Conheça os impactos da pandemia para as pessoas com deficiência e seus familiares

Estudo australiano demonstrou que 75% dos pais, mães ou cuidadores de PCDs tiveram o bem-estar afetado pela crise da Covid-19, com piora da saúde mental e física e problemas financeiros

  • Por Camila Magalhães e Gabriela Arantes Wagner
  • 27/05/2021 09h00
Divulgação/Governo do Estado de São Paulo Sentado, jovem com síndrome de down recebe a vacina no braço direito, aplicada por uma enfermeira vestida de branco, enquanto mulher de vestido preto e bolinhas brancas, cujo rosto não aparece, coloca as duas mãos em seus ombros Jovem com síndrome de Down é vacinado em São Paulo

Em 16 de março de 2021, uma das revistas científicas mais importantes do mundo (“The Lancet”) publicou um comentário sobre o “triplo risco” causado pela pandemia de Covid-19 às pessoas com deficiência. São eles: quadros mais graves da doença (pessoas com síndrome de Down, por exemplo, têm dez vezes o risco de óbito quando comparadas às demais), acesso reduzido aos cuidados de saúde/reabilitação e prejuízos sociais, causados pelos esforços para mitigar a transmissão do vírus, como o isolamento social e o lockdown. No Brasil, não podemos deixar de citar a falta de acesso e equidade na vacinação, segurança, saneamento e instalações de higiene adequadas àqueles cuja vulnerabilidade socioeconômica se soma à condição de PCD (pessoas com deficiência).

Somam-se às evidências o bem-estar dos familiares e as condições do cuidado impostas às famílias e/ou cuidadores durante este período. Sabe-se que pais e mães de PCDs passam a se organizar em torno dos seus filhos e apresentam um estoque de resiliência, determinação e vontade de superação. Essa transformação é tão relevante que a perda de um filho com tais “particularidades” é geralmente relatada como uma das experiências mais dolorosas para o núcleo familiar. Neste contexto, estar sob o medo do risco de contaminação pela Covid-19, agravado pela frustração, tédio, insuficiência de cuidados médicos e informações inadequadas, tem sido uma experiência muito complexa para as famílias.

Um estudo realizado na Austrália demonstrou que 75% dos familiares e/ou cuidadores de PCDs relataram que tiveram o bem-estar afetado pela pandemia, com piora da saúde mental e física e problemas financeiros. Segundo a pesquisa, os impactos podem ser decorrentes do confinamento, do equilíbrio entre as necessidades de trabalho e família e dos filhos, cujas necessidades estão sob o “triplo risco”. Apesar desses achados, há outras evidências sobre estratégias positivas de enfrentamento, como estabelecimento de rotinas em casa, estratégias comportamentais para apoiar o desenvolvimento de seus filhos ou a prática de exercícios, meditação e apoio social.

Países de baixa e média renda, como o Brasil, abrigam cerca de 80% das pessoas com deficiência mais pobres e sem proteção social adequadas em todo mundo. Medidas restritivas, quando não acompanhadas de ações de proteção social, atingem de forma desproporcional populações vulneráveis. Sendo assim, a divulgação de informações técnicas adequadas, claras, acessíveis e com comprovação científica é fundamental. Após a reabertura, os esforços para o apoio integral às famílias e PCDs serão essenciais.

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