Momento do Brasil é grave, mas não justifica o descaso com a educação

Dinheiro para investir existe, mas o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, prefere guardar, como se estivesse fazendo uma economiazinha para o país

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 16/07/2021 12h59
MARCO AMBROSIO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO sala de aula vazia com equipamento de proteção nas carteiras para garantir o distanciamento dos alunos Relatório afirma que o MEC ainda não gastou nem um centavo da verba de R$ 1,2 bilhão destinada para estruturar as escolas para a volta às aulas

O momento é grave, mas não justifica o abandono das escolas, como vem ocorrendo no país atualmente. Não falta dinheiro para cuidar, especialmente agora, quando se preparam as aulas presenciais. O dinheiro existe. Mas o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, prefere guardar, como se estivesse fazendo uma economiazinha para o país. Palmas para o ministro. Este país vive de descasos. O Brasil é mesmo um país estranho. E fica cada vez mais. Os desmandos conseguem transformar a face do país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, como diz a música antiga de Jorge Ben Jor. Se é abençoado por Deus, ninguém sabe se teve esse merecimento. E bonito por natureza depende do olhar de cada um. O olhar mais atento descobre que este é um país estranho em quase tudo. Relatório da Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação revela que o MEC ainda não gastou nem um centavo da verba de R$ 1,2 bilhão destinada para estruturar as escolas visando a volta às aulas presenciais no ensino básico. Como se nada fosse necessário. O que será que o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, tem na cabeça para agir assim? Se o dinheiro está à disposição para essa finalidade, por que não utiliza?

O relatório já foi apresentado à Câmara dos Deputados para análise. Mas, na verdade, os deputados estão muito ocupados com outros afazeres. Parece ser um costume de algum tempo para cá. Esse descalabro vem acontecendo desde 2019, quando apenas 1,8% de uma verba de R$ 2,7 bilhões foi usado para esse fim. Em 2020, o índice subiu um pouco, mas o MEC desembolsou apenas 10% da verba de R$ 1,1 bilhão disponível. O gerente de Estratégia Política no Todos pela Educação, Lucas Hoogerbrugge, afirma em entrevista ao jornal O Globo que a baixa execução dessa ação do MEC é bastante preocupante porque o momento é especial na adaptação dos espaços escolares no país. Assim como nas obras de infraestrutura, caíram também os valores para o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Educação Básica. Por exemplo, em 2020, os recursos iniciais somavam R$ 696 milhões, mas só 38% foram efetivamente pagos. Neste ano de 2021, estão disponíveis R$ 526 milhões, mas nada foi pago até agora, o dinheiro está lá quietinho, como se fosse algo desnecessário. Some-se a isso a paralisação de obras e escolas e creches.

Esse desmando vem ocorrendo em vários setores da Educação, atingindo até mesmo o Ensino Superior de várias regiões, além de deixar para um segundo plano na agenda de esquecimentos o projeto de ensino pela internet a alunos carentes que não têm condições de estudar. No fundo, é mais um deboche. Mas, afinal, a educação é um setor inútil para o país, não é mesmo? Educação para que? Bobagem gastar dinheiro nessa área. O ministro pastor Milton Ribeiro deve estar orgulhoso disso tudo. A deputada Tabata Amaral (PDT), resume tudo uma única frase: “Ao invés de andar para a frente ou ficar como estava, nós andamos para trás num dos momentos mais difíceis do país”. Não precisa dizer mais nada. O comportamento do governo é esse mesmo. Quanto mais descaso melhor. E vamos em frente.

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