Só se discute aborto em época de eleição; depois disso, ninguém fala mais nada

A maioria da bancada feminina no Congresso é contra, mas mesmo a minoria que é a favor se cala por causa das eleições

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 02/06/2022 14h33
Pixabay/Creative Commons Mulher grávida No Brasil, o aborto é permitido em casos de gravidez de risco à vida da gestante; gravidez resultante de violência sexual; e anencefalia fetal

A bancada feminina no Congresso Nacional está dividida em relação ao aborto legalizado. O tema sempre volta a ser discutido em ano de eleição. Depois ninguém fala mais nada. A bancada feminina se manifestou depois daquele ataque de loucura discursiva de Luiz Inácio da Silva quando, ao meio de suas alucinações para uma plateia amigável, decidiu falar sobre o assunto, mas de tal forma irresponsável e insensata que pegou muito mal. Nesse seu discurso recente, Lula defendeu que toda mulher deveria ter o direito de fazer aborto no Brasil. Para ele, o aborto é uma questão de saúde pública. Sem citar o nome do presidente Bolsonaro, Lula afirmou que a pauta da família é muito atrasada e “autorizada por um homem que não tem nenhuma moral para fazer isso”. Luiz Inácio observou que quem mais sofre com a proibição do aborto são as mulheres pobres que morrem quando tentam abortar. Isso não acontece com as mulheres ricas, que fazem aborto em clínicas no exterior. Assinalou que todo mundo tem esse direito e não deve sentir vergonha. Quem não quiser ter o filho, deve tratar do assunto com o parceiro ou parceira e ninguém mais. Lula adiantou que a sociedade evoluiu muito e que é preciso ter coragem para discutir essa questão. Depois de alguns dias, devido à repercussão de suas palavras, Lula declarou ser contra o aborto, até porque é pai de 5 filhos, avô de 8 netos e bisavô de uma neta.

A reação dos evangélicos e de bolsonaristas foi imediata. Até porque aquela não é e nunca será a postura de alguém discutir um assunto tão delicado. Como sempre, no transe costumeiro, Lula falou aos gritos e dando socos na mesa, como se fosse ele o dono de todas as coisas. O deputado federal Marco Feliciano (PL) escreveu nas redes sociais que esse é o Lula que ele conhece, o “Lula para maiores”. Feliciano observou que Lula apoia o aborto e convoca os seus militantes para intimidar os parlamentares contrários ao seu comunismo. O filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PL), afirmou que Lula não está pensando numa eleição num país cristão. A ex-ministra da Família, Damares Alves, também entrou na discussão, resumindo a palavra da maioria dos evangélicos ao dizer que “a pauta do ex-presidente sempre foi a cultura da morte”. O ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos), escreveu que ninguém tem o direito de tirar a vida de um bebê, dentro ou fora da barriga. 

A maioria dos chamados cientistas políticos afirmou que em termos de eleição as declarações de Lula foram um desastre. Mas senhores “cientistas políticos”, ninguém aqui está falando de eleição e sim de uma questão que vem sendo discutida há anos e é sempre engavetada no Congresso Nacional, com deputados e senadores que não discutem essa questão como deviam. Pensam politicamente. Por isso, os chamados “cientistas políticos” deviam calar a boca quando o assunto vai além dessa visão velhaca que dança conforme a música. Vão se catar! É o melhor a fazer! O assunto é difícil de tratar. No Brasil, o aborto é permitido só em caso de estupro, perigo de vida da mulher ou má formação do cérebro do bebê. A maioria da bancada feminina no Congresso é contra, mas mesmo a minoria que é a favor se cala por causa das eleições. Uma maneira esperta e suja de fugir da discussão. E aquele que é candidato a presidente, o que deixou a cadeia onde estava preso por corrupção, trata do assunto dando socos na mesa e gritando como se estivesse num boteco. Estamos bem. 

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