Em nova fase paz e amor, Bolsonaro engata namoro com o STF

Em gesto tido como de boa vontade, presidente se dispõe a ser ouvido presencialmente no inquérito que apura sua tentativa de interferência na Polícia Federal

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 07/10/2021 13h06
Alan Santos/PR Diante de um púlpito no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro discursa na cerimônia de recepção aos atletas olímpicos e paralímpicos; alguns de seus ministros aparecem atrás, sentados, um pouco desfocados De acordo com o ofício da AGU, Bolsonaro deseja ser ouvido pessoalmente em “plena colaboração com o STF"

O presidente Jair Bolsonaro está namorando com o Supremo Tribunal Federal. Namoro firme. Logo poderão ficar noivos e casar. Mas, por enquanto, só pode pegar na mão. Apenas carinho e afeto. Afagos, só delicados. O presidente parece que decidiu mesmo mudar sua conduta. Quer ter uma postura de presidente da República. Não quer mais briga com ninguém. Pelo menos é o que parece. Tanto que Bolsonaro encaminhou uma manifestação ao STF comunicando quer deseja prestar depoimento pessoalmente no inquérito em que é acusado de interferir na Polícia Federal. A investigação foi aberta em 2020, quando o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, fez essa acusação.

O pedido para Bolsonaro depor pessoalmente foi feito pela Advocacia Geral da União (AGU). Diante do desejo presidencial, o STF suspendeu o julgamento que faria nesta quarta-feira, 5, para determinar a forma do depoimento. De acordo com o ofício da AGU, com uma gota de perfume, o intuito de Bolsonaro representa “plena colaboração com a jurisdição do STF”. Uma carta de amor. O advogado-geral da União, Bruno Bianco, afirmou que Bolsonaro manifesta, perante a Suprema Corte da Justiça do país, o seu interesse em comparecer pessoalmente. A AGU observa que o presidente da República solicita a possibilidade em local, dia e hora previamente estabelecidos, em aplicação ao que prevê o Código de Processo Penal, a prerrogativa que contabilize o pleno exercício das funções do presidente e o seu direito de defesa na ocasião do depoimento presencial. O atual relator do inquérito é o ministro Alexandre de Moraes.

Faz um ano que o STF estava para julgar a forma do depoimento, se presencialmente ou por escrito. Nessa ocasião, o então decano do tribunal, Celso de Mello, comentou o assunto, dizendo ser contra um depoimento por escrito, porque, conforme disse, o presidente da República é um cidadão como outro qualquer. Ninguém, absolutamente ninguém, teria a legitimidade para transgredir e vilipendiar as leis e a Constituição do país. Mello já foi embora do Supremo e o assunto se resolveu sem discussões agressivas. O gesto de Bolsonaro está sendo visto como de boa vontade com a Corte, o que se estende a outros poderes de República. Agora é “Bolsonarinho Paz e Amor”. Nada de briga com ninguém.

Os auxiliares mais próximos do presidente dizem que ele mudou. Bolsonaro não quer mais conflito com ninguém, a começar pelo Judiciário, que era o seu alvo preferido. O presidente mudou a linguagem depois daquele desastre dos discursos de 7 de Setembro, em que só faltou xingar a mãe de alguns desafetos. Não. De agora em diante, vai ser tudo na base da paz. Por isso, Bolsonaro está namorando o STF. Mas, como já se disse acima, por enquanto só pode dar as mãos. É melhor esperar um pouco para ver se de fato vai dar noivado e depois casamento. Dizem as más línguas de Brasília que o presidente comparecerá ao depoimento com um buquê de lírios brancos nas mãos.

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