Vai ser difícil para Bolsonaro se livrar dos estragos de Milton Ribeiro

Prisão do ex-ministro por suspeita de corrupção caiu como uma bomba na campanha eleitoral do presidente

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 23/06/2022 14h44
Roque de Sá/Agência Senado Milton Ribeiro, ministro da Educação Ex-ministro Milton Ribeiro foi preso nesta quarta-feira, 22

Não poderia acontecer coisa pior para o presidente Bolsonaro. Sua campanha pela Presidência da República nem começou oficialmente, mas já foi atingida por uma explosão. Vai ser muito difícil se livrar dos estragos. Nesse clima de vale-tudo, os adversários do presidente estão exultantes. Bolsonaro não põe mais a cara no fogo pelo seu ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Foi o que disse em março, quando surgiram as primeiras denúncias de corrupção no MEC. Hoje, Bolsonaro pensa de outra maneira, conforme disse em entrevista nesta quarta-feira, 22, à rádio Itatiaia. Afirmou que o ex-ministro, que era um santo, tem que responder pelos seus atos. Nessa entrevista, o presidente se fez de esquecido ao dizer que o caso de Milton Ribeiro devia ser aquele em que ele se envolveu com algumas pessoas de confiança dele. Alguns pastores que passavam verba do Ministério da Educação para prefeituras identificadas com o governo.

É esse caso, sim, presidente. Exatamente esse. Os pastores amigos do seu então ministro frequentavam o Palácio do Planalto. Gente chegada a Milton Ribeiro, bem chegada. Tanto que tinham o aval do ministro para assaltar as prefeituras, especialmente aquelas na periferia do Brasil, as mais pobres, esquecidas sempre pelas grandes autoridades do país. Bolsonaro afirma que o ex-ministro está preso, significa que a Polícia Federal está agindo. No dia que Milton Ribeiro foi exonerado do governo, porque não havia mais condições de continuar, a primeira-dama Michelle Bolsonaro caiu em lágrimas e foi contra o marido presidente da República, dizendo que Deus iria provar que o ex-ministro é uma pessoa inocente. Michele disse também: “Amo a vida dele, eu confio muito nele!”. 

O que Bolsonaro não deseja, não deseja mesmo, é ser envolvido nessa história. O presidente garante que a prisão prova que ele não interfere no trabalho da Polícia Federal. Explica que tem 23 ministros, mais de uma centena de secretários e mais de 20 mil cargos comissionados: “Se alguém faz algo errado, pô, vai botar a culpa em mim?”, perguntou Bolsonaro, sabendo que essa história é uma explosão na sua campanha eleitoral. Onde está o governo sem corrupção? O presidente observou que o governo não vai compactuar com os atos do ex-ministro. Se errou, vai ter de pagar. E o governo vai auxiliar a Polícia Federal nas investigações. Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que liberavam os recursos do MEC para cobrar a propina, também já estão enjaulados. Esse é o ministro que queria separar as crianças deficientes nas salas de aula, dizendo que elas atrapalhavam o ensino. Que se omitiu na pandemia. Que se meteu nas provas no Enem para evitar questões que contrariassem o governo. Em abril, o ex-ministro disparou sua arma de fogo acidentalmente no aeroporto de Brasília. Andava com a arma carregada, como se fosse um brinquedo. E colocou a arma no balcão da companhia aérea. Disparou e feriu uma funcionária com estilhaços da bala.

Não poderia acontecer coisa pior para a campanha eleitoral do presidente. Os pastores ladrões estiveram no Palácio do Planalto 35 vezes. Os adversários do presidente ganharam munição para a campanha. Nesta quarta-feira, 22, Ciro Gomes e Simone Tebet criticaram duramente Bolsonaro e o ex-ministro. Para Ciro Gomes, o “falso pastor” atuava junto com Bolsonaro. Simone Tebet fez acusações várias, mas observou a que ponto chegou a Educação neste país. Já Luiz Inácio da Silva, gato escaldado, preferiu não dizer nada. Ficou em silêncio. A equipe da campanha está tentando de todas as maneiras blindar o presidente, cortando qualquer tipo de relação com o ex-ministro. O senador Flávio Bolsonaro (PL) admite que a prisão do ex-ministro traz um grande impacto negativo à campanha do seu pai. O estrago está feito. Milton Ribeiro chegou ao governo como um forasteiro. Unicamente por ser evangélico, mais nada. Parecia um santo. Só não fez milagre nenhum. Bolsonaro está ainda pensando no que deve fazer diante desse desastre. Certamente vai reclamar com o bispo.

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