Sérgio Reis corre o risco de ser um novo Wilson Simonal

Cantor se empolgou demais e nem tudo deve ser compreendido como liberdade de expressão

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 24/08/2021 13h00
Cleia Viana/Câmara dos Deputados Sérgio Reis de terno azul e chapéu preto em frente a um microfone Sérgio Reis diz se arrepender de vídeo em que convoca uma greve dos caminhoneiros contra o STF e pelo voto impresso

O cantor, ou ex-cantor sertanejo, Sérgio Reis corre o risco de ser um novo Wilson Simonal que, mesmo tantos anos depois de sua morte, é lembrado como um defensor e informante da ditadura. Seu filho, Simoninha, dedica sua vida a desfazer essa imagem. Mas é difícil apagar essa acusação em sua história pessoal. Sendo verdadeira ou não, essa informação começou a correr quando Simonal era ainda vivo e fazia muito sucesso na música popular brasileira. Mas, aos poucos, simplesmente desapareceu. Não era mais convidado para programa nenhum de televisão. Ficou essa marca de informante da ditadura militar. O artista das grandes plateias desapareceu por completo. E isso continuou mesmo depois de sua morte.  Sérgio Regis está indo para o mesmo caminho. Ele surgiu no programa “Jovem Guarda”, de Roberto Carlos, na TV Record. Poucas vezes se viu tanto sucesso de um programa na televisão brasileira. Sérgio Reis cantava lá seu iê-iê-iê e fazia parte do elenco. Depois começou a se dedicar à música mais ou menos sertaneja.

Entrou para a política em 2010, sempre defendendo ideias da direita, até chegar onde chegou agora, ao defender abertamente um golpe de Estado. Lamentável. A intolerância política teve início de verdade quando foi eleito deputado federal em 2015. Radicalizou. Já está associado não à direita – afinal não é crime ser de direita – mas às ideias totalitárias defendendo um regime ditatorial. Naquele período efervescente, lotando estádio para ouvi-lo cantar, namorando louras e usando carros de luxo, Simonal já não era bem visto num meio cultural que sempre teve por base ideias de esquerda. E o mesmo vem acontecendo com Sérgio Reis, por atitudes que chocaram muitos amigos mais próximos. E virou bolsonarista fanático. Desses que não dá para trocar uma ideia. No entanto, vários outros artistas fizeram o mesmo e ficou por isso mesmo. Caiu tudo nas costas de Sérgio Reis, que se disse líder de uma greve de caminhoneiros contra o Supremo Tribunal Federal.

Sérgio Reis se transformou num golpista e terá de explicar sua incitação inclusive à violência contra a democracia. Os efeitos dessa postura já estão sendo sentidos: A cantora Maria Rita e o cantor e compositor Guilherme Arantes, além de Guttemberg, Guarabyra, Zé Ramalho e Anastácia não vão mais gravar junto com Sérgio Reis num CD especial em sua carreira. Sérgio Reis se transforma em devoto de Jair Bolsonaro. O secretário especial de Cultura de Bolsonaro, Mário Frias, saiu em defesa de Sérgio Reis, afirmando que quando um artista da estatura de Sérgio Reis é perseguido dessa maneira, a cultura nacional é ameaçada, pois – conforme diz – “não existe cultura artística sem liberdade. Deus proteja nossa Nação”. Já Sérgio Reis se mostra amargurado e vivendo sua amarguridade (palavra que inventei).  Admite que errou e pede desculpas ao próprio Supremo Tribunal Federal, dizendo que não é um bandido, conforme disse em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, no Domingo Espetacular da TV Record neste domingo, 22. Afirmou que falou muita bobagem e que só pensa no bem dos outros. Ali estava um homem derrotado, com lágrimas nos olhos ao lado da esposa. Afirmando que fez suas declarações contra o STF “como um velho gagá”, lembrando seus 81 anos de idade. Chegou a isso. Sérgio Reis se empolgou demais e nem tudo deve ser compreendido como liberdade de expressão. Dizer que tem que se quebrar tudo no Sete de Setembro não é um discurso que deva ser respeitado. Sérgio Reis parece ter jogado sua vida num abismo. E vai ser muito difícil se recompor.

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