Volta de uma figura como José Dirceu à política explica bem como funciona o Brasil

Lei da Ficha Limpa barra o outrora todo-poderoso do governo Lula de se candidatar, mas isso não impede que ele encontre Sarney e Kassab para articular candidatura de seu chefe

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 29/07/2021 12h49
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - 03/07/2021 Com uma camiseta preta, calça jeans e jaqueta cinza clara, José Dirceu segura quadro de Lula ao lado de militantes petistas durante protesto contra Jair Bolsonaro em Brasília José Dirceu participa de ato a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

O outrora todo-poderoso José Dirceu, aquele, está de volta. Entra como um réptil. Está a todo vapor, reunindo-se com sindicalistas, prefeitos e os cardeais de vários partidos. Já se reuniu com a diretoria da Força Sindical, com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e com o ex-presidente José Sarney, que pensava-se longe das articulações políticas. Ex-presidiário por corrupção, como seu chefe Luiz Inácio da Silva, José Dirceu está saltitante, embora dentro do próprio PT digam que ele não tem mais a força que já teve, especialmente quando o governo petista especializou-se em assaltar os cofres públicos. Ei-lo de volta.

O ex-presidiário Dirceu diz que faz visitas para agradecer a solidariedade que recebeu quando estava preso. Sem mandato e sem pertencer à direção do PT, quer que Luiz Inácio se aproxime do Centrão e das igrejas evangélicas, segundo ele, a maneira mais capaz de enfrentar Bolsonaro em 2022. Ele está com os direitos políticos suspensos por causa das condenações judiciais que o enquadram na Lei da Ficha Limpa. Não pode disputar eleições. A não ser que o Supremo Tribunal Federal (STF) dê uma ajudazinha, como fez com Luiz Inácio da Silva. Para os dirigentes da Força Sindical, por exemplo, o ex-todo poderoso chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula aconselhou que todos devem participar das manifestações contra Bolsonaro, como ele mesmo tem feito em Brasília e São Paulo.

Dirceu deseja ver nessas manifestações figuras do PSDB, da OAB e do movimento estudantil. Em entrevista ao jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, afirmou que a esquerda não vai resolver as coisas sozinha. Além dos evangélicos, ele deseja que Lula se aproxime da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O ex-todo-poderoso foi afastado do governo petista em 2005, depois de ser acusado de comandar o mensalão, aquele dinheiro doado aos parlamentares em favor de votos parar aprovar projetos do governo. Teve o mandato de deputado federal cassado em 2007 e, a seguir, em 2012, foi condenado pelo STF a 7 anos e 11 meses de cadeia. Deixou a prisão em novembro de 2016, na última das três prisões por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Sua pena foi extinta por decreto do presidente Michel Temer. Saiu no mesmo dia que o ex-presidiário Luiz Inácio da Silva. Pois é, essa figura que está de volta ao vergonhoso cenário político brasileiro. Esses fatos fazem voltar à memória da juventude, quando todos tínhamos 20 anos. Quem te viu e quem te vê. Está de volta. Os bandidos sempre voltam ao local de seus crimes, talvez para continuar sua obra de malfeitor. E o Brasil continuará a ser a vítima de sempre. O Brasil é um país vilipendiado em tudo. A volta dessa figura chamada José Dirceu à cena política brasileira explica bem o que é este país. Um país sem rumo que está à deriva num oceano de sombras esperando o dia do naufrágio. É assim que funciona. No Brasil, os corruptos e chefes de quadrilha têm sempre um lugar ao sol.

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