Governo troca uma propaganda enganosa por outra: sai ‘Brasil forte’, entra ‘pátria vacinada’

Depois de suspender publicidade que não fazia qualquer menção aos problemas da Covid-19, Ministério das Comunicações agora fabrica esforço de Bolsonaro para garantir vacinação

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 13/05/2021 13h41 - Atualizado em 13/05/2021 13h46
Divulgação/Ministério da Saúde Rodeado por pessoas fantasiadas de Zé Gotinha (uma família do personagem, com mãe, pai, filho e avós), Marcelo Queiroga, vestido com trajes sociais e máscara, usa microfone para falar O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participa do lançamento da campanha "Pátria vacinada"

Finalmente, o governo federal decide realizar uma campanha publicitária em favor da vacinação. Decidiu tarde demais. Todo mundo sabe que o governo é contra a vacinação e todas as medidas tomadas até agora contra a Covid-19. O governo decide realizar a campanha e vai boicotar a própria campanha. Uma postura comentada no mundo inteiro. Praticamente todos os dias, algum jornal, especialmente dos países europeus, publica uma notícia sobre o comportamento de Bolsonaro frente ao que acontece na pandemia no Brasil. Essa iniciativa em favor da vacinação entra no lugar de outra, que tinha como mote “Um Brasil forte, uma grande nação”. Ocorre que, até mesmo dentro do governo, houve reação contra, com o argumento de que essa publicidade não cabe neste momento em somamos mais de 425 mil brasileiros mortos pela Covid-19. Essa campanha enaltecendo o país foi cancelada pelo Ministério da Comunicação, levando ainda em conta a realização da CPI da Covid-19, que vai causar muitos estragos.

Em outras palavras, a campanha suspensa dizia que o Brasil é o maior país do mundo e não fazia qualquer menção aos problemas que a Covid-19 vem causando com falta de medicamentos, de leitos e hospitais quase em colapso. Nada dizia nada da doença. Só falava na recuperação da economia, sem qualquer palavra sobre a vacinação e número de mortos. Quer dizer: uma campanha incompatível para o momento atual em que vivem os brasileiros. A publicidade foi suspensa no dia 3 de maio e só agora tornada pública com detalhes. O governo decidiu mudar. O objetivo agora é apresentar à população as ações de Bolsonaro para garantir a vacinação a todos os brasileiros. Custe o que custar. Especialmente agora que o governo é um dos alvos da CPI. A campanha barrada, que na verdade mostrava um Brasil que não existe, estava orçada em R$ 8 milhões. A propaganda oficial dizia que com trabalho e coragem, a pátria amada renasce pautada no respeito de cada brasileiro e na esperança de um futuro melhor para todos. E todas essas palavras lindas eram ilustradas com gente jovem bonita e bandeiras verdes e amarelas. Todo mundo feliz. Uma felicidade que não existe.

A campanha suspensa dava a ideia de que o Brasil continuou a trabalhar, apesar da pandemia. De acordo com o jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, o planejamento foi entregue a três agências de publicidade, a Artplan, a Calia e a NBS. O governo escolheu a Calia, que entregou dois vídeos, um de um minuto e outro de 30 segundos, mostrando um país competitivo, inovador e com grande potencial de negócios e capacidade de realização. A contratação foi assinada por Fábio Wajngarten, então secretário de Comunicações do governo e que, na quarta-feira, 12, depôs na CPI da Covid-19, provocando a ira dos senadores. Mentiu tanto que foi até ameaçado de prisão. Uma baixaria e muita estupidez. A peça suspensa diz que o Brasil é um país forte, que nos enche de orgulho, de esperança, coragem e fé. Palavras bonitas numa propaganda enganosa que não vai mais ser utilizada.

Em seu lugar, entra outra para mostrar as decisões do governo em favor da vacinação. Mas há o que mostrar, se a campanha da vacinação é sabotada no próprio país? Uma campanha de vacinação sem vacina, por incompetência. Em vez de lindas jovens com a bandeira brasileira, mostrará os hospitais repleto de gente doente? E quais são as ações do governo diante de quadro de horror de todos os dias? O que se conclui é o seguinte: a campanha suspensa era propaganda enganosa e a que entra no seu lugar é enganosa também. Falta vergonha e honestidade. É muita desfaçatez. Brincam com o povo subestimando a humanidade. Um Brasil forte, uma grande nação? Não é fácil ser brasileiro. O tema da campanha de agora é “Pátria vacinada”, com o selo do governo “Pátria Amada”. É muito descaramento. E já é tarde demais. A população queria vez seu governo atuante desde o início desta tragédia. O que não aconteceu. Nem vai acontecer. No governo, a ordem é torcer contra.

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