Nunca se falou tanto no 7 de Setembro na história do Brasil, e não será um dia qualquer

Congresso Nacional e o STF já pediram reforço na segurança porque temem atos de violência na Esplanada; autoridades sérias do país, que são poucas, estão preocupadas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 03/09/2021 14h25
Marcello Casal Jr./Agência Brasil Valores foram bloqueados via decreto presidencial após a sanção do Orçamento de 2021 Congresso e STF pediram reforço na segurança na Esplanada dos Ministérios por temer atos de violência durante as manifestações do 7 de setembro

Você está preparado para a guerra brasileira de Sete de Setembro? É um chamado da pátria. Só não se sabe ainda se é para destrui-la ou tentar mais uma vez salvá-la da insensatez reinante. Na verdade, será um confronto, explicado assim: quem estiver com a bandeira brasileira será um patriota e quem portar qualquer outra bandeira será considerado um inimigo. Chegamos a isso. Por tudo o que se fala sobre as manifestações no Dia da Independência, eu estou aguardando uma espécie de hecatombe nuclear. O presidente Jair Bolsonaro se nega a pedir calma aos seus apoiadores nas manifestações. Cada um deve agir como achar melhor. Nesta quarta-feira, 1º, o presidente deu o tom do que pensa das manifestações ao dizer no seu discurso o conhecido ditado latino: “Se você quer a paz, prepare-se para a guerra”.

A bem da verdade, ainda não se sabe exatamente o que vai acontecer no Sete de Setembro, o Dia da Independência do Brasil. Será uma manifestação geral contra tudo. Especialmente contra o Supremo Tribunal Federal, que se guia por 11 constituições. Cada ministro do STF tem uma. Nesta quinta-feira, 2, o presidente do STF, Luiz Fux, observou que as manifestações serão acompanhadas pelo Tribunal, dizendo esperar que tudo ocorra na paz e no entendimento, sem vandalismo e violência. Ao falar, Fux não escondeu sua preocupação. Já o presidente Bolsonaro deixa escapar em conversas com amigos que as manifestações em todo o país serão ao favor de seu governo, a quem chama de “patriotas”. Nesta quinta-feira, 2, Bolsonaro também falou sobre o assunto, informando que discursará num carro de som na avenida Paulista em São Paulo e poderá ver, novamente, as bandeiras verde e amarela de seus apoiadores. Será muita loucura para um dia só.

As manifestações começam a ganhar destaque na imprensa internacional. A maioria dos jornais europeus falam em golpe e intervenção militar. É um noticiário perturbador. O mesmo que acontece por aqui. No final, parece uma balbúrdia. O Congresso Nacional e o STF já pediram reforço na segurança. Temem atos de violência na Esplanada dos Ministérios. E com o apoio da Polícia Militar, apoiadores de Bolsonaro incentivam essas manifestações contra o Tribunal, a Câmara e o Senado. As secretarias estaduais de segurança estudam uma maneira de enfrentar as manifestações porque acham que vai mesmo predominar a violência. Será mesmo uma guerra. O que se sabe é que praticamente todas as autoridades brasileiras serão desafiadas. Poucas se salvarão. Bolsonaro já falou até que as manifestações de Sete de Setembro representam um “último aviso” ao Judiciário. O presidente informou que faz questão de participar dos atos em Brasília e na avenida Paulista, onde apoiadores do governo e os contrários vão se encontrar. O que poderá acontecer nessa contenda alimentada pelo governo? Em Brasília será o mesmo: adversários e apoiadores do governo praticamente ocuparão o mesmo espaço.

Líderes evangélicos de diversas igrejas convocam os fiéis para a manifestação na Paulista que garantem ser de apoio a Bolsonaro. Fora isso tudo, há aqueles que simplesmente querem incendiar o Brasil. Uma coisa é certa: muitas das chamadas autoridades do país querem afastar os caminhoneiros das manifestações, para evitar o caos total. Uma boa parte dos integrantes do governo pede calma, mas Bolsonaro não ouve ninguém. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tem agido por conta própria para acalmar os caminhoneiros. Mas a categoria, mesmo dividida, está disposta a participar dos atos, de acordo com o que dizem as lideranças. Mas não existe ainda um alvo definido. Já o ministro minimiza a participação dos caminhoneiros nas manifestações, dizendo que o grupo que deseja participar com a deflagração de uma greve geral não representa a categoria. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Os atos de Sete de Setembro preocupam autoridades sérias do país, que são poucas. Some-se a isso tudo principalmente os atos de vandalismo e até invasão de prédios públicos. Os líderes da oposição querem convocar o ministro da Justiça, Anderson Torres, para explicar quais as medidas que o governo está tomando para evitar o pior. Grande parte deseja que as manifestações sejam pacíficas, o que não é desejo de todos, especialmente com o estímulo de Bolsonaro que quer o Brasil na rua. A verdade é que nunca se falou tanto no Sete de Setembro na história brasileira. Estão todos loucos. Os insufladores de um ato de protesto estão em todas as frentes. Não será uma manifestação qualquer, como se viu até agora. A ordem é sair às ruas, seja contra quem for. Pouco importa o resultado dessa verdadeira insurreição. O que de fato acontecerá no Dia da Independência é imprevisível. Mas podem escrever: coisa boa não será.

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