Politizar a pandemia prejudica os estudos sobre o vírus enquanto ele leva cada vez mais vidas

Por enquanto, ninguém pode fazer qualquer declaração taxativa sobre o assunto, já que tudo se cobre numa nuvem de mistério e, no fim, não se sabe de nada

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 28/05/2021 14h33
REUTERS/Phil Noble/03.08.2020 homem andando de máscara com um painel simulando o coronavírus no fundo O coronavírus já matou mais de 3,5 milhões de pessoas no mundo

Há no mundo um cerco cada vez maior sobre a existência do coronavírus que tantos milhares de vítimas já fez no mundo. E essa discussão ganha corpo a cada dia. Há quem afirme que o vírus surgiu de um atitude criminosa. Ou por um descuido. O que menos se diz é que o vírus apareceu no planeta nascido da própria natureza. Essa questão da Covid-19 preocupa muita gente pelo seu poder avassalador de acabar com uma vida em alguns dias ou algumas horas. Tanto preocupa que nesta quarta-feira, 26, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, determinou que as agências de inteligência dos EUA aumentem os esforços nas investigações para descobrir se o vírus responsável pela pandemia escapou acidentalmente de um laboratório da China ou se evoluiu de algum animal. Biden quer um amplo relatório sobre o assunto em 90 dias. Já a China respondeu a essa iniciativa de Biden com contundência, dizendo que o presidente americano quer politizar a questão do vírus sem compromisso nenhum com a verdade.

Seja como for, o mundo decidiu investigar sobre o aparecimento do coronavírus. Afinal, como surgiu um mal avassalador que atingiu todos os países que nada sabiam do que estava acontecendo? Diante do número crescente de mortes e de doentes e hospitais à beira do colapso, os principais laboratórios farmacêuticos do mundo começaram a busca de uma vacina capaz de enfrentar a Covid-19 diante de um cenário devastador. E as vacinas foram surgindo num tempo recorde, dado os avanços da ciência em todos os setores da vida humana. Mas é preciso saber a verdadeira origem de um vírus do qual nem todos conseguem se salvar. O quadro é de uma guerra contra um inimigo invisível que, além da vida das pessoas, tem arruinado a economia de muitos países, criando situações cada vez mais dramáticas, especialmente nos países sem os recursos necessários para esse enfrentamento. O que se vê hoje, mais de um ano depois do surgimento do vírus, são países encomendando as vacinas capazes de ameninar um cenário de horror. Afinal, de onde e como surgiu o coronavírus?

Já se falou e se escreveu muito a respeito, mas a interrogação continua, enquanto a pandemia persiste, matando pessoas no mundo inteiro. Na verdade, por mais que se leia e se estude a respeito, não é possível formar uma opinião esclarecedora. A única coisa que realmente se sabe é que o mudo nunca mais será o mesmo. Grande parte dos habitantes do planeta foi levada à reflexão sobre a vida. Muita coisa vai mudar. Pelo menos é o que dizem. Mas de onde e como surgiu o vírus, essa nuvem invisível que envolveu o mundo em sombras? É exatamente isso que os mais destacados cientistas do mundo tentam responder. Dezoito dos mais destacados cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá decidiram se debruçar sobre a questão. O grupo já escreveu um artigo publicado na recente edição da revista Science, afirmando que mais de um ano depois do surgimento da pandemia ainda não existem evidências seguras para determinar que a Covid-19 surgiu naturalmente ou se vazou acidentalmente de um laboratório na China. Esses cientistas exigem uma nova investigação sobre a origem do vírus, como é também o desejo dos Estados Unidos.

Esse artigo não arriscou opinião, mas defende uma investigação profunda. O meio científico se mostra preocupado com essa questão, porque cresce cada vez mais o número de controvérsias sobre um assunto que vive hoje nos corações e mentes. O virologista famoso do Instituto de Pesquisa Scripps, Kristian Andersen, já escreveu um longo estudo sobre o assunto, descartando que o vírus teve origem laboratorial. Ele observa que o artigo da Science sugere uma falsa equivalência entre a fuga de laboratório e a origem natural. A fuga do vírus de um laboratório não passaria de uma especulação. Dois cientistas que assinaram o artigo – Jesse Bloom, pesquisador do Centro Fred Hutch, de Seattle, e David Relman, microbiologista da Universidade de Stanford – preferem dizer que especulação ou não, o melhor é esperar para ver. Por enquanto, ninguém pode fazer qualquer declaração taxativa sobre o assunto, já que tudo se cobre numa nuvem de mistério. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que um vazamento do vírus é extremamente improvável. Mas grandes cientistas do mundo discordam e afirmam que pode ter havido uma vazamento, sim, dos laboratórios do Instituto de Virologia de Wuhan, na China.

O que se revela nessas discussões é um grande jogo de interesses. Um documento da OMS arrisca algumas opiniões dizendo que o vírus passou do morcego para o ser humano, e que é provável que houve um animal intermediário que levou o vírus ao homem. A OMS assinala ser provável, também, que o coronavírus chegou ao homem por meio de produtos alimentícios. Resumindo, o documento da OMS fala muito e não diz nada. Tudo é provável. A palavra provável é a mais usada nesses estudos. No fim, ninguém sabe de nada. Esses 18 destacados cientistas do mundo que decidiram aprofundar as investigações poderão chegar a lugar nenhum. Tudo indica, pelo que se assiste atualmente no mundo, é que tudo mesmo é provável. Evidentemente que uma coluna como esta não tem a pretensão de insinuações. E nem é o feitio deste colunista que apenas tentou revelar o estágio desse assunto nos estudos científicos. E o estágio é esse. Cada cientista tem sua verdade e muitos não cientistas têm outras que entram no campo da política. E quando qualquer coisa entra nessa área da discussão política, tudo se põe a perder.

O que se sabe com certeza é que o misterioso coronavírus surgiu em 2019 na cidade de Wuhan, na China. Não se tem certeza, mas os primeiros casos apareceram em animais, que passaram o vírus para as pessoas. Os primeiros casos da Covid-19 surgiram num grupo de pessoas que esteve no mesmo mercado popular da cidade chinesa, onde são vendidos vários tipos de animais selvagens vivos ou mortos, como morcegos, cobras e castores que poderiam estar com a doença. A seguir, foram confirmados outros casos em pessoas que nunca estiveram nesse mercado, apresentando sintomas semelhantes. Concluiu-se que o vírus já estava, então, passando de pessoa para pessoa, através da inalação de gotículas de saliva ou secreções respiratórias que permaneciam no ar quando a pessoa afetada tossia ou espirrava. Rapidamente, o que era um surto transformou-se em pandemia. Grande parte da ciência mundial acredita que o coronavírus surgiu dentro de morcegos. As investigações realizadas até agora chegam sempre ao ponto de partida. Hoje a pandemia está politizada em alguns países do mundo, o que representa grande prejuízo nas investigações e nas pesquisas. E enquanto a politização da doença avança, a pandemia continua a fazer vítimas. Uma guerra contra um inimigo invisível. A vacina pode ser uma vitória. Mas, por enquanto, a humanidade está perdendo. Politizado, o vírus provoca tensões e turbulências na população. Como no Brasil, por exemplo.

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