Todo mundo só fala em Pazuello, mas depoimento de Ernesto Araújo deve ser explosivo

Ex-ministro das Relações Exteriores depõe nesta terça-feira, 18, e deve ser questionado sobre a animosidade com a China, país que fornece matéria-prima para a produção de vacinas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/05/2021 13h48 - Atualizado em 17/05/2021 14h04
Raylson Ribeiro/Ministério das Relações Exteriores Ernesto Araújo foi ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro

Esta terça-feira, 18, poderá ser explosiva com o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que teve uma gestão chamada de catastrófica. O diplomata tem se dedicado a pensar mal do governo. Mas de leve. Tem ficado em casa curtindo uma raiva que já ensaiou demonstrar publicamente. Araújo foi a ruína da política externa brasileira. Seguindo as ordens do presidente Bolsonaro, indispôs o país com seus maiores parceiros comerciais. Agora ele diz que o governo não tem alma. O ex-ministro tem usado as redes sociais para destilar suas decepções e amarguras. Numa de suas postagens, afirmou que o governo de Bolsonaro se transformou numa administração tecnocrata sem ideal. Antes de sair, Ernesto Araújo, o servil, passou por um período de fritura. E foi bem fritado. A frigideira dele estava sempre em fogo alto. Até que caiu fora. Pois ele vai depor nesta terça-feira, 18, na CPI da Covid-19. O governo tem se preocupado muito, até se angustiado, com o depoimento do ex-ministro general Eduardo Pazuello, na quarta-feira, 19. Esqueceu-se da figura inexpressiva de Araújo, que nem sabia que era ministro das Relações Exteriores, tais os estragos que fez.

O governo talvez não tenha dado importância ao depoimento Ernesto Araújo, mas sua ida à CPI pode conter um teor explosivo. O ex-chanceler tem dito que o governo de Bolsonaro poderia ter feito avanços em vários setores da vida nacional, mas a esperança começou a se desmantelar por causa da reação do sistema, no dizer do ex-ministro, que gostava de falar bobagens inacreditáveis. Araújo assinala que o governo popular de Bolsonaro se transformou numa administração de tecnocratas, especialmente quando se juntou ao Centrão, em busca de uma base parlamentar. Seja como for, o ex-ministro afirma que continua a prestigiar o governo, apesar de Bolsonaro ter se juntado com aqueles que não querem o bem do Brasil. Araújo afirma ser preciso libertar o povo oprimido e, segundo ele, Bolsonaro conseguirá esse intento voltando a ser um governo popular.

Os senadores questionarão o diplomata sobre a falta de vacina no Brasil, já que ele apostou num tratamento alternativo, aquele defendido por Bolsonaro. Terá de explicar qual foi a atuação do Itamaraty junto aos países produtores de vacinas, quando, nas negociações, derramou o negacionismo de um governo que não acredita em nada que venha da ciência. O ex-ministro é acusado de receitar cloroquina para todo mundo, negando a vacina contra a doença. Terá de falar sobre aquela alucinação de Bolsonaro, acusando a China de ter criado o vírus para uma guerra química contra o mundo, mas sem citar o nome do país asiático, o que não foi necessário. Não foi preciso. Bolsonaro foi claro. Pois até isso está sendo creditado na conta do ex-ministro Ernesto Araújo, que, aliás, fez por merecer, tais os disparates que espalhou pelo mundo, falando como se fosse uma grande autoridade brasileira. Era ministro das Relações Exteriores, está certo, mas e daí? Um ministro sem condições de ser ministro. A relação do Brasil com a China está em primeiro lugar nos questionamentos da CPI, já que Araújo conseguiu estremecer relação diplomática entre os dois países.

No fundo, como ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo nada fez para adquirir vacinas no exterior. Seu negócio principal era a cloroquina, sempre impondo uma ideologia que não se compreende direito o que vem a ser. E aquela viagem a Israel em busca de um spray milagroso que poderia substituir a vacina contra a Covid-19? Foi uma bela viagem de turismo, uma comitiva que contou com a presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) e vários assessores do governo. Uma excursão. Parecia que a comitiva brasileira ia salvar o mundo. No que deu aquilo tudo? Não se sabe. É um segredo que, por decreto do presidente Bolsonaro, deverá ser guardado por 15 anos de silêncio. É uma gente louca que vive num país imaginário que não é o Brasil. Pior de tudo é que essa gente pensa que o país lhes pertence e, sendo assim, podem fazer o que bem entender. Por esse motivo e muitos outros, o Brasil está largado à própria sorte. A gestão do ex-ministro das Relações Exteriores foi constrangedora em tudo. E tudo era culpa da esquerda. Tanto que Ernesto Araújo fazia questão de chamar o coronavírus de “comunavírus”. Um trocadilho infame, que dá bem a ideia do que pensa o governo. Será um depoimento que vai dar o que falar. Até porque o ministro tem dificuldade de explicar o que pensa. Se é que ele pensa.    

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