Vida de Queiroga deve mudar depois da quarentena em Nova York

Quando voltar ao Brasil, ministro terá de enfrentar uma conversa com o presidente Bolsonaro para explicar por que de repente autorizou vacinação para adolescentes, e não será uma conversa fácil

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 28/09/2021 15h13
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Usando máscara de proteção branca, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fala em coletiva de imprensa Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cumpre quarentena em Nova York após testar positivo para a Covid-19 enquanto acompanhava Bolsonaro

Na sua angústia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, até compartilhou post contra a vacina. Depois da quarentena em Nova York, tudo indica que a vida do ministro vai mudar. Quando regressar ao Brasil, terá de enfrentar uma conversa com o presidente Bolsonaro para explicar por que de repente autorizou vacinação para adolescentes. Não será uma conversa agradável. Nenhuma conversa com Bolsonaro é agradável. Certamente Queiroga não será mais aquele ministro saltitante de todos os dias. Talvez deixe de ser tão servil. Tão servil que em determinadas ocasiões esquece até que é um médico que prestou juramento para ser médico. Um juramento que ele não leva a sério como ministro. Se o presidente Bolsonaro determinar que ele salte num abismo sem abrir as asas, ele salta sem pestanejar. Tudo pelo chefe. Na quarentena num hotel em Nova York, Queiroga pensou muito sobre a vida e quer saber onde errou. Está certo, ninguém contrai o vírus da Covid-19 porque quer. Ninguém. Nem os negacionistas que existem aos montes por aí, partindo do Palácio do Planalto, em Brasília.

O ministro da Saúde está até mudando seu modo de pensar. Anda meio confuso. Basta dizer que na última quarta-feira, 22, Queiroga compartilhou no seu Instagram um post antivacina. Sentia-se, talvez, desacorçoado com o mundo. Foi um azar testar positivo na comitiva do presidente Bolsonaro que foi à Nova York participar da Assembleia Geral da ONU. Queiroga não quer mais falar de sua reação contra alguns brasileiros que se manifestavam contra o governo em Nova York, mostrando o dedo médio com raiva, aos gritos. Uma baixaria. O ministro quer esquecer isso. Afirma agora que está interessado apenas na sua saúde. Mesmo assim, ele se defende e afirma que quem fala o que quer ouve o que não quer. Esse pensamento confuso talvez tenha feito com que compartilhasse um post que falava da ineficácia da vacina e do uso da máscara, observando que o ministro contrair a doença representa uma ironia, exatamente ele que segue todos os protocolos, tomou a vacina e usa máscara o tempo todo.

Já o presidente Bolsonaro, que ignora a doença e até faz pouco caso das medidas contra o vírus, não pegou a Covid e sequer se vacinou. Queiroga leu o post e compartilhou no seu Instagram. Depois Queiroga pensou um pouco e apagou seu compartilhamento depressa. Foi certamente um momento de frustração, de tristeza, de solidão, de angústia, de raiva. Foi mesmo uma ironia. Queiroga só tirou a máscara para comer um pedaço de pizza numa esquina de Nova York. Ele não se conforma. Seja como for, ao compartilhar o post antivacina, o ministro da Saúde revelou certa desilusão com as coisas. De repente. O ministro da Saúde em sua quarentena nos Estados Unidos está pensando muito. Talvez nada valha a pena mesmo. Para que vacina? Para que máscara no rosto? Tudo isso é uma bobagem. Pelo menos é o que diz claramente o presidente da República. O ministro é um médico. Dificilmente pensará assim. Mas seu comportamento vai mudar. Talvez não seja mais tão servil. Ou talvez seja possível que ele pense exatamente como pensa o presidente Bolsonaro sobre isso tudo. Por que não? Se for assim, está tudo certo. A recaída de Queiroga não está esquecida como pensam alguns. Compartilhar um post contra a vacinação é coisa de negacionista. Queiroga terá de se explicar, além de enfrentar a conversinha agradável que terá com o presidente, o super-homem. 

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