Elon Musk agiu como se fosse comprar o Brasil

Se o bilionário veio com esse objetivo, que comece por Brasília, incluindo todos os prédios do Judiciário, do Legislativo e do Executivo, que compre tudo e jogue em algum canto do mundo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 25/05/2022 14h02
Reprodução/Twitter/@jairbolsonaro Jair Bolsonaro aperta a mão de Elon Musk em frente a um painel do Conecta Amazônia Jair Bolsonaro se encontrou com Elon Musk no interior de São Paulo no dia 20 de maio

Afinal, o que o homem mais rico do mundo, Elon Musk, veio fazer no Brasil? Veio ganhar mais dinheiro? Que conversa é essa, cantada em prosa em torno dessa figura? Ele chegou ao país como se fosse comprar o Brasil. Até o presidente Jair Bolsonaro, lamentavelmente, se aprontou depressa para estar no encontro com Elon Musk num hotel de luxo na cidade de Porto Feliz, interior de São Paulo. Certamente, Bolsonaro nunca ouvira falar nessa figura. Poderá ter ouvido, sim, mas nunca imaginou que se depararia com ele para tratar de assuntos brasileiros. O que espanta e assusta é ver certo jornalismo dar vivas à visita do homem mais rico do mundo, como se fosse ele a nossa salvação. 

De inicio, seria um encontro para discutir a floresta Amazônica, destruída todos os dias sob os olhos de um governo relapso, com o dono da Tesla e do SpaceX. Mas depois, pareceu que o Brasil estava recebendo o maior líder do mundo. O evento tinha até nome: “Conecta Amazônia”, encontro promovido pela Secretaria de Comunicações do governo e que contou com a presença de empresários brasileiros de vários setores da economia. Musk dizia que veio ao país para firmar parcerias com o Brasil, como desenvolver um projeto envolvendo satélites e programas de acesso à internet na Amazônia.

O presidente brasileiro teve a coragem de discursar em homenagem a Musk, falando em “sopro de esperança”, referindo-se ao desejo do bilionário de comprar o Twitter. Bolsonaro disse também que a parceria do governo brasileiro com a empresa do homem mais rico do planeta vai mostrar a Amazônia para o mundo. Para o presidente do Brasil, Musk é um “mito da liberdade”. Textualmente: “O mundo passa por pessoas que querem roubar a liberdade de nós, e a liberdade é a semente para o futuro”. Foi tanto confete que o presidente brasileiro concedeu ao ricaço a Medalha da Ordem do Mérito por seus serviços prestados ao Brasil. Serviços prestados? Quais, cara pálida? O Brasil virou um mendigo que está aceitado esmolas. O considerado homem mais rico do mundo é porventura um libertário, que percorre o mundo para salvar povos da miséria? Não dá para entender. Se Musk veio até aqui para comprar o Brasil, que comece por Brasília, incluindo todos os prédios do Judiciário, do Legislativo e do Executivo. Compre tudo e jogue em algum canto do mundo. 

Este colunista teve informação de um empresário presente no almoço que a conversa com Musk foi abaixo da futilidade. Parecia uma festinha de aniversário. Ele veio aqui por interesses comerciais próprios, nada além disso. Nada se falou de sério. Uma conversa para boi dormir. No fundo, um grande golpe publicitário, com o Brasil servindo de pano de fundo. Esse empresário informou a este colunista que alguns dos convidados sequer ficaram para o almoço. Deram um jeito de cair fora ao perceber a inutilidade daquele encontro. Um encontro para nada que começa a merecer a atenção de alguns parlamentares em busca de explicações para essa visita inútil.

De tecnologia quase nada se falou, só algumas palavras vazias. E ainda houve o constrangimento de alguns fazerem uma selfie com o bilionário. O empresário que falou a esta coluna diz que até agora não sabe exatamente qual a razão daquele encontro que, à última hora, contou com a presença até do presidente da República. Chegou a dizer, lamentando-se, que o Brasil é, de fato, uma republiqueta. Não dá mesmo para entender como é que um país se submete a vexames assim. Um vexame que, no fundo, revela a nossa mediocridade administrativa e uma profunda pobreza de ideias. Nada além disso.  

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.