Políticos democratas querem que os Estados Unidos fiquem longe do Brasil

Senadores escreveram carta a Biden para retirar do Brasil o status de aliado preferencial e manifestaram ‘profunda preocupação’ com a democracia brasileira

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 02/11/2021 10h15
EFE/EPA/YURI GRIPAS / POOL world rights Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden Presidente Joe Biden recebeu carta de senadores pedindo para que o Brasil deixe de ser aliado preferencial dos EUA

Os Estados Unidos querem distância do Brasil. Já existe um movimento no Congresso americano com esse objetivo. Quanto mais longe estiver o Brasil, melhor. O Brasil tem que compreender que o presidente norte-americano não é mais Donald Trump. Mais de 60 senadores democratas americanos pedem que o presidente Joe Biden retire do Brasil o status de aliado preferencial. Em carta enviada a Biden há alguns dias, esses senadores manifestaram “profunda preocupação” com a democracia brasileira. Destacaram a busca do presidente Bolsonaro por políticas no Brasil que ameaçam o regime democrático, os direitos humanos, a saúde pública e o meio ambiente. Nessa carta, à qual a BBC Brasil teve acesso, os senadores – mais de um quarto da bancada democrata – pedem que o Brasil perca o status de aliado extra-Otan, concedido ao Brasil pelo ex-presidente Donald Trump em 2019. Esse acordo possibilita ao Brasil adquirir equipamentos militares de segunda mão a preços bem mais baixos do que normalmente custam. Preços que mais se parecem uma doação.

Os congressistas querem, também, que os Estados Unidos retirem o apoio à elevação do Brasil de “parceiro global da Otan”, que foi proposto na viagem do conselheiro de Segurança Nacional, Jack Sullivan, a Brasília no mês de agosto. Os senadores democratas americanos afirmam textualmente “que o histórico deplorável de Bolsonaro no cargo de presidente do Brasil exige uma revisão urgente nas relações Brasil-Estados Unidos”. Essas relações têm sido prejudiciais. Os congressistas adiantam que essa revisão deve ter em vista a cooperação bilateral no combate às drogas e ao terrorismo. O Brasil foi designado aliado preferencial dos Estados Unidos extra-Otan em 2019. Os senadores democratas americanos observam que Bolsonaro usou essa designação para seu benefício político, passando aos brasileiros a ideia de que tratava-se de uma grande conquista e um selo de aprovação do governo dos Estados Unidos. A condição de aliado extra-Otan foi concedido por Donald Trump na primeira viagem de Bolsonaro aos Estados como presidente, em março de 2019. Apenas 17 países desfrutam desse status. Os senadores observam que os Estados Unidos não podem fortalecer um Exército que pode usar usado num golpe de Estado.

Nessa carta a Biden, os senadores democratas asseguram que Bolsonaro já está articulando um golpe e os Estados Unidos não podem contribuir com isso. No final, os congressistas americanos pedem uma postura mais dura e ativa contra o governo brasileiro. E que Biden advirta Bolsonaro sobre as consequências caso haja uma ruptura na democracia brasileira. Ao mesmo tempo, sugerem que Biden suspenda qualquer assistência financeira ao Brasil enquanto a Amazônia continuar a ser devastada como está. Observam que esse comportamento de descaso se aplica também na questão dos direitos humanos, em que nada é levado a sério. Em outras palavras: grande parte dos políticos dos Estados Unidos quer distância do Brasil. Afinal, o presidente não é mais Donald Trump. Os tempos mudaram. A política dos Estados Unidos mudou. Bolsonaro não goza mais daquela aproximação que tinha com Trump, o seu guru para qualquer assunto, incluindo a pandemia. Assim, o Brasil vai se tornando aos poucos um país isolado das grandes nações do mundo. Joe Biden ainda não respondeu à carta dos mais de 60 congressistas americanos, mas já deixou claro que não morre de amores pelo presidente brasileiro. E o presidente brasileiro não morre de amores pelo presidente americano. Pelo que se vê, as turbulências brasileiras não são somente internas, o que já nos bastaria. São também internacionais.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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