Moro está perdido na política e coloca em risco a sua imagem de herói nacional

Ex-juiz passou a ser correligionário de políticos investigados pela Polícia Federal, incluindo muitos corruptos que passaram pela Lava Jato

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 04/04/2022 13h10
BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO - 01/04/2022 De óculos, terno e gravata, Sergio Moro Em pronunciamento em um hotel de São Paulo, ex-juiz Sergio Moro gala sobre filiação ao União Brasil

O jogo da política é duro. É sujo. Vale tudo. E todos são traidores de si mesmos. Quem escapa disso? Até os mais puros se envolvem em tumultos que não percebem. E são engolidos. Afinal, o que o ex-juiz Sergio Moro pretende da vida? Seus últimos lances no xadrez político brasileiro revelam que Moro, o duro juiz de Curitiba, que enfrentava os corruptos sem contemplação, está agora perdido, fazendo desaparecer aquela figura que todos conhecem e que já foi chamada de “herói nacional”. Agora passou a ser correligionário de políticos que já foram e estão sendo investigados pela Polícia Federal, incluindo muitos corruptos que passaram pela Lava Jato. A lista inclui grande número de políticos hoje enquadrados da Lei da Ficha Limpa. Um monte de gente que não vale nada.

Para muitos especialistas de plantão, Sergio Moro simplesmente acabou. Será? O que não falta no Brasil é especialista dando palpite, alguns estapafúrdios. Moro era candidato à Presidência da República pelo Podemos até que, na quinta-feira, 31, trocou de legenda de maneira incivilizada, indo para o União Brasil sem dar satisfação a ninguém. Na sexta-feira, 1, chamou a imprensa e fez o comunicado, negando-se a dar entrevista, dizendo  que não desistiu de nada, principalmente do seu sonho de mudar o Brasil. “Sigo firme na construção de um projeto para o país”, disse ele, informando, também, que não será candidato a deputado federal. Ao deixar o Podemos, Moro passou a impressão que desistia de ser candidato ao Planalto. Mas poderia ser, caso se filiasse ao União Brasil. No entanto, já bateu de frente com ala do partido liderado por ACM Neto, dizendo que no União Brasil, Moro será no máximo candidato a deputado federal.

Moro parece decidido e respondeu a ACM Neto que não tem ambição de cargos. Se tivesse, diz ele, teria permanecido como juiz federal ou ministro da Justiça. Moro sugeriu que todos os outros candidatos à chamada terceira via façam o mesmo que ele fez, um ato de desprendimento, incluindo nisso até o governador de São Paulo, João Doria. A impressão que dá é que Moro jogou tudo. Está subtendido aí que ele deseja ser o candidato à Presidência pelo União Brasil, o que não será fácil. Para complicar, a presidente do Podemos e deputada federal por São Paulo, Renata Abreu, a quem Moro abandonou, diz que o partido tomou conhecimento do desligamento pela imprensa. Observou que jamais mediu esforços para garantir ao presidenciável uma pré-campanha robusta. Moro, por seu lado, agradeceu com algumas palavras e pediu o apoio da sociedade civil, que será fundamental: “Se não nos mobilizarmos, não conseguiremos evitar o abismo dos extremos e do ódio”. 

Aos seus auxiliares mais próximos, Moro tem dito que não pode renunciar à sua candidatura à Presidência da República para favorecer alguém que tem apenas 1% ou 2% nas pesquisas eleitorais. Em termos de terceira via, ele diz que é o nome mais viável e competitivo. Sabe-se que tem conversado muito com a pré-candidata senadora Simone Tebet (MDB) tratando desse assunto. No sábado, 2,  Moro teve longo encontro com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), aquele que tentou dar um golpe em Doria. Falhou na primeira tentativa, mas ainda não desistiu. A verdade é que Moro não aceita ser candidato a deputado federal nem a senador. Ele quer mesmo a candidatura ao Planalto. Mas as portas estão fechadas. Pode ainda ser possível pelo União Brasil, mas o partido está dividido em relação a ele. A impressão que fica é que Moro jogou pesado. E diz que vai até o fim. Resta saber para onde. 

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