EUA se veem no direito de interferir no processo eleitoral do Brasil como se aqui fosse o quintal da casa deles

Estados Unidos deveriam se preocupar com a vida deles e deixar a vida do brasileiro em paz, mas postura mostra que o mundo está de olho no nosso destino

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 29/07/2022 12h50
Fernando Frazão/Agência Brasil urna eletrônica Eleições brasileiras estão programadas para outubro deste ano

Eleições brasileiras, especialmente a presidencial, estão na mira de projeto de lei nos Estados Unidos, observando que as Forças Armadas devem se manter neutras para evitar problemas. A emenda propõe que a tal chamada “assistência de segurança”, sempre lembrada pelo presidente Bolsonaro, seja eliminada pelas forças democráticas caso os militares estejam planejando um golpe. A lei foi proposta pelo deputado democrata Tom Malinowski, de Nova Jersey, argumentando que as Forças Armadas brasileiras não devem se envolver nas eleições de outubro, como determina a Constituição. Tem mais: após as eleições, e escolhido o novo presidente do Brasil, o Departamento de Estado dos EUA terá 30 dias para apresentar um relatório ao Congresso norte-americano relatando o procedimento das Forças Armadas no pleito.

Os Estados Unidos, na verdade, deveriam se preocupar com a vida deles e deixar a vida do brasileiro em paz, mesmo não existindo paz nenhuma no país. De qualquer maneira, os EUA se veem no direito de interferir no processo eleitoral do Brasil, como se isto aqui fosse o quintal da casa deles. Tudo bem, o processo eleitoral do Brasil é uma temeridade. Existe, sim, ameaça de golpe. Mas deixem, por favor, que nós mesmos resolvamos nossos problemas na verdade insolúveis. O projeto de lei, que foi noticiado pelo jornalista Brian Mier, no site Brasilwire, prevê a anulação da ajuda de segurança caso as Forças Armadas tenham um papel decisivo nas eleições. O Congresso dos EUA deverá, então, avaliar se os militares brasileiros atuaram de forma antidemocrática. Isso vale de maneira especial se as Forças Armadas manipularam ou procuraram manipular ou até cancelar os resultados das eleições. E mais: o relatório do Departamento de Estado terá de relatar se os militares incitaram ou facilitaram rebeliões em relação ao processo eleitoral e se colocaram em dúvida o resultado das eleições brasileiras.

No encontro que teve com o presidente Joe Biden, Bolsonaro levantou suspeitas sobre as eleições no Brasil por questões ideológicas, dizendo que deseja eleições limpas, transparentes e auditáveis. Afirmou, também, que chegou à presidência da República pela democracia e deixará o cargo também de forma democrática. Seja como for, os políticos progressistas americanos temem as ameaças à democracia brasileira, citando a percepção internacional de que os militares brasileiros poderão agir contra a democracia no Brasil. O presidente Joe Biden também já demonstrou preocupação com Bolsonaro e seus aliados quanto às normas da democracia. 

A verdade é que o presidente Jair Bolsonaro fala demais. E sua fala quase sempre vem com uma casca de ameaça, particularmente com respeito à eleição, com seus ataques histéricos às urnas eletrônicas. Fala demais. E não mede as palavras. Mas esse é um problema brasileiro, não dos Estados Unidos. Para o Brasil, bastam os políticos que andam pelo país há séculos ocupando os altos cargos. Basta isso para nossa agonia. Não precisa preocupação alheia. A nossa já basta e já passou da medida. Seja como for, essa posição do governo americano revela que o mundo está de olho nos destinos brasileiros, entregue às traças. 

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