Noivado entre Bolsonaro e o PL subiu no telhado porque o presidente deseja mudar a casa inteira

Ainda sem partido, chefe do Executivo quer indicar os principais nomes do Partido Liberal para o Congresso e não aceita que a legenda apoie o vice de Doria ao governo de São Paulo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 16/11/2021 15h45 - Atualizado em 16/11/2021 16h17
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 11/11/2021 O presidente Jair Bolsonaro, de terno preto, camisa branca e gravata azul, sentado, coça a cabeça em frente a uma parede laranja O presidente Jair Bolsonaro está sem partido desde que deixou o PSL, em novembro de 2019

O noivado entre o presidente Jair Bolsonaro e o Partido Liberal (PL) está no fim. Mas o já considerado ex-noivo diz que a situação está apenas em suspenso. E que vai resolver isso nas próximas duas ou três semanas. O presidente, na verdade, não tem pressa, já que o prazo limite para se casar termina em março de 2022, seis meses antes da eleição. Tem muito tempo ainda. No entanto, pode-se adiantar que não haverá casamento nenhum de Bolsonaro com o PL, de Valdemar da Costa Neto, condenado por corrupção no mensalão de Lula. Mesmo assim, com tudo na estaca zero, Bolsonaro afirma que o matrimônio com o PL ainda está de pé, vai depender de algumas coisas. “A gente pode ainda casar e ser feliz”, disse o presidente nesta segunda-feira, 15, em Dubai, observando que tem conversado com outros partidos, especialmente o PP e o Republicanos. Tudo vai depender de Valdemar da Costa Neto, que Bolsonaro considera um ótimo administrador de problemas, com habilidade para resolver questões que parecem irreversíveis. Alguns integrantes do PL dizem que esse quadro de agora é fruto da instabilidade do presidente, que cada vez pensa de um jeito. Alguns dirigentes do partido alertam que essa conversa está indo longe demais e que se, de fato, Bolsonaro desistir do PL, haverá consequências para 2022 e que a ferida ficará aberta. 

Estava tudo acertado para a filiação. Já tinha até data marcada. Mas no domingo, 14, Bolsonaro, que está no Oriente Médio, começou a sair da história. Afirmou que tem muito a conversar ainda. Então, é preciso ir com calma. Muita calma. O presidente observou ser muito difícil resolver essa questão. Muito difícil. Quase disse “impossível”. A filiação ocorreria no dia 22 próximo, conforme o PL vinha anunciando. A data ficou marcada após reunião entre Bolsonaro e Valdemar, um dia antes da viagem do presidente. Tudo acertado. Só que Bolsonaro parece ter mudado de ideia. Com a sua linguagem de sempre, perguntou: “Querem saber a data da criança e eu nem casei ainda?”. E adiantou que o “casamento” pode demorar, se é que vai acontecer.

De acordo com Bolsonaro, Valdemar sabia disso tudo. Em outras palavras, ficou no ar aquela sensação de que Bolsonaro já descartou o PL. O presidente diz que tem muito a conversar, especialmente sobre o que ele chama de “pauta conservadora” e política externa. Só uma coisa está definitivamente acertada: ele não aceitará, sob qualquer hipótese, apoiar o PSDB em São Paulo. Nem pensar. E o grande problema é que o PL do Valdemar vai apoiar o vice do governador João Doria, Rodrigo Garcia, para o governo do Estado. Mas Bolsonaro não aceita. Nada com o PSDB de São Paulo. Nem do país inteiro. Nada. E tem mais: O PL assumiu compromisso de apoiar candidatos de esquerda em vários Estados, especialmente do Nordeste. Antes de viajar, o presidente informou que a chance do seu ingresso no PL era de 99%. Mas faltava definir o palanque em São Paulo. Pelo que vem acontecendo, já dá para dizer que o PL já era.

No que diz respeito a São Paulo, Bolsonaro quer indicar o candidato ao governo paulista, ao Senado e os nomes para a bancada no Congresso Nacional. Quer tudo. O presidente afirma que esse é apenas um “pequeno detalhe” no namoro. Adianta que está sem partido desde novembro de 2019. Então não é preciso fazer tudo agora na correria. A filiação ao PL significa também apoio do PP e Republicanos. Isso representa muito dinheiro para o caixa da campanha eleitoral. Mais de R$ 370 milhões. É um bom dinheiro para gastar com propaganda política. Essa quantia representa 30 vezes mais o que Bolsonaro dispunha em 2018, quando venceu a eleição presidencial. O que estava certo – ou quase certo – mudou completamente. Esse “pequeno detalhe” ao qual se refere Bolsonaro não é tão pequeno assim. É uma mudança total na vida do PL. Na verdade, a questão está como Bolsonaro gosta. Tudo confuso. Ele gosta de se ver em situações assim. Gosta também de viajar para discutir lá fora os problemas que tem de discutir aqui. De qualquer maneira, é bom pensar no dinheiro para a campanha. Como se vê, a ideia do casamento parece mesmo irremediavelmente desfeita.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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