Queiroga é a ‘bola da vez’ e já começa a ser questionado no Planalto

Ministro não tem autonomia na Saúde, e continua aquela política em que ‘um manda e o outro faz’

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 29/06/2021 16h52
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO Ministro Marcelo Queiroga Saúde A bola da vez é o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que, com 100 dias de gestão, começa a ser questionado dentro do próprio Palácio do Planalto

Afeito a fortes emoções quase que diárias, o Brasil segue seu caminho aos tropeços entre fatos que dizem bem qual é a verdadeira história brasileira. Agora, a bola da vez é o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que, com 100 dias de gestão, começa a ser questionado dentro do próprio Palácio do Planalto, onde é mais servil do que ministro de uma pasta fundamental nestes tempos de pandemia. De repente, não mais que de repente – como diria Vinícius – eis que o Brasil poderá ter seu quinto ministro da Saúde num único governo. Queiroga se encantou com o cargo e por isso tem engolido sapos e até insultos de todos os matizes. E continuará engolindo, tentando se agarrar no que poderá salvá-lo da hecatombe. A verdade é que o ministro não goza de confiança de quase ninguém no governo, a começar pelo presidente Bolsonaro, que já o desmoralizou várias vezes publicamente. O “tal” Queiroga prefere engolir calado os desaforos. Tivesse um pouco de personalidade, só um pouco, já teria aberto a porta do Palácio do Planalto e saído para a planície central do país em busca de outros rumos. Mas não. Ele suporta. Suporta humilhações de todos os lados. Pior de tudo é que está sendo acusado abertamente de não ter evitado a terceira onda do coronavírus que continua fazendo vítimas todos os dias no país.

O azar maior é que isso ocorre exatamente num momento em que o Ministério da Saúde enfrenta sérias acusações de corrupção durante a pandemia, especialmente no que diz respeito à compra de vacinas. Queiroga está com os pés em duas canoas e isso nunca dá certo. Ele tenta equilibrar o discurso de Bolsonaro, dando a ele toques de ciência, o que é impossível. Mesmo assim, o ministro bola da vez é tido como o melhor dos três anteriores, não porque se atém aos afazeres contra a Covid-19, mas porque vive administrando o comportamento do presidente. Bastava isso para o ministro Queiroga, um médico, sair do governo em nome de sua honra e de seu juramento. Mas não. Apegado ao cargo, permanece ali como um desconhecido ignorado. Até Queiroga prega um combate efetivo à doença e defende o isolamento social e o uso da máscara. Mas, na verdade, ao governo pouco importa o que diz o ministro da Saúde. E a pandemia vai em frente. Os assessores do Ministério da Saúde observam que Queiroga costuma dizer que Bolsonaro é o “Messias” e que ele é o Cristo que tem de segurar a cruz. Mas parece que não adianta segurar a cruz. Preocupado com os rumos da CPI em que ele voltará a ser alvo, o ministro tem tentado uma aproximação com a imprensa. Tudo em vão. Seus próprios secretários no Ministério pouco se importaram com isso.

A situação piorou de vez com a denúncia de irregularidades na compra das vacinas Covaxin, da Índia. Se de fato houve um escândalo de corrupção, vai cair tudo nas costas do ministro. Ele diz apenas que isso faz parte do seu trabalho, procurando minimizar o assunto. O ministro goza, ainda, de algum prestígio entre alguns governadores e prefeitos. Mas, para a maioria, a troca de ministro significou que só mudaram as moscas. Queiroga não tem autonomia nenhuma no ministério que chefia. Quem manda é o presidente. Então continua aquela política em que “um manda e o outro faz”. Bem que o ministro se esforça para cumprir seu trabalho, mas isso de nada vale, já que ninguém segue seus planos de combate à pandemia, especialmente o dono do governo, que faz e desfaz sem dar satisfação a ninguém, numa área que preocupa o mundo inteiro e atingiu o Brasil de forma perversa. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) prefere não comentar o assunto. É melhor. Quando Queiroga assumiu o Ministério, em 23 de março, o Brasil contava 298.843 mortos pela doença. Hoje, esse número passa de meio milhão. No seu esforço, Queiroga conseguiu antecipar doses de algumas vacinas, mas isso não conta. A pandemia continua e não existe no país uma coordenação nacional para enfrentar o vírus. De forma que o quarto ministro da Saúde do Brasil está na corda bamba. Afinal, é sempre necessário arrumar um caso novo para esquecer outros problemas com aquela imensa cortina de fumaça sempre usada em momentos extremos.

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