Triste o país que veta Nise da Silveira de homenagem para os heróis e heroínas da pátria

Mal sabe Bolsonaro e a mediocridade de seus auxiliares que a brasileira é pioneira na terapia ocupacional e mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil e no mundo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 27/05/2022 13h33
Jonas Cunhas/Estadão Conteúdo - 14/02/1990 A psiquiatra Nise da Silveira, ao lado de seu gato, durante entrevista em sua casa Nise da Silveira implantou no Brasil, e em várias partes do mundo, o tratamento humanizado para transtornos mentais

Nesta sexta-feira, 27, uso meu espaço no site da Jovem Pan para escrever uma coluna que não é como as de costume. Hoje deixo aqui minha indignação. Um sentimento de vergonha que não sei esconder. O presidente Bolsonaro vetou o nome da brasileira Nise da Silveira do “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. Vetou como se fosse o dono dessa pátria que ele tanto cita nos seus discursos. Certamente nem sabe quem foi Nise da Silveira. Algum auxiliar sugeriu o veto com algumas palavras sobre Nise e sua trajetória na ciência. O veto à proposta já foi publicado no Diário Oficial da União, com palavras duras. Que país é este? 

Bolsonaro diz que decidiu ouvir a Casa Civil e optou pelo veto porque o nome de Nise representa uma contrariedade ao interesse público. Ainda na sua justificativa, o presidente observou que deve se priorizar o reconhecimento a personalidades da história do país “desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado democrático”. Mal sabe Bolsonaro e a mediocridade de seus auxiliares que a brasileira Nise da Silveira é pioneira na terapia ocupacional e mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil e no mundo, até então conduzidos por isolamento em hospícios.

Nise da Silveira foi uma revolucionária com um trabalho que mereceu reconhecimento até de Carl Gustav Jung. Nos anos de 1940, ela implantou no Brasil, e em várias partes do mundo, um tratamento humanizado para os transtornos mentais. Aboliu o eletrochoque, defendeu a arte como forma de tratamento, especialmente a pintura, e a companhia de animais domésticos junto aos pacientes. O “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria” está depositado no Panteão da Pátria e Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, e destina-se ao registro perpétuo dos brasileiros e brasileiras que tenham se dedicado ao país com heroísmo. Pois o nome de Nise foi cortado pelo senhor Jair Messias Bolsonaro, atualmente presidente do Brasil. Não há muito o que dizer. Esse fato revela bem o país em que vivemos. Triste país. Nise foi cortada do Livro por questões ideológicas. Este colunista sente vergonha e pensa em desistir.

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