Integrantes da CPI não se entendem mais, todo mundo quer ser o ‘pai’ do relatório

Tensão entre Aziz e Calheiros se acentuou nos últimos dias; presidente da comissão tem feito críticas ao relator, dizendo que ninguém é dono da verdade

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 19/10/2021 13h02 - Atualizado em 19/10/2021 13h23
Edilson Rodrigues/Agência Senado Omar Aziz e Renan Calheiros na bancada da CPI da Covid-19 Vazamento de trechos do relatório da CPI gerou atrito entre Omar Aziz e Renan Calheiros

Os caras da CPI da Covid não estão se entendendo mais. Principalmente o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD), e o relator, senador Renan Calheiros (MDB). Todo mundo quer ser o pai do relatório final que pede o indiciamento de 71 pessoas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro e seus três filhos políticos. Depois de muitas discussões, os integrantes da CPI já receberam uma cópia do relatório na noite desta segunda-feira, 18, para possíveis alterações no texto. Esta noite e madrugada, os senadores da CPI conversaram muito num clima tenso. E Renan Calheiros, que tem experiência na área da corrupção, afirma que está aberto ao diálogo para alterar o documento, se necessário. Mas tem se esquivado de discutir o assunto. Por esse motivo, o senador Omar Aziz saiu gritando pelos corredores do Senado dizendo que ninguém é dono da verdade e que ninguém vai impor relatório à CPI. Um horror.

Aziz também se queixa que muitos trechos do relatório têm vazado para a imprensa. Quem passa para a imprensa é Renan Calheiros, que decidiu ser o paladino da ética e da moral no país. Assim de repente. E já está posando para as fotografias de herói nacional. O problema é o seguinte: ninguém mais está se entendendo. É tanta corrupção que a cabeça dos senadores da CPI fundiu. O presidente da CPI sempre disse que tinha o direito de conhecer o teor do relatório final. Todo mundo achava que tinha esse direito. Mas Renan esticou o assunto com muita conversa. O relatório da CPI tem 1.200 páginas que serão lidas amanhã, quarta-feira, 20. Quem é que vai aguentar isso? Omar Aziz fala mal de Renan Calheiros até para a moça da limpeza, que merece todo respeito. O problema maior é a acusação de crime de genocídio ao presidente Jair Bolsonaro pelo tratamento que deu à população indígena durante a pandemia. Calheiros tem vazado várias notícias especialmente sobre esse assunto. A questão do genocídio e do comportamento de Bolsonaro na pandemia seria discutida entre todos os membros da CPI, o que não aconteceu. 

No final de semana a situação piorou muito. Dezenas de telefonemas, todo mundo se xingando, foi uma loucura. Como essa questão não foi resolvida, os integrantes da CPI decidiram adiar a votação do documento. Ficou para a semana que vem. A ordem é evitar questionamentos judiciais de pessoas citadas no documento. De qualquer maneira, Omar Aziz garante que o trabalho da CPI não vai ser melado agora. Isso não. No entanto, Aziz não esconde de ninguém que agora não existe clima para discutir relatório nenhum. Principalmente discutir a morte de 600 mil pessoas pela Covid. Alguém tem que ser responsabilizado por isso e para se discutir uma questão assim há necessidade de entendimento.

O presidente da CPI está nervoso e ataca Renan Calheiros abertamente para quem quiser ouvir, dizendo sempre que ninguém é dono da verdade e ninguém vai impor relatório nenhum à CPI. Já Renan Calheiros é aquela raposa que toma conta do galinheiro. Ele diz que está aberto para dialogar com os senadores até porque – como ele afirma – o relatório é da CPI, não é de ninguém em particular. Renan assinala que a investigação foi parlamentar e coletiva, não pode ser individualizada. O senador Omar Aziz observa que é preciso ter cuidado para não se cair no descrédito junto à população. É preciso discutir os assuntos que devem ser analisados exaustivamente. Ao mesmo tempo em que se diz aberto para dialogar, Renan Calheiros deixa mais ou menos claro que o relatório é dele. Afinal ele foi relator para quê? Então fica tudo para a semana que vem, se eles não se matarem até lá.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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