nos bandoleiros. É constrangedor. É tudo constrangedor, ver o Brasil nas manchetes dos mais importantes jornais do mundo inteiro relatando essa conduta do governo brasileiro, que abandonou a Amazônia para os criminosos que fazem o que bem entendem, destruindo a floresta todos os dias. O país já se acostumou com esse desmando, agravado como nunca se imaginou a partir de 2018. O meio ambiente é coisa que não interessa ao Brasil. Preservar a floresta? Para quê e para quem? A ordem é destruir tudo, até a última árvore.

Na verdade, morreram dois heróis dos povos da Amazônia. Heróis para os povos da floresta, não para um governo que pouco se lixa com essa região brasileira nas mãos de verdadeiros gangsteres que agem com absoluta liberdade sem serem importunados por ninguém. Os órgãos que representavam o governo na região foram quase todos desativados, deixando o caminho aberto para todo tipo de bandido que mata indígenas, violenta mulheres, ameaça de toda maneira. E o presidente brasileiro fala sobre o crime como se estivesse discutindo um assunto qualquer. Até integrantes do próprio governo, que mantêm o anonimato, desaprovam esse palavreado do presidente da República. No entanto, Bolsonaro não está sozinho nisso. Não. Muitos pensam da mesma maneira e dizem que as vítimas assassinadas são as culpadas. Não dá mesmo para viver em um mundo assim.

Bolsonaro chegou a dizer que o jornalista Dom Phillips era malvisto na região onde foi morto. E demonstrando uma espécie de pouco caso em relação à vida, afirmou que o jornalista e o indigenista brasileiro Bruno Pereira estavam fazendo uma “aventura não programada”. Quer dizer, na visão estreita e insensível do presidente da República, o jornalista e o indigenista que ficassem no seu lugar. Portanto, são culpados pelo aconteceu. Não precisa falar declaradamente. Para bom entendedor, meia palavra basta. O presidente do Brasil diz, ainda, que antes de fazer sua “excursão” pelo lugar, Dom e Bruno deviam tomar mais cuidado consigo mesmos. Para o presidente, o jornalista inglês era malvisto porque  sempre escrevia contra os garimpeiros e outras mazelas de uma região brasileira que não tem lei. Dom Phillips e Bruno Pereira estavam na Amazônia para denunciar o desmando cada vez maior do abandono… Sim, presidente, eram malvistos pelos grandes ladrões, incluindo, aí, os madeireiros ilegais, que desmatam com plena liberdade. É um descaramento.

Um especialista em meio ambiente, Ricardo Rao, que entrou na Fundação Nacional do Índio (Funai) junto com Bruno Pereira, em 2010, define bem tudo que viu e que ainda está acontecendo, cada vez de maneira mais acintosa na região. Após sofrer ameaças de morte dos bandoleiros que agem na Amazônia, Rao preferiu fugir do Brasil com a família e foi viver em Roma. Fugiu quando entendeu que seria mesmo vítima de “uma morte violenta”. Ele acompanha tudo da capital da Itália e resume essa história escabrosa que não merece atenção nenhuma do governo brasileiro. Diz o ambientalista: “Estou destruído. Olha o que estão fazendo com meus amigos, com os índios e com o Brasil!”. Essa frase já bastaria, mas Rao, experiente no assunto pelo tempo que serviu na Funai, completa dizendo: “O Brasil está nas manchetes do mundo inteiro, mas nada vai mudar”.

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