Jogar compulsivamente pode virar transtorno patológico e trazer sintomas de abstinência

Comportamento surge, na maioria das vezes, quando a pessoa quer ‘fugir’ de um sentimento ruim despertado por uma situação difícil que ela não consegue resolver

  • Por Camila Magalhães
  • 07/07/2021 09h00
Jake Schumacher/Unsplash Homem jogando um jogo. Não dá para distinguir o rosto dele porque as luzes são escuras e verdes. No computador, duas telas, uma com conversas e otura com personagens de anime Transtornos de Hábitos e Impulsos inclui o jogar patológico

Às vezes, quando estamos ocupados com uma tarefa difícil ou entediante, dá aquela vontade de ignorar e fazer alguma coisa mais prazerosa. Quem nunca passou horas “maratonando” séries no Netflix quando deveria estar estudando para uma prova, por exemplo? Quando falei sobre fake news, expliquei que nosso cérebro aciona alguns “mecanismos” para nos “poupar” de sentimentos ruins, como a angústia e o tédio. Mas, quando estamos nos divertindo, nosso cérebro aciona um circuito de recompensa. Funciona mais ou menos assim: algumas situações ou comportamentos aumentam os níveis de um “mensageiro” químico do Sistema Nervoso Central chamado dopamina, que está ligado à motivação e recompensa. Com isso, passamos a associar aquela situação ou comportamento à sensação de prazer e bem-estar. Conhecendo esses dois mecanismos do cérebro fica mais fácil entender porque quando estamos entediados ou tristes, sentimos o impulso de fazer alguma coisa que sabemos que nos trará a sensação de bem-estar. E vamos combinar que certos impulsos são difíceis de controlar, né? Para algumas pessoas, que são mais sensíveis às “recompensas” que o cérebro dá, é mais difícil ainda.

É o caso dos Transtornos de Hábitos e Impulsos, que inclui o jogar patológico, condição na qual a pessoa pode apresentar sintomas semelhantes aos de quadros como alcoolismo e dependência. O ato de jogar ativa tão intensamente o sistema de recompensa do cérebro que a pessoa pode sentir sintomas de abstinência — como suor, tremedeira e irritação – quando não está jogando. Além disso, conforme o transtorno se agrava, a pessoa precisa jogar cada vez mais para atingir o mesmo nível de prazer. Com isso, a pessoa acaba endividada e aprofundando problemas que podem estar, inclusive, entre as causas do transtorno. O comportamento de jogar patológico surge, na maioria das vezes, quando a pessoa quer “fugir” de um sentimento ruim despertado por uma situação difícil que ela não consegue resolver. A perda de um ente querido, ser demitido, alguma limitação física… São processos que demandam muita “energia” emocional para serem superados. E, às vezes, a pessoa não “dá conta” de lidar com a dor despertada por eles. Mas algumas “chatices” da vida são inevitáveis e, por mais que a gente consiga fugir delas por um tempo, uma hora ou outra teremos que resolvê-las. É importante ter em mente que você não precisa passar por isso sozinho. Às vezes, só de conversar e dividir o problema com outra pessoa já ajuda a ver as coisas de uma perspectiva diferente e encontrar novas formas de encarar a vida. Quer sugerir algum tema? Escreve para mim: @dra.camilamagalhaes.

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