Instituições brasileiras estão caindo aos pedaços, não vai demorar muito para o país se tornar ingovernável

Autoridades de vários setores já se manifestaram sobre pedido de Bolsonaro contra Barroso e Moraes, especialmente do Legislativo, dizendo que o presidente só quer criar uma cortina de fumaça

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 16/08/2021 14h38
Rosinei Coutinho/SCO/STF - 20/02/2020 Luís Roberto Barroso estica o pescoço para ouvir Alexandre de Moraes, que está à sua esquerda (ambos estão de toga e em trajes sociais) Jair Bolsonaro quer que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, analise o impeachment dos ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes

A semana começa quentíssima. Turbulenta. Mas quando não é assim neste país que não tem paz? Parece que todos tornaram-se inimigos. O Brasil não sabe mais dialogar. Todo mundo quer ganhar no grito. O presidente Jair Bolsonaro sentiu o golpe da prisão de seu aliado Roberto Jefferson, presidente do PTB, na sexta-feira, 13, por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Sentiu fundo. Inicialmente, optou por ficar em silêncio, mas no sábado, 14, o presidente voltou a atacar os ministros da Corte usando as redes sociais. Bolsonaro comunicou que ainda nesta semana vai apresentar no Senado um pedido de processos contra Alexandre de Moraes e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luis Roberto Barroso, que é também membro do STF. Moraes mandou prender Roberto Jefferson por entender que ele integra o núcleo político para desestabilizar as instituições republicanas.

O ministro do Supremo afirma tratar-se de uma organização criminosa que atenta contra a democracia no país. E enquanto aguardava a prisão, Jefferson enviou mensagens atacando duramente o STF e seus ministros, dizendo que sua prisão representava uma ruptura da ordem institucional no país. Para Roberto Jefferson, o STF foi comprado pela China. Disse ainda que o Supremo está repetindo no Brasil o que se fez na Venezuela, na Argentina e no Chile, colocando a esquerda no poder. “É o mensalão chinês comprando ministros e a suprema corte de justiça do Brasil”, disse ele. Já o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou o bloqueio das contas de Roberto Jefferson nas redes sociais que eram usadas nos ataques. Moraes assinalou que Jefferson vem pregando o fechamento do STF e a cassação imediata de todos seus integrantes para acabar com a independência do Judiciário no país e até incitando a violência física contra os ministros. Foi preso.

O silêncio de Bolsonaro foi curto, porque no sábado, 14, partiu também para o ataque num momento bastante delicado, já que é alvo de cinco inquéritos no STF e outros no TSE, por interferência na Polícia Federal, o problema da Covaxin, ataques à urna eletrônica e vazamento de inquérito sigiloso da Polícia Federal. Mas o presidente não parece preocupado com isso. Vai entrar no Senado com pedido de instauração de processos especialmente contra Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, de acordo com o artigo 52 da Constituição Federal. Esse artigo prevê que cabe ao Senado julgar crimes de responsabilidade de ministros do STF, o que poderia significar a perda de seus cargos.

Para se ter ideia do que vem por aí, basta dizer que autoridades de vários setores da vida nacional já se manifestaram sobre o assunto, especialmente do Legislativo, dizendo que Bolsonaro quer somente criar uma cortina de fumaça e que, na verdade, trata-se de um delírio totalitário na tentativa de intimidar. É mesmo um país sem paz, sempre envolvido em intrigas e disputas descabidas de poder. Por isso, a semana brasileira começa em plena turbulência. Ninguém se entende e ninguém quer se entender. As instituições brasileiras estão caindo aos pedaços. Não vai demorar muito para este país tornar-se ingovernável. Falar em democracia começa a ser algo incômodo. Que democracia? Então democracia é isso? É essa loucura de todos os dias repleta de ofensas e insultos? Bolsonaro não arreda o pé. Está sempre pronto para uma contenda e não aceita ser contrariado ou até mesmo derrotado em algumas propostas sem sentido. O difícil é mesmo saber como este país ainda consegue andar. Vai aos tropeços, é verdade. Mas um dia vai cair de vez.

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