O que significa a visita da líder da extrema direita alemã Beatrix von Storch ao Brasil?

Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo, o ministro Marcos Pontes e a deputada Bia Kicis receberam a deputada no Palácio do Planalto

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 28/07/2021 16h57 - Atualizado em 28/07/2021 16h58
Instagram/Reprodução/ @beatrix.von.storch Sorridente, Jair Bolsonaro abraça a alemã Beatrix von Storch O presidente Jair Bolsonaro durante encontro com a deputada alemã Beatrix von Storch

Tem que ter aí uma mensagem a decifrar. Fora da agenda oficial, o presidente Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto a deputada alemã ligada ao neonazismo Beatrix von Storch, em clima de confraternização, muitos sorrisos e abraços. Muitas declarações de amor, abraços efusivos. Beatrix é uma das principais lideranças do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças durante o regime nazista de Adolf Hitler. A deputada também se encontrou com parlamentares bolsonaristas, tudo em clima de festa. Afinal, o que significa isso? Qual o recado que Bolsonaro quis dar ao Brasil? O encontro ocorreu já há alguns dias, mas Beatrix decidiu divulgar as fotos na segunda-feira, 26, causando certa perplexidade aos que ainda encontram um momento de paz para pensar nas coisas que acontecem por aqui.

Nas redes sociais, a deputada alemã se disse impressionada com a compreensão de Bolsonaro para os problemas da Europa e os desafios do mundo atual. Beatrix defendeu a união dos conservadores para combater a ideologia da esquerda. Ela pertence ao grupo que faz oposição ao governo de Angela Merkel e aos social-democratas no poder na Alemanha. A AfD foi colocada em março deste ano sob vigilância policial constante. Nas redes sociais, Beatrix está acostumada e provocar polêmicas com as forças de segurança alemãs. A deputada da extrema direita também visitou o ministro astronauta de Ciências, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes. Ainda se encontrou com um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), e com a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Bia Kicis (PSL). Tudo registrado em fotos sorridentes.

O ministro Marcos Pontes postou a foto com Beatrix von Storch, mas, em seguida, retirou sem dar explicações. Talvez tenha caído em si. A Confederação Israelita do Brasil e o Museu do Holocausto protestaram. Lamentaram a recepção do governo brasileiro à deputada alemã, representante da AfD, um partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas. Na Alemanha, está à frente dos movimentos negacionistas sobre a pandemia da Covid-19, com ataques virulentos contra o distanciamento social. Por isso, tudo não se compreende porque o presidente Bolsonaro tenha recebido na sede do governo federal uma figura declaradamente racista, sexista, islamofóbica, antissemita, xenófoba, com um discurso anti-imigração (quem diz é o Museu do Holocausto). É mesmo um fato que não significa apenas uma visita. Há um recado aí nesses sorrisos todos, nessa cordialidade fora da agenda oficial.

A deputada alemã escreveu em sua postagem nas redes sociais que, ao lado dos Estados Unidos e da Rússia, o Brasil é um parceiro estratégico global “com quem queremos construir um futuro juntos”. É tudo estranho. Analistas de vários países escreveram que hoje o Brasil representa a ponta de lança da articulação da direita internacional. Afinal, o que significou essa visita? Foi um lance comentado pela imprensa de vários países no mundo, especialmente europeus. Pelo que se pode sentir nesse encontro, é que o Brasil anda por caminhos condenados pela humanidade. Os regimes, em sua grande maioria, são constituídos de esquerda, centro e direita. Pelo visto, no Brasil, valem até as ideias nazistas. O que é lastimável e assustador.

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