Fim do auxílio emergencial deixa milhões de brasileiros entregues à própria sorte

Benefício do governo durante a pandemia será encerrado no dia 31 deste ano e tudo indica que a prorrogação dele é carta fora do baralho

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 18/12/2020 13h54
Marcello Casal Jr/Agência Brasil Especialistas recomendam que sejam feitos cálculos antes de pedir a revisão dos valores Nos primeiros meses em que o auxílio foi pago, o valor era R$ 600, mas passou a ser de R$ 300

Daqui a alguns dias viveremos a passagem do ano. Um novo ano que sempre traz para as pessoas o alento de um tempo melhor. Infelizmente não será assim, pelo que todos estamos vendo no dia a dia. O Brasil caminha para um momento de muitas dificuldades. Pior: na falta de uma liderança que pudesse falar ao país, temos ainda que amargurar um negativismo que não cabe mais na vida de ninguém. O Brasil começará 2021 com o fim do auxílio emergencial, deixando milhões de pessoas praticamente entregues à própria sorte. Criado em abril, o auxílio emergencial será encerrado no próximo dia 31. O auxílio foi criado pelo governo para atender pessoas em dificuldades por causa da pandemia, levando milhares e milhares ao desemprego e à fome declarada. Inicialmente, por iniciativa do presidente Bolsonaro, o auxílio emergencial foi de R$ 600 e, em setembro, passou a ser de R$ 300, já que o governo não suportaria uma carga tão pesada. Falta dinheiro. O auxilio emergencial beneficiou 68 milhões de pessoas no país. Infelizmente, o fim do auxílio emergencial prevê um período de muito sofrimento para os brasileiros carentes, mergulhados em extrema pobreza, que somam muitos milhões de pessoas. Já se sabe que logo no início de janeiro de 2021, essa pobreza deverá atingir até 15% da população do país. Isso significa quase 14 milhões de pessoas, de acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No que diz respeito à pobreza extrema, esse total poderá chegar a 51 milhões de pessoas.

Falando à Jovem Pan na terça-feira, 15, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, informou que em 2020 o governo gastou R$ 330 bilhões para atender quase 70 milhões de pessoas com o auxílio emergencial. Onyx observou que o auxílio vai acabar, mas que existem meios no governo para que essas pessoas não fiquem desassistidas. Adiantou que em janeiro de 2021, Bolsonaro anunciará ao país o novo Bolsa Família para beneficiar perto de 20 milhões de pessoas. O governo apresentará, também, uma proposta de micro crédito produtivo para pessoas que trabalham, mas não apareciam em cadastros do governo nem de bancos. Será também mais uma medida para que milhões de brasileiros possam superar seus problemas para sobreviver. É mesmo uma questão de sobrevivência.

Sem o auxílio emergencial o país sentirá mesmo os efeitos de uma pobreza perversa que se estende num país de tamanho continental, onde, além de tantos  problemas, quase 15 milhões de pessoas, de chefes de família, estão sem emprego. Em suma: o Brasil entrará no novo ano vestido de incertezas ainda difíceis de calcular. Sabe-se que serão graves. Não se sabe, ainda, a sua extensão. O governo não tem ainda um programa de auxílio que caiba no Orçamento sempre difícil de decidir. Tanto é assim que até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ofereceu argumentos ao governo, observando que investir nas vacinas contra a Covid-19 sai mais barato do que prolongar o auxílio emergencial à população. Em outras palavras, afastada a doença, as pessoas voltarão às suas atividades para ganhar a vida, fazendo a economia andar. 

Há um movimento no Congresso que tenta prolongar o auxílio emergencial. O ministro da Economia, Paulo Guedes, não concorda e se mostra irredutível, afirmando que uma medida assim se resumiria no que ele chama de “populismo fiscal”. Esse movimento quer estender o auxílio para 31 de março de 2021, por um projeto do senador Alessandro Vieira, do Cidadania. O próprio Bolsonaro já afirmou que se vingar, esse projeto fará a economia brasileira perder a credibilidade que ainda tem. Sem dizer que a inflação teria uma nova força de pressão que atingiria especialmente a população mais pobre. O governo encerra esse assunto dizendo que não existe espaço fiscal para prolongar o auxílio. Não tem jeito. O país chegou no seu limite. Tudo indica, mesmo, que prolongar o auxílio emergencial é uma carta fora do baralho. O país não pode incorrer num erro fiscal dessa natureza. E esse fato causa intranquilidade, por ser profundamente impopular. Isso implicará na popularidade do governo, que vem caindo e deverá cair mais. E ao fundo, a imensa sombra de pessoas perdidas num mundo de asperezas. Incontornável. Duro. Insuportável. Um beco sem saída.

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